sábado, 3 de abril de 2010

Astros da bola vão às urnas

Ex-jogadores de futebol tentam se aproveitar da fama para conquistar votos de torcedores. Em comum, o discurso de que estão aprendendo a fazer política e o uso de chavões de velhos caciques

Com a bola nos pés, eles arrastaram um séquito de torcedores para os estádios, mas agora que a carreira acabou, tentam trocar o meião e a malha do clube pelo paletó e a gravata. Longe da Copa do Mundo deste ano, astros do futebol planejam transformar torcedores em eleitores para disputar o título de parlamentar nas assembleias e na Câmara dos Deputados. Sem saber muito bem qual é o trabalho de um político, elegem tutores para dar os primeiros passos no Legislativo.

Pré-candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro, o ex-camisa 11 da Seleção Romário é a esperança do PSB fluminense para ampliar a bancada na Câmara. O jogador se filiou ao partido pensando em ficar na Assembléia Legislativa, para não perder a rotina boêmia que tem no Rio de Janeiro, mas o PSB conta com ele para ser o puxador de votos da legenda. Contraditoriamente, a assessoria de Romário, porém, informa que ele não fala de política e assim recusou o pedido de entrevista.

Ex-companheiro de Romário no Vasco e no Flamengo, o atacante Edmundo, conhecido como Animal, também tem pretensões políticas. Filiou-se ao PP e pode disputar cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Do celeiro de candidatos do Vasco também saiu o ex-atacante Valdir Bigode. O ídolo vascaíno dirige atualmente o Campo Grande, da série C fluminense, e pretende conquistar uma vaga na Câmara pelo PTB.

O partido trabalhista tem se especializado em levar celebridades para o universo da política. Além de Valdir, vão disputar cadeiras no legislativo pelo PTB o ex-volante do Corinthians Vampeta e o ex-goleiro do Grêmio Danrlei. O gremista tem o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) como mentor político. Conta que pede ajuda aos colegas de partido no Rio Grande do Sul para conhecer o trabalho de um representante, mas que precisa aprender muito. “Comecei a conviver com representantes da vida política. Vi que é algo que eu tenho condições de fazer. Não conheço profundamente, pretendo aprender. Tenho humildade.” Apesar da rivalidade entre Grêmio e Internacional, o ex-ídolo tricolor afirma que pedirá votos aos colorados. “Eu tenho um carinho muito grande pelo torcedor do Grêmio, mas espero que a torcida adversária me veja com bons olhos.”

Estudo
Também no processo de aprendizado está Marcelinho Carioca, pré-candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSB de São Paulo. O ex-atacante do Corinthians conta que estuda “oito horas por dia” para aprender sobre as correntes históricas da democracia e para conhecer conceitos que explicam a “organização da vida em sociedade”. Marcelinho afirma que não é “um aventureiro”, mas, apesar de rejeitar o rótulo de ex-jogador para ganhar votos, vai usar o número da camisa que o consagrou no Corinthians nas eleições deste ano: “Meu número vai ser 4007, eu pedi isso ao Márcio França, presidente do partido em São Paulo, e fui atendido”.

Já experiente na vida pública, o ex-artilheiro do Botafogo Túlio Maravilha quer dar voo mais alto e trocar a Câmara Municipal de Goiânia pela Câmara Federal. Túlio orgulha-se de sua atuação como vereador e conta que já sugeriu 70 projetos de lei. Peemedebista, fala com admiração do pré-candidato ao governo de Goiás Iris Rezende (PMDB) e se entusiasma por ter recebido apoio do presidente de seu partido, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), para lançar candidatura. “Estive com o Temer e ele se mostrou solidário à minha candidatura. Por meio do futebol tive a oportunidade de conhecer vários políticos.”

Aventura
O ex-atacante do Corinthians já tem plataforma de campanha. O mote de Marcelinho será a luta pela escola em tempo integral. A trajetória no esporte, promete, será apenas para se vender como “referência”, “um menino pobre que saiu do Rio de Janeiro” e venceu no futebol. O ídolo do Corinthians não gosta de ter sua pré-candidatura comparada à de outros colegas. “Eu não vou aproveitar da fama para ser um político de sucesso. Eu venho de uma vertente diferente, não sou um aventureiro.” Ambientado à vida partidária, Marcelinho busca aproximação com nomes fortes de seu partido como
o deputado Ciro Gomes (CE) e o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf.

Luxemburgo quer virar senador

Assim como os astros do futebol, o técnico Vanderley Luxemburgo também pretende transformar o sucesso da carreira no esporte em votos. O treinador do Atlético Mineiro enfrenta, no entanto, problemas com a Justiça Eleitoral. Filiado ao PT de Palmas, Luxemburgo tenta desde o ano passado transferir domicílio eleitoral de São Paulo para Tocantins, onde quer disputar vaga de senador. No fim de março, o Tribunal Regional Eleitoral do estado negou o segundo recurso impetrado pelo treinador.

Além de Luxemburgo, outro atleticano quer testar suas habilidades nas urnas em outubro. Depois de jogar em estádios do mundo inteiro, em partidas pelos sete clubes em que trabalhou — cinco no Brasil e dois no Japão — e na seleção brasileira, o atacante Marques se filiou ao PTB de Minas Gerais no ano passado. Embora seja natural de Guarulhos, na Grande São Paulo, e tenha jogado na capital, pelo Corinthians e pelo São Paulo, e no Rio de Janeiro, pelo Flamengo e pelo Vasco da Gama, o jogador afirma ter escolhido Minas para retribuir tudo o que a população do estado lhe deu. Aos 36 anos, 23 de profissão, e duas passagens pelo Atlético, Marques quer se candidatar a deputado estadual e assume que vai entrar completamente cru na vida pública. Ele afirma querer dedicar o mandato, caso seja eleito, a projetos destinados a crianças carentes e a atletas aposentados.

Celeiro

Em Minas Gerais, muitos ex-jogadores de futebol conseguiram vingar na política. O primeiro deles foi o volante atleticano Haroldo Lopes da Costa, que se elegeu deputado na década de 1970. No final da mesma década, foi a vez do volante do Cruzeiro e zagueiro da Seleção Brasileira na Copa do México, Wilson Piazza, alcançar uma vaga na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Depois dele, outros jogadores penduraram a chuteira e tentaram a política. O lateral direito do Cruzeiro e da Seleção Nelinho chegou a cumprir um mandato de deputado estadual. Reinaldo Lima, centroavante do Atlético, foi deputado durante uma legislatura na década de 1990 e atualmente é vereador na capital mineira pelo PV. João Leite, ex-goleiro do Galo, já está no quarto mandato estadual. Em 2005, chegou a se candidatar a prefeito de Belo Horizonte, mas perdeu a disputa. Outro nome do esporte na política é o presidente do Cruzeiro, Zezé Perrela (PDT), que tem cadeira na Assembleia Legislativa de Minas. Correio

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