Após o caos de anteontem na capital , o prefeito Gilberto Kassab (DEM) negou que a varrição de ruas na cidade seja ruim e culpou a população pelo excesso de lixo na rua. Já o governador do Estado, José Serra (PSDB), pediu para a população rezar contra outra "calamidade".
Kassab participou de uma entrevista coletiva e de dois telejornais para falar das enchentes. Nas três oportunidades, mostrou um discurso ensaiado. A principal questão que respondeu foi sobre o corte na verba para varrição de ruas, de 20% neste ano. Disse que o serviço "não está deixando a desejar".
"Em 2004, quando todo mundo criticava a administração anterior [da petista Marta Suplicy] entendendo que era um absurdo o valor gasto [com lixo], o valor era deR$ 590 milhões. Ano passado [já na gestão dele], investimos R$ 903 milhões", disse.
O prefeito rebateu afirmações sobre excesso de lixo nas ruas culpando a população pelo quadro. "Temos na cidade aproximadamente 1.500 pontos de descarte de entulho ilegais. As pessoas descartam o lixo, o entulho, e isso infelizmente contribui, principalmente na época de chuva, para que as águas levem esse lixo. Isso acaba contribuindo para a criação de pontos de alagamento."
Fora isso, ele disse que "em época de chuvas [no verão], a população deixa o lixo no horário da coleta" mas, como ontem a chuva não era esperada, isso não ocorreu e aumentou a quantidade de lixo espalhado pelas ruas.
Na parte elevada do Minhocão, que fica a cinco metros de altura e alagou, não há pontos de descarte de entulho. A via também não recebe lixo doméstico deixado para ser levado pelos caminhões. Mas o prefeito não explicou o que ocorreu lá. "Eu não vou falar sobre pontos específicos, que é uma questão técnica."
Apesar de admitir os pontos de entulho ilegais, Kassab diz que a prefeitura faz "uma fiscalização muito rigorosa" do problema, mas ainda "muito aquém da que queremos".
O prefeito negou falta de políticas preventivas contra enchentes, que disse serem constantes. Citou a construção de cem parques, que escoam a água, até o final do ano.
Justificar enchentes dizendo que a população joga muito lixo na rua não é novidade entre prefeitos. "Enquanto a população não se conscientizar de que não deve jogar lixo nas ruas e córregos, o problema das enchentes continuará", disse Paulo Maluf (PP), em fevereiro de 1995. "Há maus cidadãos que não respeitam a sua cidade e entopem as bocas de lobo" --Celso Pitta, em março de 1998. "Eu divido essa responsabilidade", disse Marta Suplicy (PT), em novembro de 2001.
Reza
O governador José Serra preferiu culpar a natureza pela enchente. "Num temporal desse tamanho, mesmo que tivesse tudo impecável, seria inevitável ter problemas graves. [...] O problema, em grande medida, está na natureza. Uma calamidade como a que houve ontem, nós temos que rezar para que não se repita. O governo está fazendo o máximo dentro daquilo que dispõe. Num aglomerado urbano do tamanho de São Paulo, com toda essa impermeabilização que existe, a natureza se rebela."
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