Depois da estreia no circuito internacional de palestras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a trabalhar e começou ontem a assumir suas novas funções políticas após oito anos no Planalto. Em uma reunião no Instituto da Cidadania, em São Paulo, Lula encontrou-se com parlamentares e dirigentes do PT para organizar um grande movimento nacional pela reforma política. Nas palavras do presidente interino do PT, Rui Falcão, o ex-presidente não será um condutor do processo, mas "um animador" convidado pelo partido.
Lula conversará com os partidos políticos e os movimentos organizados da sociedade civil - como centrais sindicais e organizações não governamentais (ONGs) - para reunir propostas comuns e pôr em votação até setembro um projeto que possa refletir "os interesses do povo".
Atualmente, a discussão da reforma política está a pleno vapor no Congresso, onde há uma comissão especial no Senado, que concluiu seus trabalhos de modo sumário, após 45 dias, e na Câmara, cujo prazo é de 180 dias.
Lula entra em campo com a missão de ser um "catalisador" do processo. Desde a redemocratização, o Parlamento já tentou por diversas vezes fazer uma ampla reforma política, que sempre naufragou diante da enorme divergência de interesses entre os partidos e no interior deles.
Diante dessas tentativas fracassadas, Rui Falcão comparou o processo à lenta conquista da redemocratização, após o regime militar, que só se concretizou após um grande movimento nacional pelas eleições diretas.
O presidente interino do PT afirma que haverá uma agenda partidária, na qual Lula conversará com todos os partidos representados no Congresso - inclusive os da oposição - e uma agenda de encontros com representantes da sociedade civil, que incluem mais de 40 entidades, como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e as centrais sindicais.
"Hoje todo mundo atenderia a um convite do presidente para ouvi-lo expôr suas ideias", disse.
O papel de Lula, porém, atende aos interesses do próprio PT, que não quer perder o papel de líder na condução dos rumos da reforma política. "É uma bandeira nossa", afirma Falcão.
Durante o governo Lula, as principais propostas de reforma política defendidas pelo PT foram postas à prova e rejeitadas, em 2007 e 2009. Nos últimos meses, a discussão do tema ganhou novo rumo, quando o PMDB e o PP entraram pesadamente na questão e conquistaram adesões. Enquanto o PT defende o voto partidário, em lista fechada - pelo qual o eleitor passaria a votar só em partidos -, as cúpulas pemedebista e pepista propõem o distritão, modelo mais personalista, que prioriza o voto nos candidatos.
"Mas é uma proposta que já começou a perder impacto", argumenta Falcão, ao se referir à derrota do distritão para a lista fechada como o modelo que a comissão especial do Senado levará à Comissão de Constituição e Justiça e depois ao plenário.
Como, apesar disso, a divisão no Congresso ainda é grande, o PT prefere concentrar esforços em outros pontos que, afirmam, seriam mais consensuais, como o financiamento exclusivamente público de campanha e uma restrição à ação da Justiça Eleitoral.
"Hoje há uma insegurança jurídica muito grande, em termos da validade das candidaturas e dos resultados. O eleitor vota e depois há impugnação. Há uma disputa eleitoral e depois uma judicial", afirmou o líder do PT na Câmara Paulo Teixeira.
O encontro contou com deputados e senadores que estão nas comissões do Congresso, que comentaram a recente polêmica que envolve Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ontem afirmou em entrevista a uma rádio que Lula estaria "mamando na elite" - em referência a palestras para grandes empresas pelas quais recebe US$ 100 mil - e o desafiou a disputar a eleição presidencial de 2014.
"Não teria nem graça. Porque Fernando Henrique é passado e Lula ainda é uma coisa extremamente presente", disse o senador de Pernambuco Humberto Costa.Valor
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