quarta-feira, 30 de julho de 2008

Lula sobre Dilma: 'Tratem bem a minha candidata'


Pedido foi feito pelo Presidente a convidados de jantar em Salvador; ministra é elogiada em solenidade

Em um jantar, anteontem, em Salvador, o Presidente Lula voltou a sinalizar a preferência pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como pré-candidata para sua sucessão em 2010. O jantar foi no Palácio de Ondina, sede do governo do Estado, e terminou com Lula fazendo aos convidados presentes um pedido especial: “Tratem bem a minha candidata.”

Estavam no jantar, além de Lula, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), os ministros da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel (PT), e da Educação, Fernando Haddad (PT), entre outros.

Depois do recado presidencial, ontem o ministro Lobão aproveitou a solenidade de inauguração da Petrobrás Biocombustíveis, em Candeias, para fazer rasgados elogios a Dilma. Na avaliação do ministro, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) “só faz o sucesso que faz” porque tem “uma gerente como a ministra Dilma para administrá-lo”.

Dilma foi muito aplaudida, sempre que teve o nome citado pelo presidente e os colegas ministros, nas três solenidades realizadas em Candeias e Salvador. Ao transformar a Secretaria de Pesca em ministério , Lula disse que só foi possível aprontar a medida provisória com a mudança administrativa graças “ao empenho dela”, a ministra-chefe da Casa Civil. Aplaudidos, o ministro Altemir Gregolin e Dilma festejaram levantando os braços para a platéia.

A pouco mais de dois meses para as eleições municipais, atendendo a pedido de Lula, nenhum dos candidatos à Prefeitura de Salvador esteve presente às cerimônias de ontem na Bahia. Mas o nome de João Henrique, do PMDB, candidato à reeleição, apoiado por Geddel, foi lembrado em discursos na cerimônia de lançamento do plano da pesca.

Apesar de Lula ter deixado claro na última reunião de coordenação política, anteontem, que não quer manifestações eleitorais durante solenidade de atos administrativos, o militante petista Humberto Jesus da Silva conseguiu driblar a recomendação. Sem ser importunado pela segurança e pelo cerimonial, ele montou ontem, dentro da sede da Petrobrás Biocombustíveis, que estava sendo inaugurada, uma banquinha para vender buttons e camisetas do PT.

Humberto disse que “sempre faz isso, por conta própria”, quando está por perto e sabe da agenda do presidente Lula. Disse que não pediu autorização, “nem à Petrobrás, nem a ninguém”, para montar a banca. Ele só foi convidado a deixar o prédio da Petrobrás depois de posar para fotos com seu “material de campanha” e de ter pendurado as camisetas na grade da entrada das autoridades para a solenidade presidida por Lula. Humberto teve de ir para o estacionamento, fora da empresa.

Em Salvador, Lula e Dilma domina


Em Salvador, capital em que o Presidente Lula teve o maior percentual de votos em 1998 (55,4%) e em 2002 (89,3%), e o segundo maior percentual em 2006 (84,8%), quem mais lucrou com sua maratona de eventos ontem foi Dilma Roussef, ministra da Casa Civil. Enquanto os candidatos a prefeito ficaram acuados pela fiscalização da Justiça eleitoral, Dilma foi, depois do Presidente, a figura mais aplaudida por onde passou.

Em Candeias, a 50 km da capital baiana, a ministra fez tanto sucesso com a platéia, quanto a nova fábrica de biodiesel da Petrobras, inaugurada ontem por Lula. Penúltima autoridade a ser chamada ao palco, recebeu calorosos aplausos ao entrar e a cada vez que era citada nos discursos de outras autoridades. Ao longo dos dez minutos em que falou sobre a importância do biodiesel, a ministra foi interrompida quatro vezes pelas palmas da platéia.

Na sua vez de discursar, Dilma, que estava sentada ao lado direito de Lula, cumprimentou todos os presentes, inclusive a imprensa. Ressaltou que a construção da usina de biodiesel da Petrobras só foi possível devido à união de visão e vontade política do governo Lula.

No evento seguinte, onde o Presidente participou da entrega de diplomas a alunos do programa estadual Todos pela Educação (Topa), Dilma foi novamente a segunda mais festejada pelos presentes, ficando atrás apenas de Lula.

A bateria de compromissos terminou no fim da tarde, no bairro da Ribeira, em um palco montado à beira-mar para o anúncio do "Mais pesca e aqüicultura". Quem aproveitou para pegar carona dessa vez seguir à risca a idéia de colar sua candidatura à imagem do presidente foi o candidato do PT à prefeitura de Salvador, deputado federal Walter Pinheiro. Mesmo sem ter ido ao evento, ele se fez presente em folhetos, grandes bandeiras e balões com que estampavam: "Wagner é Pinheiro" e "Lula é Pinheiro".

O terceiro colocado na disputa, com 19% dos votos, João Henrique Carneiro, atual prefeito pelo PMDB, não deu as caras. João Henrique também tem feito de tudo para ficar atrelado a Lula, pelo uso de símbolos com letras e cores que lembram a logomarca do governo federal e o slogan "Força do Brasil em Salvador".

terça-feira, 29 de julho de 2008

Dilma convoca Petrobras


O Presidente Lula a pediu a ministra Dilma Roussef (Casa Civil) para agendar uma reunião com a Petrobras a fim de tratar especificamente da ampliação da produção de fertilizantes. Lula se convenceu que a medida será importante tanto para ajudar a conter a inflação interna, como também deverá situar o país numa posição privilegiada diante da crise mundial no mercado de alimentos.

Em conversa com Marcelo Déda, seu compadre governador de Sergipe, Lula disse acreditar que a inflação dos alimentos "é uma janela de oportunidade que se abre para o Brasil".

Segundo o Presidente, o país não só é grande produtor, como tem área para a expansão da produção agrícola. Mas precisa resolver com urgência um dos gargalos para esse aumento de produção: a dependência externa de fertilizante. O Brasil importa 70% do que atualmente consome.

A ampliação da produção de fertilizantes é o que levou Déda a Lula. É que Sergipe responde hoje por 48% da produção nacional de uréia (matéria prima para a fabricação de adubos), com 600 mil toneladas/ano da produção nacional de 1,7 milhão de tonelada ano.

A simples ampliação da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN-SE), uma unidade da Petrobras, significará mais 1,1 milhão de tonelada/ano à produção. Ou seja, uma produção total de 1,7 milhão de toneladas anuais.

Déda saiu na frente e vendeu seu peixe a Lula :

"A Petrobras tem aqui essa fábrica, com todas as condições, mais moderna que a da Bahia, à beira da rodovia BR-101, à beira da ferrovia Centro-Atlântica, que pertence à Vale, a 20 quilômetros aproximadamente de uma mina de potássio que é a única do Brasil (na realidade, do hemisfério Sul), que é da Vale, tudo a 15 quilômetros do porto, aproximadamente".

"Enfim, é uma possibilidade concreta de você parar esse debate retórico e começar na prática o aumento de produção a partir de uma situação já consolidada", diz o governador petista.

Como se trata de ampliar fábrica já existente, o projeto previsto representa economia de 20% em relação à construção de uma unidade nova. Ainda assim não é pouca coisa: US$ 1,2 bilhão (uma planta novinha em folha sairia por US$ 1,5 bilhão). É muito dinheiro, mas além dos 20% o governador Déda enumera outras vantagens.

"Eu disse ao presidente que o passo inicial tem que ser aqui, porque nós temos uma fábrica já implantada", contou Déda.

Déda sai na frente na guerra dos alimentos

Numa tradução ao pé da letra, isso significa dizer que não há problema de "autorização ambiental, já existem o terreno para a ampliação e toda a logística em torno da fábrica, mão de obra qualificada disponível e gerência" . Em resumo, para Déda "a melhor alternativa para deflagrar esse processo de priorizar a produção de fertilizantes no Brasil é duplicar essa fábrica".

Lula ouviu os argumentos e conversou sobre o assunto com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. A ampliação da FAFEN-SE também deve constar da pauta da reunião organizada por Dilma Roussef.

Em Sergipe a Vale também tem um projeto piloto para a produção de potássio, a partir de 2016. O potássio hoje é extraído de uma rocha chamada cloreto de potássio, ou seja, cloro e potássio. Depois de um processo de separação, o cloreto é jogado ao mar - sua utilização levaria à quebra dos produtores de sal do país, mas no futuro pode ser utilizado para outra finalidade.

Com o esgotamento do cloreto de potássio em 2016, a Vale vai explorar uma ocorrência de potássio associada ao magnésio. A companhia está investindo em tecnologia US$ 83 milhões num projeto piloto, a céu aberto - a mina está 500 metros de profundidade. O investimento total a ser feito pela Vale é estimado em cerca de R$ 800 milhões . A jazida que tem previsão de 40 anos de produção. A produção inicial prevista é de 1 milhão de tonelada ao ano.

"Nós acreditamos que a solução - começar por Sergipe - é talvez aquela com a melhor relação custo-benefício", diz Déda.

Mas há um gargalo a ser resolvido: o gás, matéria prima necessária tanto à FAFEN-SE como à Vale. A idéia é levar mais gás para o Nordeste, de um campo já em operação na Bahia, ou do próprio Gasene, gasoduto que vai interligar toda a região. O que reduziria em cinco anos o prazo de ampliação da fábrica.

República de Ribeirão

Após anos de domínio petista, o Democratas mostra os dentes no terreno do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Pesquisa encomendada por uma associada da TV Globo local apresenta a candidata Dácyr Vera , do antigo PFL, com 54% das intenções de voto.

O atual prefeito, um tucano, está em segundo, mas muito atrás, com 12% das intenções declaradas por 602 eleitores ouvidos pelo instituto de pesquisa. A margem de erro da pesquisa é de 4%.

O PT aparece na rabeira, com um dígito. O DEM sabe que as primeiras pesquisas de uma eleição nem sempre se reproduzirão no final, mas está contente com o resultado

Mas isso não chega a ser um alívio para a situação de Gilberto Kassab em São Paulo. O partido acha que deu tudo ao prefeito - tirou Guilherme Afif da jogada, José Serra manteve os secretários e levou Orestes Quércia para a campanha, mas o prefeito não está ajudando

sábado, 26 de julho de 2008

Dilma anuncia duplicação de rodovia até porto gaúcho


A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou ontem à noite que o governo federal fará a duplicação da BR 392 no trecho entre Pelotas e Rio Grande, no sul gaúcho. Em fevereiro, a ministra já havia dito que o governo desejava fazer a obra, mas a decisão dependia de estudo técnico, já que a estrada é uma concessão à iniciativa privada. A duplicação da rodovia não está entre as exigências do contrato de concessão, que prevê basicamente obras de restauração, lembrou Dilma.

Ela aproveitou seu discurso ontem na cerimônia de posse da diretoria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) para fazer o anúncio, citando que a obra vai beneficiar o pólo naval de Rio Grande e favorecer a expansão do porto da cidade, que deve se tornar um dos maiores do País na operação de contêineres.

"Vai haver uma grande expansão na metade sul (do RS), seja em razão do porto, seja do pólo naval", previu Dilma, dizendo que as estradas que chegam ao complexo portuário têm um gargalo na BR 392. Ela ressaltou que a duplicação não tem relação com o contrato de concessão e a obra não é objeto de pedágio. O concessionário, informou Dilma, manifestou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que não tem intenção de criar obstáculos à obra.

Sobre o pólo naval, Dilma afirmou que o País precisa desenvolver uma indústria de fornecimento para plataformas, navios e para o atendimento das encomendas que serão feitas pela Petrobras na exploração das reservas de petróleo da camada pré-sal. Conforme Dilma, a Petrobras prevê investir R$ 74 bilhões em 2009 sem os recursos para o pré-sal. Com o pré-sal, o volume de investimento pode chegar à faixa de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões, citou a ministra, sem especificar prazos de aplicação. A BR 386, que liga Porto Alegre a Lajeado (RS), também ganhará projeto executivo para sua ampliação, que deve ficar pronto em janeiro de 2009, informou Dilma.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

A PF avisa; Hoje tem força tarefa


Cerca de 50 pessoas iniciam hoje uma força-tarefa para analisar o material recolhido pela Polícia Federal (PF) nas 58 ações de busca e apreensão da Operação Satiagraha, que tem como alvo principal o banqueiro Daniel Dantas. A equipe conta com agentes da PF e procuradores do Ministério Público Federal (MPF), além de funcionários da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Receita Federal, do Banco Central (BC) e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O esforço começa no primeiro dia útil sem a participação do delegado que comandava as investigações, Protógenes Queiroz.

Reunião vai discutir saída de delegado e férias de juiz

Detalhes da força-tarefa, uma das maiores já feitas no Brasil, serão discutidos hoje, em reunião entre o MPF, a Justiça Federal e PF. O assunto da reunião é a substituição do delegado, que deixou a operação na última sexta, e a do juiz da 6ª Vara Criminal Federal, Fausto De Sanctis, que entrou de férias. Protógenes será substituído pelo chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros de São Paulo, Ricardo Saadi, e no lugar do juiz ficará Márcio Rached Milani.

Depois de ser acusada pelo delegado de não fornecer recursos humanos e materiais suficientes para o bom andamento da investigação, a cúpula da PF vai disponibilizar 20 pessoas, entre agentes e técnicos. A ordem partiu do próprio presidente Lula, que não quer ser acusado de barrar a investigação contra o banqueiro.

- Convidamos o delegado Protógenes e convocamos os outros dois, Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pelegrini Magro. Precisamos colocar um ponto final nisso - afirmou o presidente do Sindicato dos Delegados da PF em São Paulo, Amaury Portugal.

Segundo ele, a idéia é esclarecer para toda a corporação o que ocorreu na reunião da segunda-feira da semana passada, quando foi decidido o afastamento de Protógenes. As notícias de seu afastamento repercutiram negativamente entre os mais de 500 delegados da PF de São Paulo.

Envolvimento de senador pode levar inquérito ao STF

O destino do trâmite da Operação Satiagraha deverá ser traçado nesta semana. Hoje, os advogados do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que obtiveram direito a examinar uma cópia dos autos, vão verificar se o parlamentar é tratado como suspeito ou simplesmente citado. Se a primeira opção for comprovada, a defesa pedirá a transferência do inquérito para o Supremo Tribunal Federal (STF), considerado o foro indicado para investigar e julgar parlamentares.

O eventual pedido será levado ao ministro Cezar Peluso, que está substituindo Gilmar Mendes na presidência do STF até o fim do mês, já que o titular entrou de férias. Se Peluso concordar que Heráclito é mesmo investigado no caso, determinará a transferência do inquérito ao tribunal. Com isso, o caso sairá das mãos da 6ª Vara Criminal Federal. No início de julho, com a deflagração da operação, De Sanctis autorizou a prisão dos suspeitos de integrar o esquema - entre eles, Dantas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o investidor Naji Nahas.

Ontem, o senador do DEM disse que não deu qualquer recomendação específica a seus advogados. Mas Heráclito ponderou que, se for mesmo alvo da operação, fará questão de ver o caso transferido para o STF:

- Minha instância é o Supremo, é a única que eu tenho, tem que ser essa. Eu não tenho opção. Mas vamos ver primeiro o conteúdo, eu não posso ser precipitado nisso.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que está em Londres, demonstrou preocupação com a possibilidade de transferência do inquérito da Satiagraha para o STF. Para ele, o foro privilegiado muitas vezes é sinônimo de impunidade a poderosos. Até porque, diz Simon, foro privilegiado já beneficiou Dantas, apontado por Protógenes como "chefe da quadrilha" e, duas vezes, retirado da prisão por habeas corpus despachados pelo presidente do STF:

- Eu fico muito preocupado com esse eventual deslocamento jurídico, porque os grampos da polícia já mostravam que Dantas tinha muito medo da Polícia Federal e do bravo juiz de São Paulo, e confiava muito nas facilidades dos tribunais superiores.

domingo, 20 de julho de 2008

O Juiz


A colunista da Folha Mônica Bergamo, acompanhou um dia (tenso) do juiz Fausto Martin Sanctis, que já mandou prender o megatraficante Juan Carlos Abadía e os banqueiros Edemar Cid Ferreira e Daniel Dantas. Leia a seguir o que ela viu

Duas leituras absorveram o juiz Fausto Martin de Sanctis nos últimos meses: as mais de mil páginas do inquérito sobre os crimes de evasão de divisas, gestão fraudulenta, corrupção e formação de quadrilha imputados ao banqueiro Daniel Dantas; e "Florilégio" - livro sobre a vida de São Francisco de Assis. "Eu quis conhecer a história de uma pessoa abonada que se despiu totalmente e foi professar aquilo em que acreditava, em confronto até com o seu pai", diz De Sanctis.

São 10h30 de quarta, 16, e De Sanctis começa um dos dias mais tensos de uma rotina profissional já cheia de confrontos no comando da 6ª Vara Criminal de SP. "Tem muita coisa acontecendo aqui hoje", diz ele. "Olha... tá difícil. Hoje, tá difícil!", afirma. O promotor Rodrigo De Grandis o aguarda. Delegados telefonam. Advogados lotam o corredor. Todos querem informações sobre a Operação Satiagraha, que prendeu Dantas, Naji Nahas e mais 15 pessoas na semana anterior. Logo mais, o juiz transformará Dantas em réu por tentar corromper um delegado. Logo mais, os advogados do banqueiro pedirão que o juiz se afaste do caso "pela falta de isenção, pelas entrevistas que deu, pelas declarações que formulou".

Outros advogados já pediram -até agora, sem sucesso - o afastamento dele de processos. Foi assim no caso de Edemar Cid Ferreira, do Banco Santos, que ele mandou prender. Foi assim na investigação da parceria MSI/Corinthians, em que decretou a prisão do russo Boris Berezovski. "Sabedoras da jurisprudência das cortes superiores [que muitas vezes revertem a decisão da primeira instância], as pessoas vêm aqui desrespeitar o juiz. Olha, eu vou te contar... Já veio até um advogado me prender!" O tal advogado publicava em um site dados de um inquérito sigiloso. Foi impedido de consultar os autos. "Ele apareceu aqui e disse para a secretária: "Eu vim prender o doutor Sanctis". A sorte é que eu estava de férias."

"Tem que acabar esse tipo de advocacia", diz Sanctis. "Te contei que teve um advogado que me chamou de burro?". Isso porque o juiz escreveu num despacho que determinada iniciativa "não visa a busca de prova" - sem crase. Escreveu o advogado: "Doutor em direito, o juiz Fausto não sabe que o verbo visar é transitivo indireto". Respondeu o juiz: "Agradeço a grande contribuição para o aperfeiçoamento de meu linguajar. Mas, pelos dicionários "Aurélio", "Michaelis" e "Houaiss", o verbo visar é indireto e direto também". "Eles querem provocar a emoção para depois pedir minha suspeição. É assim o tempo todo." [No caso, o verbo pedia crase.]

A assistente chega, cochicha com ele. O juiz sai para a audiência na sala ao lado. No corredor da 6ª Vara, mais de dez advogados aguardam, há duas horas, por seu chamado. Circulam, falam ao celular."Não tem cadeira pra gente sentar, não tem nada. É um esculacho!", reclama um deles. Um grupo se junta em torno do bebedouro. "Cuidado! Vamos ser presos por formação de quadrilha para roubar água!", diz outro. "É um absurdo! O juiz tem que despachar de porta aberta. Mas, se a gente entrar lá, ele nos prende por invasão", reclama um terceiro. E outro: "É um mau-caráter, arbitrário, justiceiro".

As portas se abrem. Alguns advogados entram. Sorriem para o juiz. "Doutor, parabéns pelo seu trabalho."


"Eu não sou autoritário. Sou autoridade judicial", diz Sanctis. Sem almoçar -já são 16h- ele conta que até dividiu um queijo quente com um réu na audiência porque ele também estava "morto de fome". Sob fogo cruzado desde que mandou prender novamente Dantas depois que o STF mandara soltá-lo, o juiz tem sido acusado de não ter lá grande apreço pela defesa. "Isso não é verdade. O direito de defesa é basilar e consagrado em todo e qualquer país. Quantas buscas, quantas prisões já indeferi? Quantas pessoas já inocentei?" Só no processo do Banco Santos, afirma, foram 13 absolvidos e dez condenados. "Mas, se prezo o direito de defesa, prezo também o direito do Estado de investigar e apurar a verdade."

A assistente entra na sala. Cochicha. O juiz, que acabara de transformar Dantas em réu por tentativa de corromper um delegado, recebe a notícia de que os advogados do banqueiro oficializaram o pedido para que saia do caso. "Eu não abaixo a cabeça! Querem me tirar daqui? Podem me tirar. Mas vou sair com dignidade." Com os olhos marejados, leva uma das mãos ao rosto: "Em que país a gente vive?! É muito triste, meu Deus... é muito triste." O telefone toca. "Não, eu não vou dar entrevista coletiva. Cuidado! Estão querendo é dizer que quero aparecer." Desliga. "É uma guerra. Às vezes, eu me pergunto: vale a pena? Estou decepcionado! Nosso sistema foi concebido para não funcionar." É justamente a sua vontade de que as coisas "funcionem", "não para condenar, mas em busca da verdade real", diz, que gera tantos atritos com alguns advogados. "Eu sou um juiz ativo. Eu vou atrás."

Há dois anos, por exemplo, ele determinou a transferência de obras de Edemar Cid Ferreira para o Memorial da América Latina. "Elas estavam num galpão, contaminadas por fungo! Liguei desesperadamente para o Memorial da América Latina. Me pediram um mês de prazo." Sem ter onde colocar as peças, o juiz andou "sala por sala" dos 17 andares do prédio da Justiça Federal, na região da avenida Paulista, em busca de um local para abrigá-las. "Não encontrava. Pensei: onde ficam os computadores? No subsolo. Lá tem ar-condicionado! Não quis nem saber: determinei judicialmente a transferência imediata das obras para o prédio. Elas depois foram para o Memorial. E hoje estão lá, para todo mundo ver."

De Sanctis procura um documento sobre a mesa, onde 34 livros se misturam com pastas e papéis. Olha para a colunista, leva a mão ao peito. "Olha, obrigado pela força. Humildemente, eu agradeço. Estão me criticando só porque faço meu trabalho de juiz. Eu já não sei mais se dou entrevista, se não dou entrevista. Dizem que quero aparecer. Mas eu não falo de mim. Nem de casos concretos. Eu só gostaria encarecidamente que a imprensa retratasse a relevância do que ocorre aqui."

Por razões de segurança, Sanctis diz estar "proibido de falar até da família". Conta o básico: passou a infância na Mooca. Estudou em escola pública. Fez direito na FMU e doutorado na USP. O pai era funcionário público; a mãe, dona-de-casa. Tem três irmãs. Já foi casado. Está solteiro.

Gosta de ir a parques, de andar de bicicleta. Fez um curso recentemente sobre a Bíblia na Casa do Saber. Tem preguiça de ver filmes. Diz que, atualmente, só trabalha -na 6ª Vara, especializada em crimes financeiros, tramitam 500 ações penais e mil inquéritos. "Vão dizer que me dedico demais, que sou um apaixonado, que não tenho equilíbrio. Tudo é argumento contra mim. Tudo!" Despacha numa pequena sala com carpetes cinzas, paredes beges, cadeiras pretas, um ventilador e as bandeiras de SP e do Brasil. Acha a vista "linda", mas mantém as persianas sempre fechadas porque alguém pode filmá-lo de prédios vizinhos.

No fim do expediente, aceitou o convite de um conhecido que jantava com amigos -entre outros, os apresentadores Amaury Jr. e Maria Cândida- no restaurante A Figueira. Na entrada, é abordado pelas pessoas, que querem tirar fotos. Um homem se aproxima. "O senhor se lembra de mim?" Silêncio. "Eu sou um dos réus do caso do Banco Santos." Tensão. O homem completa: "Fui absolvido pelo senhor". Os dois trocam cartões. E cada um vai para a sua mesa de jantar.

Frases
"Eu não abaixo a cabeça! Eu não abaixo a cabeça! Querem me tirar daqui? Podem me tirar. Mas vou sair com dignidadde."

"É uma guerra. Às vezes eu me pergunto: vale a pena? Estou decepcionado! Nosso sistema foi concebido para não funcionar"

sábado, 19 de julho de 2008

De dentro das celas, três candidatos a prefeito tentam ganhar votos



Na cidade de Mariana, em Minas Gerais, dois candidatos polarizam a disputa pela sucessão municipal: Francisco Assis Carneiro (PMN) e Terezinha Ramos (PTB). O primeiro, conhecido como “Chico da Farmácia”, é bastante conhecido pelo eleitorado. O mesmo não se pode dizer de Terezinha. Ela é viúva de João Ramos, esse, sim, um ex-prefeito bem popular, assassinado em 15 de maio. Chico da Farmácia é o principal acusado pelo crime. É curioso que uma viúva dispute votos com o suspeito de ter matado seu marido, mas, em razão do que prevê a legislação eleitoral brasileira, a disputa em Mariana se torna ainda mais polêmica. Chico da Farmácia está na cadeia desde 31 de maio e mesmo assim conseguiu registrar sua candidatura. De trás das grades ele traça os planos para colocar a campanha na rua e já contratou marqueteiro.

Milton Serafim (PTB), candidato à Prefeitura de Vinhedo, no interior paulista, já foi duas vezes prefeito. Foi eleito em 1996 e reeleito em 2000. Durante suas gestões, foi acusado de ter recebido propinas em troca da aprovação de loteamentos na cidade e responde a dois processos. Um deles é civil e nesse já foi condenado por improbidade administrativa pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em decisão ainda passível de recurso. O outro processo é criminal. Nele, Serafim é acusado de formação de quadrilha e concussão (a corrupção praticada por funcionário público).

É por causa desse processo que o candidato está preso preventivamente desde 4 de julho. “Os diretórios municipal e estadual do PTB apóiam Serafim incondicionalmente”, diz Jaime Cruz, candidato a vice-prefeito pelo PV. Apesar da propalada força política, o promotor Osias Daudt espera impedir que Serafim dispute votos. Na terça- feira 15, ele entrou com um pedido de impugnação da candidatura no Tribunal Regional Eleitoral.

Em Alagoas também há um candidato a prefeito que pede votos mesmo estando preso. Trata-se de Luiz Carlos Costa (PRB), que pretende governar o município de Delmiro Gouveia. Como é hipertenso, ele não está na cadeia e sim em uma cela improvisada no Hospital dos Usineiros, em Maceió. Costa, conhecido como “Lula Cabeleira”, é acusado de tramar a morte do vereador Fernando Aldo, em outubro de 2007. “Durante a campanha todos saberão que ele é inocente”, promete Ziane Costa, filha de Lula Cabeleira e candidata a vice do pai. Pode até ser que Costa seja inocente no caso da morte do vereador, mas da acusação de nepotismo será difícil escapar, caso seja eleito levando sua filha como vice.

Casos como esses só são possíveis porque a legislação brasileira não impede a candidatura daqueles que tenham problemas com a Justiça, a não ser que o cidadão tenha sido condenado criminalmente em última instância. A legislação vem sendo duramente criticada, inclusive pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Ayres Brito. Mas qualquer mudança precisa ser feita pelo Congresso e, também lá, muitos estão com problemas judiciais. Enquanto isso não muda, cabe ao eleitor fazer o juízo final. Em alguns casos, é grande o risco de se votar em alguém e acabar elegendo o vice para tomar conta da cidade. Com informações daIsto é

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Brasil é a 'menina bonita' da América Latina, diz jornal espanhol El País


- O jornal espanhol El País diz em uma reportagem na sua edição desta sexta-feira que "não resta dúvida" de que o Brasil "é a menina bonita da América Latina".

"Seu crescimento econômico superou inclusive os objetivos estabelecidos pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC): 5,4% (crescimento registrado em 2007), quase dois pontos acima da média dos últimos anos", afirma o diário espanhol.

"A gestão de Lula, contra todos os prognósticos, soube conjugar a solução para os problemas sociais com uma estabilidade macroeconômica que é exemplo que tem sido seguido por muitos outros países da região", disse ao jornal o economista José Manuel Martínez.

A reportagem, intitulada A América Latina está vacinada contra a crise?, destaca que a região vem enfrentando o "tsunami econômico" em ótimas condições, graças ao crescimento dos últimos cinco anos.

"Saber fazer os deveres de casa foi o primeiro obstáculo superado", diz o diário espanhol.

"Ou seja, a América Latina aprendeu com os erros do passado: antes a dependência do capital estrangeiro era crucial para o sustento dos países, qualquer susto afastava os investidores. Hoje, com uma crise sujo epicentro é o mundo desenvolvido, a situação é outra."

Liderança brasileira

O jornal ainda cita que a postura firme dos bancos centrais da região também foi essencial para encarar esta época de incertezas.

"Eles não esperaram para ver o que estava acontecendo nos mercados europeus. Brasil, Chile e México são claros exemplos de países em que, apesar dos altos e baixos, prevalece uma estabilidade macroeconômica".

O texto ainda destaca que as eleições ocorridas em oito países da região em 2006 também influenciaram para o atual situação econômica privilegiada.

"Se em termos políticos podemos falar em uma guinada para a esquerda na América Latina, o que na verdade deu frutos foi uma política econômica mais própria de uma esquerda pragmática, que tem sua principal liderança no governo brasileiro de Lula".

O jornal alerta, no entanto, que a região "agüenta as investidas do tsunami econômico enquanto fica de olho inflação, perigo que já desponta no horizonte e representa o maior risco para os países".

"Nem o Brasil deve conseguir fugir da raia", afirma o El País.

"A economia que melhor tem se comportado nos últimos anos, com a moeda mais forte, viu como a inflação de converteu em um problema central: em março bateu 4,7%, levando ao aumento dos juros e rompendo um ciclo e três anos de baixas contínuas." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. da BBC.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Gilmar Mendes foi se explicar com Lula e Tarso


O Presidente Lula, se reuniu na noite desta terça-feira, 15, no Palácio do Planalto, com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e com o ministro da Justiça, Tarso Genro.

A previsão era de que o presidente do STF, crítico das ações da Polícia Federal acompanhadas pela tevê, propusesse a Lula, na audiência, mudanças na legislação sobre abusos de poder. Mendes e Genro divergiram publicamente sobre a atuação da PF na Operação Satiagraha.

Pressionado, delegado deixa comando da operação Satiagraha


Atacado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, e desprestigiado pelos superiores, que o acusam de excesso de individualismo, o delegado da Polícia Federal (PF) Protógenes Queiroz não resistiu às pressões e afastou-se do comando da Operação Satiagraha. A saída dele do caso foi acertada em uma reunião, na segunda à noite, na Superintendência da Polícia Federal (PF) em São Paulo, entre ele, o delegado Jáber Saadi - seu superior imediato - e o diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon Filho, emissário da Direção-Geral da PF, situada em Brasília.

A Direção da PF confirmou o afastamento de Protógenes, mas alegou que a saída foi "a pedido" do próprio delegado, e não uma punição em decorrência da sua suposta insubordinação. O substituto será designado provavelmente nesta quinta. Por meio da assessoria, a PF informou que desconhece a saída de dois auxiliares de Protógenes - os delegados Karina Marakemi Souza e Carlos Eduardo Pellegrini. A PF negou que haja uma rebelião na equipe que participou da Operação Satiagraha, responsável pela prisão do banqueiro Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Segundo a assessoria da PF, Protógenes alegou na reunião, que faz, desde março, o Curso Superior de Polícia a distância - e que, na próxima segunda-feira, começam as aulas presenciais, por 30 dias. De acordo com essa versão, Protógenes disse a Troncon que não deseja voltar a atuar no caso após concluir o curso e pediu que lhe sejam atribuídas novas funções.

Nos bastidores, porém, o delegado tem-se queixado de que vem sofrendo boicote sistemático na instituição desde que o atual diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, tomou posse no cargo, em setembro passado, no lugar do delegado Paulo Lacerda, que foi deslocado para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Acusado de não ter dado satisfações da operação aos superiores, de agir com excesso de individualismo e de recorrer irregularmente ao auxílio da Abin, entre outros "desvios", Protógenes é alvo de uma sindicância administrativa e uma representação na Corregedoria da PF, que lhe podem render desde advertência a remoção para um lugar remoto ou mesmo um processo de demissão.


Perfil

O delegado já havia atuado em outros escândalos de grande repercussão antes de comandar a operação Satiagraha, que prendeu, além de Dantas, o empresário Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

As investigações do caso Corinthians/MSI , por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, estiveram sob coordenação de Protógenes Queiroz, em parceria com a Promotoria de São Paulo. Os envolvidos nas fraudes da arbitragem do futebol Brasileiro, em 2005, foram investigados por ele e pelos promotores Roberto Porto e José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco.

O delegado também presidiu o inquérito sobre remessas para paraísos fiscais, que indicavam movimentações de cerca de US$ 5 milhões, das quais o ex-prefeito Pitta seria o principal beneficiário. O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) também foi investigado no mesmo inquérito.

Relatório elaborado por Protógenes fechou inquérito sobre desvio de dinheiro da Prefeitura de São Paulo, concluindo que "os cofres públicos foram pilhados" durante os governos de Maluf (1993-96) e Pitta (1997-2000).

Ele também participou do escândalo que prendeu o comerciante Law Kin Chong, considerado o maior contrabandista do País. Kin Chong estava disposto a pagar US$ 1,5 milhão ao presidente da CPI, deputado Luiz Antônio Medeiros (PL-SP) para obter favores, mas suas conversas foram registradas.


Com base nas gravações nas mãos, o deputado procurou o delegado federal Protógenes Queiroz e o procurador da República Pedro Barbosa Pereira Neto. Eles relataram o caso ao juiz federal Hélio Egydio, que decretou nas prisões preventivas de Law e do advogado.

Apagão deixa centro de SP sem energia


Parte da região central da cidade de São Paulo ficou sem energia entre as 4h09 e 4h38 desta terça-feira, 15, em conseqüência do desligamento de um transformador da subestação do Cambuci. Ficaram sem energia o entorno das regiões da Sé, Parque Dom Pedro, Várzea do Glicério e Cambuci.

Segundo a assessoria de imprensa da Eletropaulo, uma equipe da empresa foi até a subestação e religou o sistema. A causa do desligamento ainda está sendo apurada. Aparentemente, segundo os técnicos que estiveram no local, o transformador não sofreu nenhum dano.

Gilmar Mendes quer nova lei contra abuso de autoridade



...Para intimidar a PF

O ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), está convencido de que é preciso colocar um ponto final no abuso de autoridade que, na avaliação dele, tem caracterizado boa parte das operações deflagradas pela Polícia Federal. Hoje, o dirigente da instância maior do Judiciário deverá reunir-se com o Presidente Lula para tratar do tema da criação de uma nova legislação contra o abuso. A iniciativa do ministro vem no rastro da Operação Satiagraha, que na semana passada levou para a cadeia o sócio-fundador do grupo Opportunity, Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e outros 14 acusados de integrarem suposto esquema de desvio de recursos públicos, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Convencido de que as prisões são um abuso, Mendes decretou a soltura dos investigados e abriu intensa polêmica com magistrados de primeira instância e procuradores da República - ontem, eles fizeram ato de protesto em apoio ao juiz Fausto Martin De Sanctis, que havia ordenado a prisão de 24 alvos de Satiagraha.


O ministro busca apoio de Lula para fazer avançar uma proposta que iniba excessos por parte de agentes encarregados de missões amparadas por decisões judiciais. Recentemente, Mendes conversou uma primeira vez com o presidente sobre o tema. Ele contou a Lula sobre sua preocupação com os casos que, segundo o ministro, caracterizam abuso, incluindo histórias de vazamentos de informações protegidas pelo sigilo e o grande volume de interceptações telefônicas. Mendes anotou que, em muitos casos, as operações da PF - que classifica de "espetacularização" -, em parceria com o Ministério Público Federal, nem sequer rendem denúncia contra os investigados.

Há, de acordo com o ministro, vários exemplos que reforçam essa conclusão. Ele sustenta que, em muitos casos, o oferecimento de denúncia leva meses para ser apresentado. Citou a Operação Navalha, que pegou o empreiteiro Zuleido Veras, em 2007. "Há dificuldades na apresentação da denúncia", disse o ministro.

Jornais confundem banqueiro Daniel Dantas com ator


O jornal baiano Diário do Sul da Bahia e o italiano La Stampa se enganaram e publicaram, no sábado, fotos do ator global Daniel Dantas como sendo o banqueiro homônimo preso na Operação Satiagraha da Polícia Federal

O editor do jornal baiano chegou a escrever uma carta de reparação. Segundo o jornalista, que também chama-se Daniel, a culpa foi do diagramador que, ao escolher a foto, se confundiu "certamente por não ser dado a preocupações com economia e com o mundo das novelas".

"As pessoas brincam, perguntam: 'você não estava preso?'. Eu acho graça, mas fico um pouco preocupado com a falta de cuidado desses jornalistas. Ninguém é obrigado a me conhecer, mas um profissional da imprensa deveria saber que existem duas pessoas conhecidas e homônimas", afirmou o ator.

O ator disse não dar muita importância para o episódio do diário baiano, mas se afirmou preocupado com confusão feita pela publicação italiana. "Aqui no Brasil a gente ri, sei que isso não vai dar em nada. É capaz até que vire piada no 'Casseta & Planeta'. Mas, lá fora, eu não sei. Vou consultar meu advogado para saber que medidas posso tomar. Vai que um dia eu queira ir para a Itália e isso me traga problemas?", disse.

Para atacar o ministro Edson Vidigal, do STJ, e chamá-lo de "ladrão", Dantas ressuscita ACM



Quinze de novembro de 2007. Aniversário da proclamação da República do Brasil.

Oito e cinqüenta da manhã. Em conversa de 11 minutos e 21 segundos, Daniel Dantas, a diretora jurídica Danielle Ninnio e Bernardo Rodemburg - filho de sua irmã Verônica com Carlos Rodenburg - discutem a estratégia para enfrentamentos jurídicos e societários do Grupo Opportunity no exterior.

É preciso, em função da querela jurídico-comercial, desmoralizar um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Para tanto, invocam um morto, Antônio Carlos Magalhães, para atacar um vivo, o ex-ministro Edson Vidigal e ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Dois anos antes, em 15 de junho de 2005, Vidigal concedeu liminar que permitiu aos fundos de pensão e ao Citibank retomarem o controle da Brasil Telecom. Esta é a batalha a ser revista na manhã de 15 de novembro.

Em transcrição de escuta autorizada judicialmente - já em poder de advogados -, recheio da Operação Satiagraha, diz Daniel Dantas:

- (...) a decisão nossa foi de quebrar a caixa de ovos toda, tá? (...) ele perguntou o que é que o SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES disse de VIDIGAL? Disse que era ladrão... aí o cara não tá preparado pra ladrão, tá certo?

Ainda nesse rol de conversas, no mesmo dia 15.

Em diálogo anterior na mesma manhã, iniciado às 8h37 e com duração de 9 minutos e 12 segundos, Daniel e a irmã, Verônica, já haviam ressuscitado ACM para nele ir buscar a referência a Vidigal: "ladrão".

Daniel refere-se à "viadagem" - o estilo prolixo de um de seus advogados, Korologos, - e repete o que já dissera sobre Vidigal num depoimento:

- Verônica: E aí? Você deu nomes? Falou de VIDIGAL? Falou de tudo?

- Daniel: Eu não amarelo nada... Falei de tudo... que ANTONIO CARLOS... Ah! O que o Senador disse? Que era ladrão. Qual é o termo exato (em inglês)? Ladrão (em inglês). Não é o normal, e eu sustentei... ladrão, aí o cara... né?

- Verônica: O cara tomou um susto...



Leia aqui a íntegra do telefonema.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Uma investigação explosiva



Como a operação da PF, que levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, desencadeou uma crise institucional, dividiu a Justiça e desembocou num jogo de ameaças que ainda está longe de terminar

O banqueiro Daniel Valente Dantas, dono do Opportunity, usou um celular internacional para chamar o investidor Naji Robert Nahas às 9 horas, 31 minutos e 25 segundos do dia 13 de maio. Perguntou onde Nahas se encontrava. Ao saber que era em São Paulo, avisou que no dia seguinte o investidor seria procurado por um emissário seu. "Vou pedir para te procurar aí, tá bom?", disse Dantas. O banqueiro imaginava que estivesse protegido de monitoramento: um telefone móvel com número de outro país, uma conversa de poucos segundos e uma reunião à qual não estaria presente. A realidade, porém, era diferente. Às 11h30 do dia seguinte, quando o emissário de Dantas, Humberto José Rocha Braz, saiu do escritório de Nahas, estava sob a mira da Polícia Federal, que registrara a visita em fotografias. Dois meses depois, Dantas, Nahas e outras 17 pessoas foram presas pela Polícia Federal em uma ação desencadeada na terça-feira 8 em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Entre os presos estava o exprefeito de São Paulo Celso Pitta. Nos próximos dias, outro banqueiro famoso, Salvatore Cacciola, também deverá ser recolhido à carceragem da Polícia Federal: homens da instituição já viajaram rumo a Mônaco para trazê-lo de volta ao País.

Batizada como Operação Satiagraha, uma referência à expressão "firmeza na verdade", usada pelo líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), a ação da PF, conduzida pelo delegado Protógenes Queiroz, impressiona pelos seus números. Foi a primeira vez que se quebrou o sigilo bancário e fiscal completo de um banco e de todos os seus investidores, com a análise das informações armazenadas em disco rígido de 120 gigabytes do servidor do Banco Opportunity, apreendido em 2004, durante outra operação policial. Aos dados obtidos no disco rígido e em diligências realizadas nos últimos três anos, a Polícia Federal somou informações coletadas por meio de interceptação telefônica, ambiental e até telemática. Ou seja, grampeou inclusive trocas de e-mails de funcionários e diretores do banco e concluiu que Dantas e Nahas seriam os chefes de organizações distintas, "mas interligadas para cometimento de crimes". Desde a semana passada, os dois são formalmente acusados de formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. "As duas organizações envolvem uma engenharia financeira que pouco se viu", diz o procurador da República Rodrigo De Grandis.

De acordo com documentação enviada ao Supremo Tribunal Federal pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6a Vara Federal de São Paulo, especializada em crimes contra o sistema financeiro nacional o Opportunity de Dantas criou um fundo nas Ilhas Cayman para que residentes no Brasil e no Exterior aqui investissem sem a devida comunicação à Receita Federal e ao Banco Central. Nahas, por sua vez, teria criado uma espécie de sistema bancário paralelo, que possibilitava a lavagem de recursos de origem ilícita. Nahas é acusado ainda de especular com ações graças a informações privilegiadas, inclusive em relação ao megacampo de petróleo de Tupi. Uma semana antes do anúncio da descoberta do campo, o investidor, segundecido relatório da PF, pediu que o doleiro Miguel Jurno Neto comprasse "mais ações da Petrobras". Diante do alerta do doleiro de que as ações da companhia "estavam caindo", Nahas disse que era para fazer o que ele estava "mandando" e para "não comentar nada". Celso Pitta entrou na investigação como agente e beneficiário do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas montado por Nahas, a quem solicitava semanalmente "vultosas quantias" em dinheiro vivo.


Diante do noticiário da prisão de Dantas, a primeira reação coube a investidores do próprio Opportunity, que administra uma carteira de R$ 19 bilhões. O volume de retiradas diárias do fundo mais que dobrou esta semana. De dentro da cadeia, Dantas substituiu na direção do fundo seu diretor Dório Ferman, que estava na cela ao lado, pelo ex-diretor de Política Econômica do Banco Central Afonso Bevilaqua. Coube a Bevilaqua a missão de acalmar investidores.

Se o que a Polícia Federal identificou foi a montagem de um complexo esquema de procedimentos para mascarar investimentos e fugir do Fisco, o golpe mais duro para Dantas, porém, deuse em outra esfera. Depois de ser beneficiado por um habeas-corpus concedido pelo presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, o banqueiro ficou menos de 11 horas em liberdade na quintafeira 10. Livre da prisão provisória, Dantas acabou preso preventivamente pelo mesmo juiz Sanctis. A mudança na forma jurídica foi uma maneira que a polícia encontrou para contornar a decisão do Supremo e foi justificada com base no depoimento de um dos presos, Hugo Chicaroni. Ele é a pessoa que tentou corromper o delegado federal Vitor Hugo Rodrigues Alves Pereira, com o propósito de que ele intercedesse para livrar Dantas e sua irmã, Verônica, da investigação. Na casa de Chicaroni, a PF encontrou R$ 1,28 milhão em dinheiro vivo. No depoimento à polícia, ele disse ter sido contratado pelo Opportunity para subornar o delegado. Na busca e apreensão feita no apartamento de Dantas, no Rio, a PF encontrou um documento que serviu para embasar o segundo pedido de prisão. Intitulado "Contribuições para o Clube", fica evidenciado que, em 2004, o banqueiro pagou 1,5 milhão (não se sabe se em reais ou em dólares) a título de "contribuição para que um dos companheiros não fosse indiciado criminalmente". Assim, o juiz entendeu que manter Dantas em liberdade seria um risco à livre atuação da polícia e da Justiça.


ARAPUCA Agente da PF simula aceitar suborno de Hugo Chicaroni e Humberto Braz em restaurante de São Paulo. A polícia apreendeu R$ 1,28 milhão na casa de Chicaroni. À esq., Verônica Dantas, irmã de Daniel


Os desdobramentos dessa segunda prisão, encerrada no final da tarde da sexta-feira 11, por força de nova decisão do STF, agravaram o bate-boca institucional iniciado logo após a deflagração da operação. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, reclamou da "espetacularização" da PF e do uso de algemas em quem não oferecia perigo aos agentes. "O maior problema é que a operação pegou pessoas de destaque, que têm exacerbação do sentido de defesa", ironizou, imediatamente, o ministro da Justiça, Tarso Genro. "A PF não tem critério de classe. Se for feita uma lei dizendo que pobre pode ser algemado, jogado no camburão e exposto à execração pública, e rico não pode, a PF vai ter de cumprir, mas não comigo como ministro da Justiça", disse. No Vietnã, onde se encontrava na quinta-feira 10, o presidente fortaleceu essa atitude. Declarou, quase em tom de comemoração: "Andar na linha é o único jeito de escapar da PF." Com isso, acabou abrindo a guarda para quem viu nesse episódio uma perseguição a um desafeto do governo. Afinal, Lula ignorou a prudência demonstrada em casos anteriores, como o que envolveu os conhecidos aloprados petistas, os favorecidos pelo Mensalão e até o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti. Em todos esses casos, o presidente recomendava que seria necessário aguardar um julgamento final para não se cometer uma injustiça, enquanto corre o processo legal. O problema dessa nova reação está no risco de, sob a aparente euforia de novidade, que é a investigação de grandes banqueiros e empresários, se esconder uma máxima da velha República: "Aos inimigos, a lei.

O mais grave no que toca às entradas e saídas de Daniel Dantas da carceragem da PF é a crise institucional que se desenha dentro da própria Justiça. O presidente do Supremo Tribunal foi informado por um desembargador de São Paulo que teria sido monitorado pela Polícia Federal, a pedido do juiz Sanctis - o que foi negado por Tarso Genro. Entre o material levantado pelos policiais, haveria inclusive um vídeo mostrando assessores da presidência do STF conversando com advogados de Dantas - um procedimento corriqueiro no tribunal, mas que foi divulgado como indício de prática criminosa. O problema é que em qualquer escola de direito se aprende já no primeiro ano que a Justiça se faz com um tripé: a acusação, a defesa e o magistrado. Portanto, a não ser que se comprove a prática de crimes, é natural que procuradores, advogados, juízes e até ministros do STF conversem. Nos relatórios encaminhados à Justiça, a PF também menciona o fato de Dantas manter conversas com "jornalistas de sua confiança", nas quais seria "discutido o teor de reportagens". Também nesse caso, a não ser que o texto final incorra em crimes como calúnia, injúria ou difamação, trata-se de uma relação corriqueira. Jornalistas no exercício profissional procuram ter a confiança de suas fontes, sejam elas banqueiros, sejam empresários ou ainda delegados e procuradores. Em todos os casos, as fontes passam para os jornalistas os seus próprios pontos de vista - e cabe a eles verificar a única coisa que realmente conta nessa história: a veracidade das informações.

40 HORAS FORAGIDO
Carlos Rodenburg é acusado de lavar dinheiro com mineradora e agronegócios


Entre as 11 pessoas ligadas a Daniel Dantas que tiveram a prisão temporária decretada, um deles deixou de passar duas noites na cadeia porque não foi encontrado pela PF. Trata-se de Carlos Rodenburg, ex-cunhado e um dos mais próximos de Dantas. Foi o braço direito do banqueiro no Opportunity onde fazia contatos com políticos e com a mídia. Há cerca de cinco anos, criou a Fazenda Santa Bárbara e se tornou o maior pecuarista do Brasil, com freqüente participação nos leilões de elite de embriões. Conversas gravadas pela polícia apontam que ele e a exmulher Verônica usariam o fundo do Opportunity para lavar dinheiro a partir do agronegócio e de mineração. Na quinta-feira 10, foi favorecido por habeascorpus concedido pelo STF.


O tiroteio, na seqüência da rumorosa ação da PF, jogou ainda mais holofotes sobre a figura do banqueiro, que, embora agressivo nos negócios, é conhecido pela discrição na vida pessoal.Filho de um empresário do ramo têxtil na Bahia, Dantas começou sua ascensão meteórica nos anos 1980, quando chamou a atenção de um amigo poderoso de seu pai, o político Antônio Carlos Magalhães. Estimulado por ACM, estudou na Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, na qual se destacou como um dos mais brilhantes alunos do economista e ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen.
O relacionamento entre aluno e professor foi mais do que profícuo. Indicado por Simonsen, Dantas foi contratado para gerir a fortuna de Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, no então recém-criado Icatu. Estava vinculado à instituição quando, em 1990, quase se tornou ministro da Economia do então presidente eleito Fernando Collor de Mello, com quem se encontrou em Roma, na Itália. Nunca foi dele o plano de confisco feito por Collor, mas esse é um dos mitos da sua fama de gênio das finanças.
Em meados dos anos 1990, ao decidir pela carreira solo, criou o banco Opportunity, para onde levou duas figuras de peso: Elena Landau, antiga diretora do BNDES, e Pérsio Arida, que tinha sido presidente do Banco Central.
Com a ajuda de ambos, surfou na onda das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Logo no começo do governo Lula, Dantas se aproximou do então todo-poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu, mas ganhou a antipatia da equipe econômica e, mais especificamente, do ex-ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação Estratégica. Gushiken sempre quis que os fundos de pensão, em especial o Previ, do Banco do Brasil, controlassem a Brasil Telecom e isso o colocou em rota de colisão com Dantas.

CACCIOLA, O TROFÉU
Lula receberá os louros pela captura do responsável pelo maior rombo financeiro do governo FHC


EXTRADIÇÃO Operação secreta trará Cacciola de Mônaco para o Brasil
O esforço da Polícia Federal para prender Daniel Dantas pode até ser interpretado por alguns como resultado de uma orientação política do governo Lula. Afinal, além de ter sido um dos grandes players do processo de privitalização das teles no governo FHC, Dantas criou inimigos de peso no entorno lulista por conta da disputa do Opportunity com a Telecom Italia. Já a prisão do ex-banqueiro Salvatore Cacciola - que abalou a credibilidade do PlanoReal com uma operação fraudulenta para tentar salvar seus bancos - caiu por acaso no colo do governo Lula. Com isso, o presidente Lula ficará com o troféu nada desprezível de "prender" o responsável pelo maior escândalo financeiro do governo anterior.
A operação de Cacciola junto ao BC para comprar dólares a câmbio favorável para salvar seus bancos Marka e FonteCindan depois da desvalorização do real, em 1999, provocou a demissão e a posterior condenação do então diretor do Banco Central, Francisco Lopes. O prejuízo aos cofres públicos foi de R$ 1,57 bilhão. Cacciola foi preso em 2000, mas ficaria apenas 37 dias na prisão: libertado por força de um habeas corpus concedido pelo STF, fugiu para a Itália. Em 2005, o ex-banqueiro foi condenado a 13 anos de prisão por peculato e gestão fraudulenta. Cacciola vivia tranqüilo na Itália, onde, por ter dupla nacionalidade, não podia ser alcançado por um pedido de extradição do Brasil. A sensação de impunidade o levou a passear um fim de semana em Mônaco. Ali, a Interpol o pegou em setembro do ano passado. O pedido de extradição feito pelo governo brasileiro foi aprovado pelo príncipe Albert, de Mônaco, há duas semanas.
Uma última tentativa de Cacciola de adiar sua extradição para o Brasil foi ensaiada por seus advogados na quartafeira 9. Eles impetraram um novo pedido de habeas-corpus, que foi negado pelo presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. A previsão do Ministério da Justiça é de que o exbanqueiro esteja no Brasil até o dia 20 deste mês. Seu retorno será uma verdadeira operação secreta. Agentes da Polícia Federal já estão em Mônaco tratando dos trâmites burocráticos da extradição. Como a apresentação às autoridades monegascas de um "laissez-passer" (do francês "deixe passar"), um documento especial para permitir o trânsito de Cacciola. O detalhe mais delicado dessa operação de retorno do banqueiro é o fato de que ele terá de passar pelo território da França antes de chegar ao Brasil. O aeroporto de Mônaco, na verdade, fica na cidade francesa de Nice. Como não foi o governo francês quem prendeu nem autorizou a extradição de Cacciola, o Ministério da Justiça teme que ele tente alguma manobra com seus advogados ao chegar a Nice. Daí a necessidade de que a operação seja secreta, e que nem o dia nem o formato da sua volta sejam conhecidos. Há três hipóteses avaliadas para o deslocamento de Cacciola para o Brasil: ele pode vir em vôo comercial, escoltado por agentes da PF; num jato da Força Aérea Brasileira; ou num avião da própria Polícia Federal. Chegando ao Brasil, Salvatore Cacciola deverá ficar preso no Rio de Janeiro.

RUDOLFO LAGO



Ao contrário do reservado banqueiro, o libanês naturalizado brasileiro Nahas tem um estilo de vida menos discreto. Ele chegou ao País em 1969, trazendo US$ 50 milhões na bagagem. Nos anos 1980, controlava 28 empresas. Era, no entanto, mais conhecido pelo estilo glamouroso de vida e por trazer ao Brasil celebridades como Alain Delon, Gina Lollobrigida e Omar Sharif. No mercado financeiro, ganhou fama por realizar operações de alto risco na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Não demorou a entrar em confronto com o então presidente do conselho administrativo da Bovespa, Eduardo da Rocha Azevedo, transferindo todas as suas operações para o Rio de Janeiro. Em 1989, na seqüência da suspensão de empréstimos bancários que obtinha costumeiramente, Nahas faliu e acabou acusado de provocar a quebra da Bolsa do Rio. Alijado do mercado, ele só deu a volta por cima em 2004, ao ser inocentado pela Justiça Federal das acusações de crime contra o sistema financeiro e a economia popular. Poucos meses depois, comemorou em alto estilo o casamento da filha, com a presença do ator Omar Sharif e show do cantor Paul Anka, canadense de origem síria. Voltou a operar no mercado e, na semana passada, aos 56 anos, estava em sua mansão, no Jardim América, em São Paulo, quando foi surpreendido pela chegada dos homens da Operação Satiagraha.
"Eu estou chocado", disse Nahas à ISTOÉ na sextafeira 11, depois de ser solto. "Nem na cortina de ferro soviética aconteceria isso." Os quatro filhos de Nahas também tiveram a prisão temporária pedida - apenas a de Fernando foi aceita pelo juiz, mas ele não foi encontrado pela PF. Sua filha, Natalie, estava em viagem à Europa, mas a casa teve a porta arrombada para cumprimento de mandado de busca. Ao tentar retomar suas atividades, Nahas não conseguiu entrar no próprio escritório. "Tudo isso para dizer que eu tenho a taxa do Fed?", ironizou, em referência a uma das acusações da PF: de que ele teria manipulado o mercado ao ter a informação privilegiada de que o Banco Central dos Estados Unidos iria aumentar a taxa de juros.

EIKE NA REDE
Na manhã da quinta-feira 10, policiais federais fizeram uma busca na casa e no escritório do empresário Eike Batista, no Rio de Janeiro, com autorização da Justiça Federal do Amapá, para recolher documentos, dinheiro em espécie e computadores. Em junho, ao lançar ações da empresa OGX, Eike ficou R$ 24 bilhões mais rico. Agora, segundo o Ministério Público e a Polícia Federal, há indícios que apontam o envolvimento da mineradora MMX, de Eike, com uma "organização criminosa", responsável por fraude na licitação para a concessão da estrada de ferro do Amapá, que liga os municípios de Serra do Navio e Santana. Na sexta-feira 11, as ações da MMX chegaram a cair 13%.
Segundo a PF, houve uma operação fraudada para redirecionar a licitação para uma outra empresa também de Eike, a Acará Empreendimentos. A suposta fraude teria tido o envolvimento do governo do Amapá. As buscas ocorreram no Pará, Amapá e Rio. O Ministério Público no Amapá suspeita de fraude também na lavra de ouro da sociedade Mineração Pedra Branca do Amapari, integrante do grupo MMX, configurando subdeclaração de lavra e sonegação fiscal. O nome da operação: Toque de Midas, referência ao personagem que transformava em ouro tudo em que colocava o dedo.


Na ação da PF, que colocou 300 policiais nas ruas na terça-feira 8, há outros personagens poderosos. O ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, conhecido por libertar presos políticos durante o regime militar de graça, é acusado de fazer lobby em favor de Dantas no governo. "Estou muito puto com a PF e com as declarações do Tarso", diz ele. Greenhalgh vinha auxiliando o principal advogado do Opportunity, Nélio Machado. "Comecei a trabalhar ajudando o Nélio em março do ano passado, ajudei no inquérito da Kroll, na história da Telecom Italia e da Brasil Telecom, na feitura de peças do acordo", diz o ex-deputado. Greenhalgh pode até ter ficado "puto", mas reconhece que fez mesmo o que diz o relatório da PF: buscou junto ao governo informações sobre se havia de fato uma operação policial que poderia levar à prisão de Dantas. Nessa busca, chegou a recorrer ao chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. "Tinha gente da Abin atrás de um dos investigados. Liguei para Gilberto e disse: "Gilberto, o que é isso?". A informação se confirmou, era gente da Abin."

A Operação Satiagraha, que deixou boa parte do meio político e empresarial em polvorosa na semana passada, tem potencial para manter elevada a tensão nos bastidores do poder, como confirmam declarações feitas por advogados dos acusados que acenam com a possibilidade de tornar públicos documentos sigilosos que tramitam nos EUA e na Itália. Em Milão, corre na Justiça um processo segundo o qual a Telecom Italia, que firmou um contrato de consultoria de US$ 3,5 milhões com Naji Nahas, distribuiu propina à larga no Brasil. Nesse caso, há também documentos que comprovam o fato de adversários de Dantas terem enviado ao Brasil emissários com o intuito de corromper policiais federais e comprar jornalistas para que publicassem reportagens contrárias ao Opportunity. Em Nova York, processos envolvendo o Citigroup e o Opportunity, pela disputa societária da Brasil Telecom, mantêm em sigilo informações sobre o tumultuado relacionamento do governo Lula com Dantas. A mais explosiva briga empresarial da história recente do País vai agora enredar Dantas com a Justiça por um bom tempo. Mas, se os dois lados levarem adiante a "firmeza na verdade" embutida na Operação Satiagraha, a confusão ainda está bem longe de terminar.

Ecos ouvidos mundo afora


A prisão, nesta semana, dos empresários Daniel Dantas e Naji Nahas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e de mais 21 pessoas recebeu a devida cobertura pelos maiores jornais europeus. Os diários La Repubblica, The Financial Times e El País foram aqueles que parecem ter mais bem reportado o escândalo, mas cada um colocou ênfase em aspectos diferentes.

O britânico Financial Times cai no conto da mídia brasileira e argumenta que a prisão tem elos com o mensalão. Mais: trará à tona, outra vez, o escândalo da compra de votos de congressistas por parte do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mas o correspondente do FT em São Paulo, John Rumsey, vaticina que o novo escândalo não afetará o pleito municipal, em outubro. Isso porque, segundo ele, a economia brasileira avança com saúde. Em seguida, ao focalizar a personagem Dantas, conta o óbvio, com referências ao fundo nas Ilhas Cayman, evasão de impostos e falsas folhas de pagamento.

Há também alusão à tentativa de suborno de um delegado. Quanto a Nahas, é acusado por evasão de impostos de sua empresa, na verdade um banco de investimentos de fachada, e por transações cambiais internacionais ilícitas. Um de seus clientes, Celso Pitta, foi cassado, mas conseguiu voltar à prefeitura. Relata o FT que ele se mostrou de inaudita incompetência durante seu mandato: as dívidas da cidade “mais do que dobraram”, ficando acima de 11 bilhões de dólares.

O artigo do diário italiano La Repubblica fala de um Dantas conhecido pelos italianos, porque, desde 1998, participou “do destino da Telecom Italia”. Naquele ano, a TIM “participou da corrida das privatizações brasileiras juntamente com os fundos do Opportunity”. Explica-se: o Opportunity tinha uma participação na Brasil Telecom. Giovanni Pons, do La Repubblica, relata a longa contenda entre Dantas e Marco Tronchetti Provera, o então presidente da Telecom Italia.

Foi quando o italiano entregou a Naji Nahas, empresário brasileiro de origem libanesa “de dúbia reputação”, o papel de uma negociação pacificadora com Dantas. Acordo houve, pelo menos nas aparências, mas o controle da TIM sobre a Brasil Telecom não se concretizou, salvo, frisa Giovanni Pons, “na parte das comissões devidas aos dois empresários (brasileiro e libanês)”.

Somente o Opportunity levou 50 milhões de euros, lembra Pons. O “consultor” Naji Nahas teria embolsado um total de 25 milhões de euros. Pons: “A administração da Telecom Italia teve a boa idéia de vender sua participação na Brasil Telecom em julho de 2007 (Tronchetti Provera demitiu-se em setembro de 2006), por apenas 515 milhões de euros”. Final feliz: os brasileiros tiveram “um belo presente” e puderam fazer uma fusão com a Telemar, muito a gosto do governo Lula. Dantas, diz Pons, faturou 1 bilhão de euros, graças à fusão.

Já o diário de Madri El País também dá ouvidos à mídia brasileira e conta que investigações de quatro anos “têm suas raízes no escândalo mais conhecido como mensalão, o qual, em 2005, afetou membros do Parlamento e aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros de seu gabinete, como José Dirceu...” Entre os implicados estava Marcos Valério, supostamente encarregado de recolher fundos públicos. Mas agora, diz El País, conforme as mais recentes investigações, Daniel Dantas surge como líder de todo o esquema.

Naji Nahas, continua Juan Arias, correspondente no Rio do jornal madrileno, seria “o empresário que comandava os negócios da organização criminal desmantelada ontem (terça-feira 8) no mercado financeiro”. Arias fez questão de sublinhar que Pitta foi preso de pijama. E, enfim, fornece um resumo das detenções por corrupção durante o governo Lula. Com especial referência às operações do ano passado: 188, com 2.800 prisões. E deste ano, até junho: 1.700 prisões em 97 operações.

Satiagraha


Epígrafe profética do relatório da CPMI dos Correios:

“Nada há de encoberto que não venha a ser revelado, e nada há de escondido que não venha a ser conhecido”. Mateus, 10:26.

Satiagraha (2)

Guia para cegos, desmemoriados e curiosos.

As traquinagens do banqueiro Daniel Dantas com o publicitário Marcos Valério podem ser conferidas no relatório final da CPMI dos Correios: HTTP://www.cpmidoscorreios.org.br/

Não há nada no volume I. No volume II, as referências vão da página 513 à página 654. No volume III podem ser lidas da página 1.174 à página 1.405.

Satiagraha (3)

A editora Millenium está surfando na maré que tragou Daniel Dantas.

Retomou a divulgação do livro do juiz Fausto Martin de Sanctis, que pediu a prisão do banqueiro por duas vezes.

O marketing do livro Lavagem do Dinheiro: um novo mundo criminal destaca a atuação do magistrado no caso Dantas.

Vale tudo no mercado.

Satiagraha (4)

Cesar Maia também surfa no episódio. Ele escreveu no seu ex-blog:

“Um deputado, representante do PSDB, que atuava na CPI dos Correios, mantinha ligações antigas com o senhor Mussnick, do escritório Barbosa, Mussnick e Aragão. É colega e amigo de juventude do senhor Luiz Antonio Sampaio Campos, ex-sócio daquele escritório e ex-diretor da CVM, entre janeiro de 2001 e novembro de 2004. Mussnick é cunhado do senhor Dantas. O escritório dele é o mais importante escritório de advocacia de assuntos societários do Opportunity. O senhor Dantas, neste período, não perdeu um só caso na CVM”.

A história é cabeluda. A Maia, no entanto, só interessa alvejar o deputado tucano. Havia muitos deles na CPI. Mas só o deputado Eduardo Paes preocupa o burgomestre carioca.

Ele disputa a sucessão de Maia à prefeitura do Rio

O jornalismo avestruz


Quarta-feira 9, 20 minutos antes de 1 da tarde. O banqueiro Daniel Dantas estava preso há 24 horas, acusado de diversos crimes, entre eles o de tentativa de corromper um delegado federal. Na rádio CBN, uma das tantas emissoras da família Marinho, a onipresente Miriam Leitão continua perplexa. Diz não entender o motivo da prisão, pois as acusações tratam de “coisas do passado” (ao que um gaiato jornalista, ao saber do argumento, comentou: “Ainda bem que a Polícia Federal não prende as pessoas por assuntos futuros, crimes que ainda nem foram cometidos”.) Ao fim do comentário, conforme registra Bob Fernandes no site Terra Magazine, Miriam deixa o estúdio e o colega Carlos Alberto Sardenberg, sem perceber que o microfone continua ligado, emenda: “Ela tá esquisita, não?”

Em sua coluna do mesmo dia em O Globo, Miriam Leitão já havia oferecido aos leitores sua visão dos acontecimentos, teses que viriam a ser encampadas pelo próprio jornal nos dias posteriores. Em resumo, a colunista questionava o fato de o banqueiro ser preso enquanto envolvidos em outros escândalos, como os do chamado mensalão, estavam soltos (ao que o mesmo gaiato jornalista interporia: se nem todos que deveriam apodrecer no xilindró estão na cadeia, então seria o caso de abrir a porta das celas, por questão de isonomia). Segundo a jornalista, Dantas não cometeu crimes (apesar das condenações em cortes internacionais), mas se meteu “em diversas confusões”.

O que se viu no resto da mídia não foi muito diferente. O necessário, mas superdimensionado debate sobre os possíveis excessos cometidos por agentes federais durante as prisões contrastou com a falta de questionamentos a respeito do prejulgamento do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que antes de conceder o habeas corpus ao banqueiro criticou, em cadeia nacional de televisão, a ação da PF. As inúmeras referências às ligações de Dantas com o escândalo que se convencionou chamar de mensalão faziam sombra às parcas memórias de que o poder do dono do Opportunity criou raízes no processo de privatização dos anos 90. -Carta Capital num. 0504

domingo, 13 de julho de 2008

Lula assina acordo de biocombustíveis com Indonésia



O Presidente Lula e o seu homólogo indonésio firmaram acordo neste sábado (12) de cooperação para compartilhar conhecimento tecnológico sobre biocombustíveis.O presidente brasileiro disse que a tendência atual de preços das commodities são uma ótima oportunidade para países em desenvolvimento como Indonésia e Brasil, dois grandes produtores de biocombustíveis.

"Países em desenvolvimento com características como o Brasil e a Indonésia não devem analisar a crise como somente um problema. Nós temos que ver esse momento como uma grande oportunidade", disse Lula.

A visita de Lula à Indonésia é o último point do giro pela Ásia, onde passou também pelo Vietnam e pelo Timor Leste depois de comparecer à reunião do G8 no Japão.

sábado, 12 de julho de 2008

Lula e Dilma em Hanói

Hanói ( Vietnã) - Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, cumprimenta o general Vo Nguyen Giap

Hanói ( Vietnã) - Presidente Lula e o presidente do Vietnã, Nguyen Minh Triet, durante cerimônia oficial de chegada ao país