O escândalo do "mensalão do DEM" no Distrito Federal já impactou os planos da oposição para a disputa presidencial do ano que vem. A crise sepultou o debate sobre a antecipação do lançamento da candidatura, esvaziou o papel do DEM dentro da aliança nacional com o PSDB e será um tema desconfortável que o candidato escolhido precisará administrar durante toda a campanha de 2010.
Além disso, a crise explodiu no período em que o governador de São Paulo, o tucano José Serra, lidera as pesquisas de intenção de voto. Representantes de PSDB e DEM temem que as denúncias possam provocar algum tipo de reflexo negativo já nas próximas pesquisas, reduzindo a margem de vantagem que Serra tem sobre a ministra Dilma Rousseff, a pré-candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para piorar esse cenário, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu abrir, na semana passada, processo criminal contra o senador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB), que será julgado pelo caso que ficou conhecido como "mensalão tucano".
Azeredo chegou a ser presidente nacional do PSDB, o que empurra para a campanha tucana a carga negativa de ter integrantes do partido respondendo a acusações desse tipo.
Na campanha passada, o PSDB criticou a candidatura à reeleição de Lula por causa do envolvimento dos partidos aliados no escândalo do "mensalão petista", Lula e o PT foram pressionados a apresentar explicações sobre as denúncias.
A situação da oposição é pior, pela existência de vídeos e áudios com integrantes do DEM recebendo dinheiro vivo, o que não aconteceu anteriormente.
"A existência de vídeo e áudio é um complicador político a mais", reconhece o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Ele era justamente um dos maiores críticos da indefinição da candidatura presidencial de oposição. Não escondia sua preferência pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), mas aceitava apoiar Serra, desde que houvesse definição até janeiro.
Agora, bombardeado pela crise, que atinge diretamente o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), um de seus principais aliados, Maia admite que essa discussão "morreu". "Não existe clima para falar sobre esse assunto. O partido, agora, precisa se preocupar em cuidar de seus próprios problemas, que são extremamente sérios. Depois, podemos retomar essa discussão."
JOGO DE PRESSÕES
O escândalo fez com que os próprios tucanos parassem de pressionar o partido por uma decisão em torno da candidatura. Agora, acham que é até melhor esperar para definir o assunto e evitar que o candidato escolhido acabe sendo contaminado politicamente pelo problema.
No fim de novembro, o comando nacional do PSDB reuniu em Brasília os presidentes dos diretórios estaduais para avaliar o andamento das candidaturas regionais. A maioria dos tucanos defendeu que a candidatura fosse definida, no máximo, até janeiro. A posição foi defendida até pelo presidente do diretório do PSDB no Distrito Federal, Márcio Machado, que era o secretário de Obras do DF e foi um dos envolvidos no escândalo que implodiu o governo local. Na última sexta-feira, ele se licenciou do cargo na legenda.
Se o problema com o único governador do DEM serviu para frear as pressões que o partido fazia sobre o PSDB, trouxe também efeitos colaterais. O primeiro é o desgaste da oposição como um todo, pelo envolvimento de um quadro expressivo em um escândalo de grande impacto na opinião pública.
REVERTER DESGASTE
"A conclusão clara é que o ano de 2010 abre contra a oposição e a favor da do governo. Isso exige que se gaste menos tempo com notinhas e vazamentos e muito mais com talento e esforço para se avaliar de que forma se minimiza o impacto ou mesmo se o reverte", analisa o ex-prefeito do Rio César Maia (DEM).
Outro efeito colateral é um desgaste na relação entre o PSDB e o DEM. Os dirigentes do DEM reclamam que os tucanos não tiveram "solidariedade" com o partido, organizando reuniões às pressas para exigir que seus filiados deixassem obrigatoriamente os cargos que ocupavam no governo Arruda.
O atrito produz desconforto, mas não ameaça a aliança em 2010, segundo lideranças. Há jurisprudência política. Na campanha de 2002, a então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, era pré-candidata do então PFL e disparava nas pesquisas. Até que uma operação da Polícia Federal apreendeu R$ 1,34 milhão na sede de uma das empresas que ela possui com seu marido, Jorge Murad. A foto do dinheiro e a dificuldade para explicar a sua origem abateu a candidatura de Roseana.
Os pefelistas acusaram o então candidato tucano, José Serra, de ligação com a denúncia e ameaçaram romper. Poucos meses depois, porém, já estavam alinhados com o tucano, pedindo votos para o candidato.Estado
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