sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Governos de esquerda da AL torcem por Dilma


Eleições: Argentina, Bolívia, Paraguai e Venezuela acompanham a disputa presidencial com mais ansiedade

Com receio de ver seus interesses com o Brasil afetados, quatro governos esquerdistas da América do Sul preferem uma vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff. Para esses países, a eleição do tucano José Serra é associada, em maior ou menor grau, a possíveis atrasos ou reversões na agenda bilateral com o Brasil.

O Valor ouviu parlamentares dos partidos que estão no governo em nove nações da região, além de diplomatas e outras autoridades, a respeito das expectativas sobre as relações de cada país com o Brasil a partir de 2011. Os governos que parecem acompanhar o resultado da disputa com mais expectativa são os da Argentina, Bolívia, Paraguai e Venezuela. Nos quatro, a preferência é por Dilma.

No Uruguai e no Equador - ambos também com presidentes de esquerda - integrantes dos governos não têm manifestado publicamente ou a interlocutores brasileiros interesses específicos na vitória do PT ou do PSDB.

O mesmo vale para os governos da Colômbia, Peru e Chile, que embora sejam comandados por presidentes de centro-direita não revelam claramente preferências por uma ou outra candidatura.

No caso do governo da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, as reservas a Serra foram tornadas públicas antes do primeiro turno, quando o tucano acusou a gestão do presidente Evo Morales de ser cúmplice do tráfico de cocaína para o Brasil.

Em maio, Serra declarou durante uma entrevista: Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disso. Quem tem que enfrentar essa questão é o governo federal. O candidato completou dizendo que se o governo [da Bolívia] não fizesse ao menos corpo mole, o fluxo de cocaína que cruza a fronteira seria menor.

A afirmação foi rebatida por La Paz. Na ocasião, o senador Fidel Surco, presidente da Comissão de Política Internacional do Senado, disse à reportagem que Serra é um candidato da direita que repete o que diz os EUA contra Evo. Surco é do MAS, o partido de Morales. Para ele, a relação entre Bolívia e Brasil com Dilma seria mais fácil. por haver mais proximidade ideológica entre os partidos.

Segundo uma autoridade brasileira que mantém contatos frequentes com parlamentares e membros do Executivo boliviano, eles deixaram de se mostrar preocupados quando as pesquisas mostraram que Dilma teria uma vitória na primeira rodada. Depois do primeiro turno, ficaram mais receosos com a possível eleição de Serra e principalmente sobre como seriam as relações bilaterais em torno de três pontos, diz a fonte. A questão do narcotráfico, o financiamento e os estímulos dados a empresas brasileiras para investirem na Bolívia e a questão do pagamento das chamadas partes nobres do gás [aceita pelo governo Lula e que eleva o valor pago pelo Brasil ao gás boliviano].

Assim como na Bolívia, a sensação manifesta no Paraguai por integrantes do governo do presidente Fernando Lugo e por parlamentares dos partidos que estão no poder, é que o governo Lula atendeu e aceitou negociar algumas demandas sensíveis ao país. E que com um governo de José Serra, a situação seria outra.

No Paraguai, há uma visão de que o acordo firmado pelos dois governos sobre o preço da energia de Itaipu só foi possível porque o presidente Lula tem uma empatia com o Lugo, disse um diplomata brasileiro ouvido sob a condição de não ter seu nome publicado.

Em julho de 2009, Brasil e Paraguai firmaram um acordo que prevê, entre outros pontos, o aumento do preço pago pelo Brasil à energia de Itaipu que adquire do Paraguai. O acordo precisa da aprovação do Congresso. Uma das preocupações deles é como será essa votação caso Serra seja eleito.

Ricardo Canese, parlamentar paraguaio do Mercosul e coordenador da comissão de negociação sobre Itaipu do Ministério das Relações Exteriores paraguaio, disse ao Valor que crê que iniciativas de integração são políticas de Estado e que quem quer que seja eleito, não ignorará o acordo.

Talvez haja maior ou menor vontade política. Entendemos que Dilma terá mais vontade política de fazer avançar o acordo. Num governo Dilma há ainda uma questão filosófica, de integração regional mais ampla.

Entre os sul-americanos talvez o único presidente que tenha dito textualmente que torce pela vitória da candidata do PT foi o venezuelano Hugo Chávez. Ele não sugeriu, mas disse diretamente que queria que a companheira Dilma ganhasse, disse à reportagem o deputado Roy Daza, presidente da Comissão de Exterior da Assembleia Nacional venezuelana. Daza é do PSUV, partido de Chávez.

Toda nossa expectativa é quem vai ganhar as eleições, disse, acrescentando, que apesar das preferências e das identidades entre o PT e Chávez, a Venezuela tem relações externas excelentes com a esquerda e com direita. Há que não se ideologizar tanto as relações internacionais. A Venezuela não tem pendência importante a ser aprovada pelo Congresso brasileiro. A proposta de adesão da Venezuela ao Mercosul - criticada pela oposição - já foi aprovada.

Daza lembra que as relações de Chávez com o Brasil começaram com o Fernando Henrique Cardoso. Com Lula e se aprofundaram e hoje são excelentes. Uma eventual vitória da oposição não deve mudar a intensidade das relações, diz. Mas a preferência é clara: Temos há anos vínculos com o PT. Prefiro um partido de esquerda, como o PT. Seríamos hipócritas se disséssemos o contrário.Valor Econômico

Um comentário:

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