segunda-feira, 15 de junho de 2009

Divisão do PT em eleição interna mantém a salvo apoio a Dilma


No momento em que o PSDB não consegue superar a divisão interna, a consolidação da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) uniu o PT e devolveu ao partido a expectativa de manter o poder, o que não dispunha, de fato, até bem pouco tempo. O resultado é que a lógica de fração que preside a sigla deve prevalecer na renovação do comando partidário, em 22 de novembro, mas esta será uma eleição em que os petistas devem demonstrar um raro entendimento entre suas tendências.

"Agora temos um candidato de verdade", diz o líder na Câmara, Cândido Vacarezza (SP). Há até quem defenda a formação de uma chapa única com base na proporção de cada grupo na última eleição, caso do deputado José Genoino (SP). "Então nós transformaríamos o dia da eleição num grande evento de unidade política", diz o deputado.

É difícil, como reconhece o próprio candidato do grupo majoritário, o presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra. Integrante da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), Dutra tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e já abriu negociações com as demais tendências do PT, inclusive a segunda maior delas, a Mensagem, que tem como líder o ministro Tarso Genro e deve concorrer com o deputado José Eduardo Cardozo (SP). Dutra acha que a lógica de fração deve se manter em mais essa eleição: é a maneira que os grupos petistas têm de medir sua força - "contar as garrafas", como dizem os petistas históricos. Afastado há sete anos da rotina petista, Dutra procura agora restabelecer a convivência partidária para se favorito.

Uma demonstração do novo clima vivido pelo PT é o apoio dado pelo ex-ministro José Dirceu ao candidato Dutra, embora o ex-presidente da Petrobras não seja o seu candidato dos sonhos. O governador Marcelo Déda, que encampou a tese de refundação do ministro Tarso Genro, na crise do mensalão, apoia a candidatura do aliado, que antes do governo Lula era senador por Sergipe. Dutra agora conversa com outras três tendências que já haviam fechado com a CNB, se o candidato fosse Gilberto Carvalho (Lula não liberou seu chefe de gabinete): Novo Rumo, do líder na Câmara, Cândido Vacarezza (SP), que deve apoiá-lo, PT de Lutas de Massa, do deputado Jilmar Tatto (SP) e Movimento PT, capitaneada pelo deputado Arlindo Chinaglia (SP). "Já tivemos uma conversa. Mas no momento a posição que prevalece é a que foi tirada em encontro nacional pela candidatura própria", diz Chinaglia.

Vacarezza acredita que "essa eleição não será ditada pela lógica das tendências", isso porque o partido fechou com Dilma e pelo fato de as pesquisas indicarem que a candidatura da ministra é viável. E expectativa de manter o poder era algo que o PT não tinha, a ponto de o partido namorar com a ideia do terceiro mandato: Genoino é o relator da emenda que tramita no Congresso e pretende apresentar seu parecer na próxima quinta-feira ou, no máximo, na terça-feira 23. "No mérito eu sou contra, mas a fundamentação lá na CCJ tem de ser de técnica, e eu ainda não escrevi o parecer", diz o deputado. De fato, cabe à Comissão de Constituição e Justiça apenas se manifestar sobre a constitucionalidade da emenda e não sobre seu mérito.

Para o líder na Câmara, a consolidação da candidatura Dilma permitiu dois movimentos ao PT, um ofensivo, no sentido da unidade, e outro defensivo, pois fica claro ao partido que "se nós começarmos a brigar entre nós, vamos ter problemas". Integrante do Diretório Nacional, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh lista os aspectos em torno dos quais se costura a unidade petista, no momento: "A candidatura Dilma, a defesa do governo e a política de alianças". Vacarezza acrescenta mais um: "Os elementos já postos para a campanha da Dilma, como a continuidade com mudanças", diz. Ou seja, "a correção de eventuais erros e o aprofundamento dos acertos", acentua Vacarezza.

O reconhecimento da viabilidade da candidatura Dilma, no entanto, não ilude o candidato favorito para presidir o PT, José Eduardo Dutra: "Vai ser uma eleição polarizada com o Serra (José Serra, governador de São Paulo) e muito difícil, mas temos todas as condições de vencer", diz ele. O PT celebra uma pesquisa que encomendou ao instituto Vox Populi, na qual aparece com 29% dos 49% dos eleitores que declararam ter preferência partidária, muito à frente do PMDB, com 8% e do PSDB, com 7%. Outra medição: o PT é o partido com maior "recall", com 35%, enquanto o PSDB parece em terceiro, com 14%, atrás do PMDB e seus 24%. E caiu por terra a percepção de que o PT atrapalhava o governo Lula: 70% responderam que o partido ajuda no país a crescer.

Apesar do otimismo sobre a unidade manifestado pelos petistas, no entanto, pelo menos um aspecto da lista de convergências já está dando problemas: a política de alianças. Todos concordam que a aliança nacional deve reger os acordos regionais. Dutra inclusive acredita que pode formalizar a coligação com o PMDB, de vez que na próxima eleição não haverá mais verticalização (a lei que condicionava as coligações estaduais à coligação nacional). O problema é que cada petista concorda com a tese da aliança ou prioridade de coligação com o PMDB desde que seja no Estado vizinho.

No Rio Grande do Sul, o argumento é que PT e PMDB são partidos que, tradicionalmente, polarizam as eleições gaúchas. Em Minas Gerais, são dois os candidatos de porte desavindos desde a eleição municipal: o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e o ex-prefeito Fernando Pimentel - mas é Hélio Costa (PMDB) quem está na frente das pesquisas. No Rio de Janeiro o PT quer quebrar o acordo com o PMDB.

Certo, mesmo, parece ser a adesão do PMDB paulista a Serra e a convicção da cúpula petista de que poderá convencer Ana Júlia Carepa que ela não tem chance de reeleição ao governo do Pará, se não se aliar ao deputado Jader Barbalho, mais forte pemedebista no Estado. Por: Raymundo Costa

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