Por volta das 8h45, a manicure Joanice Sousa Dias, de 31 anos, começou a acordar seus filhos, Beatriz, de 10 anos, Luca, de 6, e Eric, de 4. Os três dormiam encolhidos e tortos em colchonetes colocados há duas semanas no chão frio da Escola Municipal Armando Cridey Righetti, no Jardim Romano, zona leste de São Paulo.
Entre as mais de 70 pessoas que dormem e passam o dia ali depois das inundações, que tomaram o bairro no dia 8 e persistiram por duas semanas, ninguém parece esperar pelo Natal, por presentes, ceias ou Papai Noel. Ontem, era preciso acordar para simplesmente esperar o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e pedir algo bem mais trivial e importante nessa situação - a chance de voltar para casa, qualquer casa, e dormir numa cama de verdade.
O prefeito visitou o abrigo improvisado na escola para um café da manhã com os moradores da região. Ele ficou por lá por 26 minutos, o suficiente para ouvir muitos pedidos, reclamações, receios e dúvidas.
“O mais honesto é fazer casa por casa, a gente é desapropriado aqui e a Prefeitura nos dá outra moradia. Boa parte dos moradores ganha um salário mínimo, como pagaremos R$ 120 de prestação da CDHU?”, perguntou Joanice. Kassab não respondeu a essa questão - disse apenas que era hora de se juntar à mesa do café.
“A insegurança é compreensível”, afirmou o prefeito aos jornalistas. “Cabe a nós nesse momento dar segurança a essas famílias, para que elas fiquem tranquilas e acreditem no poder público, que o auxílio-aluguel vai ser dado até o momento em que a moradia ficar pronta.”
Limpeza
A manicure Joanice resolveu abandonar o abrigo. Ontem mesmo, depois de conversar com Kassab, ela pegou um balde de cloro e partiu para limpar sua casa no número 12 da Viela dos Peixes, uma das áreas alagadas pelas chuvas no começo do mês.
“Vai dar trabalho, mas eu realmente preciso limpar tudo aqui, preciso retomar a vida”, diz Joanice. Enquanto ela e outros moradores voltavam para suas casas, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realizou uma força-tarefa nas ruas para combater os pernilongos. “É a minha casa, é tudo o que eu tenho. Não quero sair daqui para trocar pela incerteza do auxílio-aluguel. Nem sei como vai ser o Natal, a única coisa que eu quero é dormir na minha própria cama”, disse.Jornal da Tarde
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