Queridos leitores. Hoje domingão, dia de preguiça e descanso para enfrentar a segundona e uma semana de muito trabalho, vamos passar para um assunto ameno e fútil para relaxar. A colunista Mônica Bergamo acompanhou uma das aulas mensais que o governador de SP, José Serra(PSDB) dá em escolas públicas, em que crianças querem até ser astronautas, mas têm dificuldade de dizer quanto é oito vezes sete. Veja como foi a aula do governador
Os 37 alunos da 4ª série E da Escola Estadual Professor Lael de Moura Prado, na Vila Sabrina, zona norte da cidade, observam o governador José Serra fazer as vezes de professor em sala de aula. "Como é o nome da professora de vocês?", pergunta Serra, quebrando o silêncio. "Conceiçãããão!" O governador escreve na lousa: "Consseissão". Espanto geral.
"É assim?", pergunta ele. "Nããão!" Serra corrige: "Conçeissão". Errado. "Conçeição", escreve ele. Não! "Jefferson, como é que é?" "Tem que apagar a cedilha."
Cada aluno tem à frente um pedaço de cartolina amarela com seu nome para que o governador possa identificá-los. "Desirré...", lê Serra. E, para a garota, na primeira fila: "Desirré, você sabe quem era a Desirré?" "Não", responde Desirré, de nove anos. "Ela era a grande paixão do Napoleão Bonaparte." "Aahh..." "E sabe o que quer dizer esse nome em francês?" E a garota: "Eu pesquisei. Querida!" E Serra: "Desejada".
Desde os tempos da prefeitura, o tucano dá uma aula por mês em alguma escola pública de SP. Diz que faz isso por prazer, "porque me faz bem". A professora pede que Desirré faça a primeira pergunta: "Como foi a sua infância?" "Ah, foi bastante movimentada. Eu era lá da Mooca. Eu entrei no jardim infantil e chorava feito louco. Os padres eram durões. Eles batiam. Era puxão de orelha ou ajoelhar no milho." "Como é o seu dia?", questiona Sara. "Quando o senhor era pequeno, era quieto?", pergunta Jackson.
Serra não escuta direito: "O quê? Você tem que falar forte, Jackson". O governador aumenta o tom de voz, abre os braços: "For-te!!!" E então responde: "A professora dizia que eu era matraca".
"Gabriela, você mora por aqui?" A garota ensaia uma resposta. "Alto! Alto, Gabriela. Vocês têm que falar alto!! Gritar, como quando a professora não está na classe." Outro estudante, Raul, levanta a mão. "O senhor..." Serra interrompe: "O quê? Alto! Fala alto!" Raul continua: "O senhor poderia construir um laboratório aqui?" "Não tem laboratório aqui? Nós vamos ver isso." Camille levanta a mão: "Se o senhor quiser colocar telhado na quadra de esportes... precisa". E Marcelo: "Pode construir uma piscina de natação?" Sara também tem o seu pedido. "Poderia construir um prédio aqui em cima...(Serra interrompe: "Fala alto, Sara!')... para o ensino médio?" Os alunos também querem o retorno do programa Escola da Família, em que o estabelecimento fica aberto nos finais de semana para ser usado pela comunidade.
Outro aluno pede um ambulatório. O governador pondera que o melhor é usar os serviços de uma unidade da AMA (Assistência Médica Ambulatorial) logo ali perto. "O Anderson outro dia usou. Ele foi atropelado", conta a professora Conceição. "É mesmo?", diz Serra. "Eu também já fui atropelado!" Quando era criança, ele brincava na rua e sofreu um acidente. "Eu queria saber...", começa Gabriela. "Alto, Gabriela!", interrompe Serra. Ela grita. "Eu queria saber se o senhor poderia construir outra quadra aqui!" Camila também grita. "E também se poderia colocar corrimão nas escadas!" "Essa sala aqui é sindicalista. Nós estamos anotando tudo, viu?", responde o governador.
Hora da chamada oral. Serra pergunta qual é a capital do Amapá. Só quatro respondem: Macapá. "E de Roraima?" Silêncio. "E da Paraíba?" Silêncio. "E de Goiás?" "Goiânia!", gritam as crianças. A professora Conceição sorri.
Agora, matemática. "Hoje nós vamos ver como a gente faz gráficos e tabelas. Por que eles existem? Não é para aumentar o conhecimento. É para resumir o que a gente sabe." O governador faz dois riscos na lousa -um na horizontal, outro na vertical. Escreve "ordenadas" e "abcissas".
O primeiro gráfico é sobre o número de torcedores que cada time tem na sala -são 14 corintianos, 12 são-paulinos, quatro santistas e três palmeirenses. O seguinte é sobre a população de SP, "que tem mais de 40 milhões de pessoas". "Noooosa!", reagem os alunos.
O governador escreve na lousa o número de alunos da classe: 37. "Qual é a metade de 37, Juliana?" Silêncio. Um garoto levanta a mão: "É 23!" "Não, 23 não é", diz Serra. Mais silêncio. Ele tenta explicar a operação ao contrário. "Vamos pensar. Quanto é duas vezes 18?" A criançada se anima: "16!" "Não!", diz o governador. "Eu não posso multiplicar dois por 18 e chegar a 16. Eu vou dobrar e vai diminuir?" Ele insiste. No fundo da classe, Leandro salva a pátria. "É 36!"
"E quem é bom de tabuada? Vamos ver. Julia, quanto é seis vezes sete?" "42." Ela ganha um beijo. "E cinco vezes seis?" "30." "Raul, quanto é sete vezes oito?" "Esqueci." "Gabriela, quanto é sete vezes oito?"
A aluna olha para trás, em busca da ajuda da amiguinha Helen. Que fica em silêncio. "Tabuada é muito importante. Viu, Conceição? Você deveria dar tabuada para eles todos os dias, fazer um torneio." A professora explica que só dá aulas de português.
A escola Professor Lael de Moura Prado é "uma das melhores da diretoria Norte 2 [uma das subdivisões da administração escolar]", diz a professora Conceição à coluna. A nota média dos alunos no Saresp, a prova que avalia as escolas, foi 5,44. Depois de parabenizar o governador "pelos investimentos que tem feito em educação", a diretora Maria Sul Helena Luzio diz que um de seus maiores problemas é a rotatividade de professores. E lamenta: "O diretor é a figura mais solitária dentro de uma escola".
Na classe, o governador distribui jornais (a Folha), lê com os alunos, fala de atualidades. "Sabem o que eu fiz hoje? Eu comi carne de porco para os jornais mostrarem e as pessoas pensarem: se transmitisse gripe suína, o Serra não ia lá comer."
"Vocês ouviram falar numa lei que diz que não pode fumar em lugar público? Quem aqui o pai fuma?" Muitos levantam a mão. "Minha mãe também fuma." "O meu avô também fuma." "O meu pai bebe!"
E o que as crianças querem ser quando crescer? "Astronauta", diz Sara. Yasmin quer ser cantora. "E o que você vai cantar?", pergunta o governador. "Ah! Músicas!" Raul quer ser policial militar. "É um curso muito bom", diz Serra. Gabriela Cassia quer ser médica. Mariana quer ter 800 cachorros em seu quintal. "O irmão dela beija cachorro na boca", diz Sara. Helen, Thallia e Naiane querem ser professoras.
"É assim?", pergunta ele. "Nããão!" Serra corrige: "Conçeissão". Errado. "Conçeição", escreve ele. Não! "Jefferson, como é que é?" "Tem que apagar a cedilha."
Cada aluno tem à frente um pedaço de cartolina amarela com seu nome para que o governador possa identificá-los. "Desirré...", lê Serra. E, para a garota, na primeira fila: "Desirré, você sabe quem era a Desirré?" "Não", responde Desirré, de nove anos. "Ela era a grande paixão do Napoleão Bonaparte." "Aahh..." "E sabe o que quer dizer esse nome em francês?" E a garota: "Eu pesquisei. Querida!" E Serra: "Desejada".
Desde os tempos da prefeitura, o tucano dá uma aula por mês em alguma escola pública de SP. Diz que faz isso por prazer, "porque me faz bem". A professora pede que Desirré faça a primeira pergunta: "Como foi a sua infância?" "Ah, foi bastante movimentada. Eu era lá da Mooca. Eu entrei no jardim infantil e chorava feito louco. Os padres eram durões. Eles batiam. Era puxão de orelha ou ajoelhar no milho." "Como é o seu dia?", questiona Sara. "Quando o senhor era pequeno, era quieto?", pergunta Jackson.
Serra não escuta direito: "O quê? Você tem que falar forte, Jackson". O governador aumenta o tom de voz, abre os braços: "For-te!!!" E então responde: "A professora dizia que eu era matraca".
"Gabriela, você mora por aqui?" A garota ensaia uma resposta. "Alto! Alto, Gabriela. Vocês têm que falar alto!! Gritar, como quando a professora não está na classe." Outro estudante, Raul, levanta a mão. "O senhor..." Serra interrompe: "O quê? Alto! Fala alto!" Raul continua: "O senhor poderia construir um laboratório aqui?" "Não tem laboratório aqui? Nós vamos ver isso." Camille levanta a mão: "Se o senhor quiser colocar telhado na quadra de esportes... precisa". E Marcelo: "Pode construir uma piscina de natação?" Sara também tem o seu pedido. "Poderia construir um prédio aqui em cima...(Serra interrompe: "Fala alto, Sara!')... para o ensino médio?" Os alunos também querem o retorno do programa Escola da Família, em que o estabelecimento fica aberto nos finais de semana para ser usado pela comunidade.
Outro aluno pede um ambulatório. O governador pondera que o melhor é usar os serviços de uma unidade da AMA (Assistência Médica Ambulatorial) logo ali perto. "O Anderson outro dia usou. Ele foi atropelado", conta a professora Conceição. "É mesmo?", diz Serra. "Eu também já fui atropelado!" Quando era criança, ele brincava na rua e sofreu um acidente. "Eu queria saber...", começa Gabriela. "Alto, Gabriela!", interrompe Serra. Ela grita. "Eu queria saber se o senhor poderia construir outra quadra aqui!" Camila também grita. "E também se poderia colocar corrimão nas escadas!" "Essa sala aqui é sindicalista. Nós estamos anotando tudo, viu?", responde o governador.
Hora da chamada oral. Serra pergunta qual é a capital do Amapá. Só quatro respondem: Macapá. "E de Roraima?" Silêncio. "E da Paraíba?" Silêncio. "E de Goiás?" "Goiânia!", gritam as crianças. A professora Conceição sorri.
Agora, matemática. "Hoje nós vamos ver como a gente faz gráficos e tabelas. Por que eles existem? Não é para aumentar o conhecimento. É para resumir o que a gente sabe." O governador faz dois riscos na lousa -um na horizontal, outro na vertical. Escreve "ordenadas" e "abcissas".
O primeiro gráfico é sobre o número de torcedores que cada time tem na sala -são 14 corintianos, 12 são-paulinos, quatro santistas e três palmeirenses. O seguinte é sobre a população de SP, "que tem mais de 40 milhões de pessoas". "Noooosa!", reagem os alunos.
O governador escreve na lousa o número de alunos da classe: 37. "Qual é a metade de 37, Juliana?" Silêncio. Um garoto levanta a mão: "É 23!" "Não, 23 não é", diz Serra. Mais silêncio. Ele tenta explicar a operação ao contrário. "Vamos pensar. Quanto é duas vezes 18?" A criançada se anima: "16!" "Não!", diz o governador. "Eu não posso multiplicar dois por 18 e chegar a 16. Eu vou dobrar e vai diminuir?" Ele insiste. No fundo da classe, Leandro salva a pátria. "É 36!"
"E quem é bom de tabuada? Vamos ver. Julia, quanto é seis vezes sete?" "42." Ela ganha um beijo. "E cinco vezes seis?" "30." "Raul, quanto é sete vezes oito?" "Esqueci." "Gabriela, quanto é sete vezes oito?"
A aluna olha para trás, em busca da ajuda da amiguinha Helen. Que fica em silêncio. "Tabuada é muito importante. Viu, Conceição? Você deveria dar tabuada para eles todos os dias, fazer um torneio." A professora explica que só dá aulas de português.
A escola Professor Lael de Moura Prado é "uma das melhores da diretoria Norte 2 [uma das subdivisões da administração escolar]", diz a professora Conceição à coluna. A nota média dos alunos no Saresp, a prova que avalia as escolas, foi 5,44. Depois de parabenizar o governador "pelos investimentos que tem feito em educação", a diretora Maria Sul Helena Luzio diz que um de seus maiores problemas é a rotatividade de professores. E lamenta: "O diretor é a figura mais solitária dentro de uma escola".
Na classe, o governador distribui jornais (a Folha), lê com os alunos, fala de atualidades. "Sabem o que eu fiz hoje? Eu comi carne de porco para os jornais mostrarem e as pessoas pensarem: se transmitisse gripe suína, o Serra não ia lá comer."
"Vocês ouviram falar numa lei que diz que não pode fumar em lugar público? Quem aqui o pai fuma?" Muitos levantam a mão. "Minha mãe também fuma." "O meu avô também fuma." "O meu pai bebe!"
E o que as crianças querem ser quando crescer? "Astronauta", diz Sara. Yasmin quer ser cantora. "E o que você vai cantar?", pergunta o governador. "Ah! Músicas!" Raul quer ser policial militar. "É um curso muito bom", diz Serra. Gabriela Cassia quer ser médica. Mariana quer ter 800 cachorros em seu quintal. "O irmão dela beija cachorro na boca", diz Sara. Helen, Thallia e Naiane querem ser professoras.
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