terça-feira, 30 de junho de 2009

PF aprimora software de retrato falado


A partir de hoje, Horus, deus da mitologia egípcia passa a prestar serviços para a Polícia Federal (PF) do Brasil. Isso não quer dizer que a divindade irá bater ponto na instituição. Na verdade ela está apenas emprestando seu nome para um projeto que tem como objetivo melhorar o trabalho de confecção de retratos falados de suspeitos de crimes em todo Brasil.

O sistema Horus foi desenvolvido integralmente por profissionais do Instituto Nacional de Identificação (Ini). "Já conhecíamos os produtos disponíveis no mercado, e nenhum atendia nossas demandas", diz Carlos Eduardo Campos, papiloscopista envolvido no projeto que levou quatro anos para ser concluído. O papiloscopista é o profissional responsável pela representação facial humana, ou elaboração de retratos falados, recurso usado pela polícia quando testemunhas conseguem descrever um criminoso. Por ano, a Polícia Federal elabora cerca de 800 retratos.

Os únicos recursos empregados no desenvolvimento do Projeto Horus foram o tempo e a dedicação de três papiloscopistas e de um funcionário da área de tecnologia do Ini. Na hora de implantá-lo em outras unidades da corporação, o investimento previsto é apenas na capacitação dos profissionais nas novas técnicas desenvolvidas para o Horus.

"O sistema usado atualmente cria imagens em preto-e-branco e de baixa resolução, que não recebem tratamento quanto a brilho e textura, por exemplo", explica Campos. Com um custo de R$ 20 mil por licença de uso, o software usado desde 1999 tem ainda a limitação das características faciais disponíveis, segundo Campos. "Elas são baseadas na população dos Estados Unidos", diz. A criação de um banco de imagens com características locais foi o primeiro trabalho na criação do Horus. O sistema começa a funcionar com um catálogo de seis mil itens.

É possível simular disfarces e até o envelhecimento de uma pessoa com bastante realismo. "Alguns colegas chegaram a achar que [os retratos falados feitos com o Horus] eram fotos", diz Campos. A confusão acendeu uma luz amarela: se internamente existe essa dúvida, um advogado pode tentar questionar o uso de um retrato falado tão real afirmando que é uma foto, e não uma simulação feita com base no relato de uma testemunha. Para combater isso, os retratos serão impressos com um carimbo de Composição Fotográfica, e terão também informações que permitam que eles sejam refeitos facilmente em caso de contestação.

A expectativa é de que todas as delegacias da PF recebam o Horus até o fim do ano, e que pelo menos 100 dos 400 papiloscopistas que atuam no país sejam capacitados. O software também estará disponível para adoção em outras forças policiais por meio de acordos de cooperação tecnológica.

De acordo com Luiz Fernando Corrêa, diretor geral da Polícia Federal, o Projeto Horus faz parte de uma iniciativa maior de modernização da gestão da entidade. "Queremos tornar a PF uma referência mundial em segurança pública até 2022", diz. Segundo ele, uma das vertentes deste trabalho é a excelência na produção e custódia de provas. Com melhores elementos para condenação de um suspeito, Corrêa afirma que a PF poderá adotar este número como indicador de performance de suas ações, ao invés do número de prisões e apreensões.

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