Marcos Coimbra Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.
Indicações presidenciais
Ser o candidato de alguém pode ser um excelente cartão de visita ou um problema para quem quer vencer uma eleição.Feita a escolha de quem vai representar o presidente Lula, o PT e o governo na próxima eleição presidencial, apenas o passo mais simples foi dado. O verdadeiro problema começa agora. Contrariando sua história de complicadas acomodações entre correntes e tendências internas, o PT não demorou nem o prazo regimental para concordar com o que queria o presidente. O mesmo aconteceu com o governo, apesar da heterogeneidade das forças que nele convivem. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Pensando do ponto de vista de Lula, bem fez ele quando precipitou o processo de escolha da candidata para sucedê-lo. Com sua imensa habilidade e o faro que tem para perceber o timing da política, ele viu que a hora que se oferecia tinha que ser aproveitada. Não seria ele quem iria desperdiçar a oportunidade que 70% de aprovação significavam. Hoje, por exemplo, as coisas já poderiam não ser iguais. Com uma tendência de queda nos números e uma perspectiva de piora na economia, talvez não fosse tão tranquila a assimilação de sua indicada. É claro que nada existe de definitivo nessa matéria e que, se a candidatura da ministra Dilma não deslanchar, as opções serão reabertas. Mas terá sido um investimento desperdiçado de capital político e de tempo tão grandes que talvez seja melhor ficar com ela. A crer nas pesquisas recentes, de uma coisa parece que podemos estar certos: a simples indicação de seu nome por Lula não a vai eleger. A proporção dos que se dizem dispostos a votar em quem quer que seja a pessoa que ele apoie não chega a um quarto do eleitorado. Isso não reduz a importância de Lula como liderança e nem significa algum tipo de questionamento de sua autoridade. As mesmas pesquisas mostram que, se e quando ele se candidatar outra vez, uma boa maioria da população se disporia a votar em seu nome. Caso, por exemplo, se candidatasse hoje, venceria a eleição. A questão é que isso não vai acontecer e que seus eleitores não vão encontrar seu nome na máquina em 2010. Passa a ser, portanto, irrelevante a discussão de quão grande é sua popularidade e o carinho que por ele têm muitas pessoas. Ser o candidato de alguém pode ser um excelente cartão de visita ou um problema para quem quer vencer uma eleição. Governantes populares costumam facilitar o trabalho dos que se apresentam como seus sucessores. Inversamente, quem não está bem torna tudo mais complicado. Vide, por exemplo, José Serra em 2002, que teve que fazer alguns malabarismos para driblar o peso de representar um governo em crise de imagem. Mas nem se vencem ou se perdem eleições por causa dos cartões de visita. Abrem-se ou fecham-se mais as portas em função do que cada candidato tem para apresentar, mas só isso. “Dilma, candidata de Lula, prazer em conhecê-los”, é pouco. Já vimos, em outras eleições para cargos majoritários em estados e municípios, que apresentações como essa só bastam para pequenas parcelas do eleitorado. Mesmo governantes recordistas de aceitação, com números até melhores que os de Lula, enfrentaram dificuldades com candidaturas postas assim. Falta muito tempo até a eleição e há muita coisa que pode ser feita para que outros elementos se agreguem à imagem da ministra. Sua biografia merece respeito. Tanto ela, quanto Lula sabem das dificuldades que os aguardam. Não só ela precisa ser construída, adquirindo os atributos (reais e simbólicos) de quem quer ser presidente da República, como tem que os ter em maior proporção que seus adversários. Nenhuma das duas coisas se resolve exibindo um cartão de visita.
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