segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ecos ouvidos mundo afora


A prisão, nesta semana, dos empresários Daniel Dantas e Naji Nahas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e de mais 21 pessoas recebeu a devida cobertura pelos maiores jornais europeus. Os diários La Repubblica, The Financial Times e El País foram aqueles que parecem ter mais bem reportado o escândalo, mas cada um colocou ênfase em aspectos diferentes.

O britânico Financial Times cai no conto da mídia brasileira e argumenta que a prisão tem elos com o mensalão. Mais: trará à tona, outra vez, o escândalo da compra de votos de congressistas por parte do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mas o correspondente do FT em São Paulo, John Rumsey, vaticina que o novo escândalo não afetará o pleito municipal, em outubro. Isso porque, segundo ele, a economia brasileira avança com saúde. Em seguida, ao focalizar a personagem Dantas, conta o óbvio, com referências ao fundo nas Ilhas Cayman, evasão de impostos e falsas folhas de pagamento.

Há também alusão à tentativa de suborno de um delegado. Quanto a Nahas, é acusado por evasão de impostos de sua empresa, na verdade um banco de investimentos de fachada, e por transações cambiais internacionais ilícitas. Um de seus clientes, Celso Pitta, foi cassado, mas conseguiu voltar à prefeitura. Relata o FT que ele se mostrou de inaudita incompetência durante seu mandato: as dívidas da cidade “mais do que dobraram”, ficando acima de 11 bilhões de dólares.

O artigo do diário italiano La Repubblica fala de um Dantas conhecido pelos italianos, porque, desde 1998, participou “do destino da Telecom Italia”. Naquele ano, a TIM “participou da corrida das privatizações brasileiras juntamente com os fundos do Opportunity”. Explica-se: o Opportunity tinha uma participação na Brasil Telecom. Giovanni Pons, do La Repubblica, relata a longa contenda entre Dantas e Marco Tronchetti Provera, o então presidente da Telecom Italia.

Foi quando o italiano entregou a Naji Nahas, empresário brasileiro de origem libanesa “de dúbia reputação”, o papel de uma negociação pacificadora com Dantas. Acordo houve, pelo menos nas aparências, mas o controle da TIM sobre a Brasil Telecom não se concretizou, salvo, frisa Giovanni Pons, “na parte das comissões devidas aos dois empresários (brasileiro e libanês)”.

Somente o Opportunity levou 50 milhões de euros, lembra Pons. O “consultor” Naji Nahas teria embolsado um total de 25 milhões de euros. Pons: “A administração da Telecom Italia teve a boa idéia de vender sua participação na Brasil Telecom em julho de 2007 (Tronchetti Provera demitiu-se em setembro de 2006), por apenas 515 milhões de euros”. Final feliz: os brasileiros tiveram “um belo presente” e puderam fazer uma fusão com a Telemar, muito a gosto do governo Lula. Dantas, diz Pons, faturou 1 bilhão de euros, graças à fusão.

Já o diário de Madri El País também dá ouvidos à mídia brasileira e conta que investigações de quatro anos “têm suas raízes no escândalo mais conhecido como mensalão, o qual, em 2005, afetou membros do Parlamento e aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros de seu gabinete, como José Dirceu...” Entre os implicados estava Marcos Valério, supostamente encarregado de recolher fundos públicos. Mas agora, diz El País, conforme as mais recentes investigações, Daniel Dantas surge como líder de todo o esquema.

Naji Nahas, continua Juan Arias, correspondente no Rio do jornal madrileno, seria “o empresário que comandava os negócios da organização criminal desmantelada ontem (terça-feira 8) no mercado financeiro”. Arias fez questão de sublinhar que Pitta foi preso de pijama. E, enfim, fornece um resumo das detenções por corrupção durante o governo Lula. Com especial referência às operações do ano passado: 188, com 2.800 prisões. E deste ano, até junho: 1.700 prisões em 97 operações.

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