Mal refeitos da incursão predatória do senhor Gilberto Kassab sobre suas fileiras, os líderes do DEM e do PSDB já se movimentam no sentido de firmar um pacto de eleitoral para 2012, no qual as direções partidárias tenham poder efetivo para solucionar as demandas municipais. Muito do que ocorreu nas eleições presidenciais de 2010, segundo avaliação de dirigentes das duas agremiações, deve-se ao desencontro de tucanos e demistas nas eleições de 2008.
"Este é o momento de o partido se manter firme, preservar os seus ideais, sua história, se reestruturar sob a presidência do senador José Agripino e partir para as eleições de 2012", disse à coluna o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Antonio Carlos Magalhães Neto. "O que vai acontecer a partir daí é uma outra história", afirmou ACM Neto. O deputado é apontado com frequência como defensor da fusão DEM-PSDB, o que ele efetivamente tem em perspectiva, mas para um segundo momento, depois que as eleições municipais estabelecerem o que o eleitor pensa e quer da oposição ao governo.
Na ótica de ACM Neto, mais do que a oposição está perdendo "é o governo quem está ganhando". Ele não foge à regra e culpa a precariedade do sistema político-eleitoral "que leva as pessoas a ter ímpeto governista". A realidade dos fatos, na opinião do herdeiro político do carlismo na Bahia, "é que a criação do PSD é uma porta de acesso ao governo, uma janela para burlar a lei da fidelidade partidária - esta é a principal razão, este é o principal motivo: o adesismo". Até agora a bancada liderada por Neto perdeu dez deputados, passando de 44 para 34 cadeiras na Câmara.
Oposição articula reação à razia de Gilberto Kassab
"Por outro lado, existe um grande espaço perante a sociedade para o trabalho de oposição", disse o deputado. ACM Neto nasceu e cresceu na situação, mas há oito anos amarga a condição de oposição em nível nacional e na Bahia. Integrante de um partido cuja sobrevivência na oposição não se aposta um níquel, ele exibe um certo desdém em relação aos que não suportam mais ficar contra o governo e procuram abrigo no PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. "Neste momento nos interessa mais a qualidade das pessoas que vão ficar do que a quantidade".
"Exceto dois ou três nomes, a maioria dos políticos que vão integrar o PSD são pessoas de pouquíssima expressão, a grande maioria deles não tem sequer densidade nacional, o que reforça a tese de que a principal razão de constituição desse novo partido é o adesismo". ACM Neto citou duas exceções: a senadora Kátia Abreu (TO) e o próprio Gilberto Kassab, por ser o prefeito da maior cidade do país.
"O democratas tem um papel a cumprir na oposição", disse. "A fusão com o PSDB não pode ser alimentada neste momento", disse. "Primeiro nós temos que ver o resultado das eleições para depois analisar cenários ou especular sobre conjuntura".
Mais do que fusão, neste momento, ACM Neto acha que PSDB e DEM precisam "é fazer um pacto de alinhamento eleitoral nas principais cidades do Brasil para 2012". É sua opinião que, "se a oposição se organizar em torno de candidaturas competitivas, no ano que vem, ela começa a ganhar musculatura novamente e consegue compensar algumas perdas que teve agora com esse ataque especulativo do PSD".
"O nosso foco deve ser promover o alinhamento entre Democratas e PSDB nas principais cidades, onde, juntos, vamos criar regras objetivas para a escolha de quem serão os candidatos", disse. O deputado também defendeu que a direção nacional dos dois partidos operem "de maneira firme para garantir essa união em 2012, diferentemente do que ocorreu em 2008; parte do nosso fracasso em 2010 foi consequência da desarrumação de 2008, quando os partidos brigaram entre si em vários lugares".
Para citar apenas os maiores colégios eleitorais: em São Paulo, Kassab, candidato do Democrata, confrontou Geraldo Alckmin; no; no Rio de Janeiro, o PSDB apostou na celebridade fugaz do verde Fernando Gabeira, contra a candidata do DEM, Solange Amaral; em Belo Horizonte o Democratas lançou candidatura própria na contra-mão do governador Aécio Neves; e em Salvador ACM Neto, que estava "jurado" por Lula da Silva, ainda teve de engalfinhar-se com o candidato tucano Antonio Imbassahy.
"Nós temos que olhar para trás, enxergar esse grave erro e corrigir o rumo para 2012, articulando a união dos palanques dos dois partidos e com isso criar um ambiente de naturalidade no enfrentamento político", disse o líder na Câmara. "É melhor tratar desse assunto, se debruçar em torno disso e vamos para as eleições de 2012; depois nos sentamos novamente para ver como é que a coisa vai ficar".
Para demonstrar que os tempos são outros, ACM Neto cuida de dar o exemplo. O deputado já firmou um pacto com Antonio Imbassahy pelo qual PSDB e DEM estarão juntos em 2012, seja qual for o candidato a ser tirado entre os dois. O exemplo baiano é relevante: nas eleições presidenciais em que o DEM (ou seu antecessor PFL) apoiou um candidato tucano a presidente, o deputado Jutahy Júnior, principal líder do PSDB no Estado, não hesitou em perfilar com o PT, devido a inimizade com Antonio Carlos Magalhães, o ACM, que transcendia o embate puramente político. "A Bahia é solução, não é problema", assegurou o neto de ACM, que mantém relação cordial com Jutahy desde que o avô era vivo.
Em São Paulo, encontram-se avançados os entendimentos entre o DEM sem Kassab e o PSDB do governador Geraldo Alckmin. "Os principais interlocutores de lado a lado estão conversando", disse o deputado, fazendo questão de frisar a participação do presidente do DEM, José Agripino, e do líder no Senado, Demóstenes Torres. Do lado tucano, as conversas já passaram por Aécio Neves e o presidente do partido, Sérgio Guerra, além de Alckmin. Resta ao Democratas, por enquanto, aguardar a convenção nacional que vai eleger os novos dirigentes do PSDB, em princípio marcada para 29 de maio. Por Raymundo Costa
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