ELEIÇÕES 2010
Dilma, uma candidata à vontade
Mudanças da ministra não ficaram só no visual. Amigos e assessores avaliam que a preferida do presidente Lula para sucedê-lo também passou a assimilar melhor o perfil de postulante ao Planalto.
A chefe da Casa Civil, braço direito do presidente, tem sido a estrela de cerimônias que tratam do anúncio de medidas do governo Lula.
Que a ministra Dilma Rousseff mudou nos últimos tempos, ninguém duvida. As transformações são visíveis. A começar pelo novo visual, suavizado por uma operação plástica, pela adoção de um novo penteado e guarda-roupa. Mas, para um colega de ministério com gabinete próximo ao dela, a principal mudança é outra, mais sutil. “Ela está mais à vontade com a candidatura à Presidência da República. Antes, encarava como uma missão. Hoje, já vê como um projeto”. A metamorfose da ministra técnica na candidata boa de briga e de palanque está quase completa. Na quarta-feira, ela foi a estrela da apresentação do plano Minha casa, minha vida, pelo qual o governo Lula promete construir um milhão de moradias. Estava à vontade, gesticulando, com um discurso em que os números perderam espaço para a venda do conceito do programa. A cúpula do governo não conseguiu evitar a comparação com outra cerimônia semelhante, quando ela apresentou ao país o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na ocasião, ela fizera uma enorme apresentação, com uma longa sequência de gráficos em power point. Desta vez, os gráficos praticamente desapareceram. “Ela estava muito mais leve”, diz um ministro. Depois, foi o momento de uma maratona de entrevistas. Dilma respondeu ao ataque da oposição antes mesmo que ele fosse feito. “A oposição dirá que o projeto é eleitoreiro, mas eles dizem isso a cada vez que o governo lança um programa que beneficiará a população.” Quando a notícia apareceu nos telejornais à noite, a frase dela veio colada às previsíveis críticas dos adversários. No dia seguinte, antes das 8h, ela já estava pronta para uma nova rodada de entrevistas ao vivo. A mudança de visual, conta um ministro palaciano, não foi sugestão dos marqueteiros e sim uma decisão pessoal de Dilma. Para quem a conhece, mais que uma consequência, foi um sintoma da transformação mais profunda da ministra. Dureza O programa de habitação popular pode ter sido anunciado pela nova Dilma, mas foi elaborado pela antiga. Durante a criação do projeto, ela agiu com dureza contra os setores do governo onde identificava resistência. Bateu de frente com o Ministério do Meio Ambiente e a Caixa Econômica Federal, para citar apenas alguns integrantes da lista. Só descansou quando o programa ganhou a cara pedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com fortes subsídios para compra para as famílias de baixa renda adquirirem imóveis. Em outras áreas, ela se manteve a mesma, mas a importância que ganhou ao ser ungida como candidata é que faz a diferença. Nas decisões sobre economia, sempre atuou mediando a queda-de-braço entre os diferentes segmentos do governo, mas pendendo para o lado desenvolvimentista. Foi decisiva, por exemplo, para a indicação de Guido Mantega como ministro da Fazenda. Hoje, com mais força, atua ao lado de Mantega no debate sobre a condução da política econômica, em contraposição ao conservadorismo do Banco Central. Ou talvez seja melhor dizer que Mantega atua ao lado dela.
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