Para premiê José Sócrates, brasileiro tem capital político tão importante no mundo que seria desperdício não aproveitá-lo
Socialista diz que a ascensão internacional do Brasil é uma "mudança estratégica" para Portugal e que Lula mostrou que esquerda pode governar
O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, disse que "estaria na primeira fila" do apoio a uma eventual candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para secretário-geral da ONU. Ele se reunirá com Lula depois de amanhã, em Lisboa.
"O presidente Lula tem um capital político tão importante no mundo que seria um grande desperdício não aproveitá-lo", afirmou na última terça-feira na capital portuguesa em entrevista que será exibida hoje à noite na íntegra no programa "É Notícia", da RedeTV!
Sócrates disse que combinou com outros dois colegas europeus discutir o futuro de Lula com o presidente brasileiro em reunião no Brasil no final do mês, quando se encontrará com o presidente de governo da Espanha, José Luís Rodriguez Zapatero, e com o premiê da Grécia, George Papandreou.
BRASIL E PORTUGAL
A afirmação do Brasil no mundo nos últimos anos é de enorme importância para Portugal. Se há uma questão estratégica que mudou para Portugal nos últimos anos, é a ascensão do Brasil. E cada vez que o Brasil sobe de posição no concerto das nações, no quadro internacional, Portugal vai atrás.
Não imagina a quantidade de líderes políticos europeus que acham que só se resolvem problemas com o Brasil se eu telefonar ao presidente Lula.
AMIZADE COM LULA
Construí grande amizade e grande admiração pelo presidente Lula. O presidente fez um trabalho absolutamente extraordinário. Não sei se os brasileiros têm consciência disso, do trabalho que o presidente fez para a afirmação do Brasil.
O presidente Lula mostrou ao mundo que a esquerda no Brasil pode governar e pode governar com responsabilidade. O trabalho que ele fez foi absolutamente notável, quer do ponto de vista econômico, quer do ponto de vista da afirmação do Brasil como uma grande potência política e econômica.
A esquerda latino-americana fica a dever ao Lula essa visão política que ele teve de aplicar um programa que visava naturalmente combater as injustiças, combater a pobreza, mas um programa moderado.
VISÃO ECONÔMICA
Sou um socialista que sempre acreditou que a melhor resposta ao crescimento econômico é o mercado. Quero um país competitivo e moderno, mas com justiça social e igualdade.
O que diferencia hoje as duas grandes famílias políticas, esquerda e a direita? É o encaminhamento da igualdade. E, para isso, o Estado tem uma tarefa, como aliás teve na última crise.
Muitos dos que desvalorizavam a ação do Estado só se lembraram do Estado nessa última crise, em que foi preciso a ação do Estado para conter aquilo que foi a desregulação completa dos mercados financeiros.
CORTES E IMPOSTOS
O político, socialista ou não, tem de lidar com a realidade e responder à realidade. O mais importante para a esquerda é que seja realista. Toda aquela esquerda que achou que devia comportar-se apenas com retórica e com idealismo fracassou.
Isso não serviu a ninguém, muito menos para os que precisam da esquerda para melhorarem suas condições de vida.
FUTURO DE LULA
Estaria na primeira fila desse apoio [eventual candidatura de Lula a secretário-geral da ONU]. Temos apoiado, em primeiro lugar, o Brasil no Conselho de Segurança, como membro permanente. Isso é muito importante para o Brasil, mas é muito importante para a ONU.
A ONU tem de passar por uma fase de reforma que permita que suas instituições representem o mundo que existe e não o de 50, 60 anos atrás.
O presidente Lula é uma grande figura da política mundial. Não sou apenas seu admirador e seu amigo, como tenho certeza de que ele é jovem demais para se retirar da política. Tenho certeza de que ele desempenharia muito bem qualquer cargo internacional.
Acho que é [realista a candidatura à Secretaria-Geral]. Lula tem um capital político tão importante que seria grande desperdício não o aproveitar. Não deixarei de insistir com ele para que não se retire da política ativa ao nível mundial.
Estarei no Brasil, no final do mês, com Jorge Sampaio [ex-presidente de Portugal], com o presidente de governo Zapatero e também com o premiê Papandreou. Combinamos de conversar sobre isso com Lula.
A esquerda europeia tem grande admiração pelo presidente Lula, e nós gostaríamos que se mantivesse na política.Kennedy Alencar
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