Acossado por denúncias de corrupção e filmado recebendo dinheiro vivo no escândalo do "mensalão do DEM", o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, tem hoje um patrimônio que, em apenas sete anos, cresceu 1.060%. Nas declarações apresentadas à Justiça Eleitoral, em 2002 e 2006, a soma dos bens do governador não passava de R$ 600 mil. Agora, o patrimônio real da família Arruda, só em imóveis, em Brasília, acumulou um valor de mais de R$ 7 milhões.
Antes, o governador declarava R$ 598 mil em bens, que incluíam apenas um imóvel em Brasília. As demais propriedades, um apartamento, uma casa e um lote, ficavam na cidade mineira de Itajubá, sua terra natal. Uma caminhonete, uma linha telefônica e uma conta com R$ 20 mil, no Banco do Brasil, completavam o patrimônio.
Da posse como governador do DF, em 2007, para cá, a maneira como as aquisições foram feitas levanta suspeita - em pelo menos dois casos, os imóveis foram comprados por terceiros e depois transferidos para filhos de Arruda. O hábito de registrar imóveis em nome dos filhos fez com que as declarações de bens apresentadas à Justiça Eleitoral ficassem modestas diante de seu patrimônio real.
A lista inclui aquisições recentes. Uma delas foi feita neste ano, após a gravação dos vídeos que mostram a farta distribuição de dinheiro do "mensalão do DEM". Em 17 de setembro, ele comprou cinco salas em novíssimo prédio comercial com localização nobre em Brasília, em frente ao Banco Central, ao preço de R$ 1,6 milhão. O negócio, registrado em nome do próprio governador, chama a atenção por várias razões.
Quem vendeu as salas foi a Brasal Incorporações e Construções, cujo dono é um correligionário do governador, o deputado federal Osório Adriano (DEM-DF), empresário de sucesso na cidade. De acordo com a escritura, pelas cinco salas, mais seis vagas de garagem, Arruda deu um sinal de R$ 350.000,08 e financiou a diferença direto com a construtora, em 91 prestações, sem juros.
A julgar pelas cifras previstas na escritura, o governador teria de comprometer uma parte considerável de seu salário só para pagar as prestações das salas. São R$ 9.999,98 por mês em prestações, quase dois terços dos R$ 16 mil que Arruda recebe como governador, mais as prestações intermediárias anuais de R$ 49.999,98.
Há mais negócios da família com a construtora do deputado-empresário Osório Adriano. Pouco depois da aquisição feita por Arruda, um de seus filhos comprou uma sala e duas garagens no mesmo prédio, por R$ 519 mil.
As salas do governador estão vazias até hoje. Na do filho funciona a Nabuko, empresa de design da qual é sócio. O filho também é sócio da Notabilis, que recebeu pelo menos R$ 604 mil da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), estatal que, segundo a investigação da Polícia Federal, na Operação Caixa de Pandora, teria abastecido o caixa 2 da campanha de Arruda em 2006.
Em 1992, bem antes de ser governador, Arruda incorporou ao patrimônio um apartamento de 245 metros quadrados na Asa Sul de Brasília. À época, ele era secretário de Obras do governo de Joaquim Roriz (ex-PMDB, hoje no PSC), atualmente seu inimigo político.
O Estado entrevistou na semana passada o antigo proprietário do imóvel - avaliado hoje em R$ 1,5 milhão. O imóvel foi pago por um empresário e registrado em nome de Arruda.
CIDADE-SATÉLITE
O enredo é semelhante ao da compra de outro apartamento, registrado em 2007, também em nome de um parente direto do governador.
A antiga proprietária, Ruth Chandler, disse ao Estado que vendeu o imóvel para um empresário do setor de transportes de Brasília, Milton Menezes Machado, que não chegou a passar o apartamento para seu nome. Na formalização da transferência, foi um dos filhos de Arruda quem passou a figurar como proprietário.
A escritura foi lavrada em um cartório do Núcleo Bandeirante, cidade-satélite de Brasília - procedimento usual no Distrito Federal quando se deseja esconder transações imobiliárias.
Em nome do mesmo parente de Roriz está registrado um apartamento no bairro do Cruzeiro, comprado em abril deste ano, por R$ 115 mil. "Foi à vista", relatou a arquiteta Natalie Tramontini, proprietária anterior.
A escritura foi registrada em um cartório da cidade-satélite de Brazlândia.
Outro apartamento, na quadra 112 da Asa Norte, foi comprado em 2005 e registrado em nome de mais um filho do governador.
EX-MULHER
No rol de imóveis adquiridos nos últimos anos por Arruda há ainda uma casa em um condomínio do Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul de Brasília.
A propriedade, avaliada em pelo menos R$ 2 milhões e comprada pelo governador em 2004, estava em nome dos filhos do primeiro casamento. Em outubro do ano passado, foi doada para a atriz Mariane Vicentini, com quem o governador teve um segundo casamento.Agência Estado
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