Depois de cinco séculos recebendo migrantes de todas as partes do Brasil e do mundo, São Paulo tornou-se uma “exportadora” de gente no século 21. Entre moradores que chegaram e pessoas que abandonaram a cidade, a capital paulista perdeu 293 mil habitantes nesta década.
É o que os demógrafos chamam de saldo migratório negativo. São Paulo só continuou crescendo porque o saldo vegetativo foi alto: 1,770 milhão de nascimentos contra 667 mil mortos entre 2000 e 2010, segundo dados do Datasus (Ministério da Saúde).
Ou seja, enquanto 1,103 milhão de novos habitantes entravam pelas maternidades, outros 293 mil saíam pela via rodoviária (ou pelo aeroporto). No fim das contas, a cidade incorporou 810 mil novos paulistanos em 10 anos e chegou a 11,244 milhões de habitantes.
Ao contrário de décadas anteriores, há indícios de que o destino dos moradores que emigraram de São Paulo não tenha sido a periferia da região metropolitana. Isso porque vários municípios importantes do entorno paulistano também tiveram saldo migratório negativo.
Foram os casos de Osasco (-58 mil pessoas), Carapicuíba (-26 mil), Santo André (-21 mil), Diadema (-20 mil), São Bernardo do Campo (-14 mil) e Barueri (- 6 mil), entre outras. Elas têm mais moradores hoje do que tinham há dez anos, mas foi graças aos nascimentos ocorridos dentro do próprio município.
É uma nova tendência. Na segunda metade do século 20, muitas dessas cidades cresceram absorvendo moradores da cidade de São Paulo, principalmente os de baixa renda.
Ao que tudo indica, a centrifugação populacional paulistana perdeu força no século 21. Poucas cidades vizinhas à capital tiveram saldo migratório positivo. Destacam-se Cotia (+29 mil pessoas) e Santana de Parnaíba (+ 23 mil pessoas).
Ambas têm em comum uma acentuada desigualdade social: abrigam tanto condomínios destinados a moradores de alta renda quanto uma população pobre que vive fora dos muros. O perfil das duas cidades sugere que podem ter recebido paulistanos ricos.
Há muita gente que deixou os Jardins ou o Morumbi, em São Paulo, para morar em casas mais amplas e, teoricamente, mais seguras em condomínios como Alphaville (Santana de Parnaíba) e Granja Viana (Cotia). O resultado disso pode ser visto nos congestionamentos matutinos e vespertinos nas estradas que ligam a capital a essas cidades/condomínios.
O mesmo vale para cidades que não pertencem à região metropolitana de São Paulo, mas que estão próximas o suficiente para abrigar gente que trabalha na capital e viaja diariamente, como Jundiaí (saldo migratório de + 20 mil habitantes) e Valinhos (+ 17 mil).
O pesquisador Alberto Augusto Eichman Jakob lista essa “desconcentração” como uma das possíveis causas do saldo migratório negativo da cidade de São Paulo na década. Mas levanta uma hipótese complementar: migração de retorno.
Pessoas que migraram do Nordeste e/ou de Minas Gerais para São Paulo décadas atrás conseguiram fazer seu pé-de-meia trabalhando na cidade e decidiram voltar às suas regiões de origem. Isso seria potencializado pela melhoria das condições econômicas desses locais, fruto do crescimento econômico dos últimos anos.
O pesquisador do Nepo (Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp) ressalva que será necessário fazer estudos mais aprofundados para confirmar essa hipótese.
O Estado de São Paulo, no seu conjunto, continua sendo um imã populacional: atraiu 557 mil migrantes de outros Estados e países desde 2000. Elas têm perfis distintos: algumas são movidas pelo agronegócio, outras pela indústria e ao menos uma pelo turismo.
Os polos paulistas que mais atraíram migrantes na década foram Ribeirão Preto (saldo migratório positivo de 59 mil habitantes), Sorocaba (+ 47 mil), Praia Grande (+ 45 mil), Indaiatuba (+ 38 mil) e Campinas (+ 32 mil).José Roberto Toledo - Estadão
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