Parlamentares que costumam frequentar o quarto andar do Palácio do Planalto têm se deparado com uma significativa mudança no comportamento da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Antes considerada excessivamente técnica por congressistas frustrados pela ministra na busca de recursos para projetos em seus estados, Dilma tem se desdobrado para celebrar alianças no Congresso, fundamentais para pavimentar sua rota em direção ao gabinete presidencial, em 2010.
Ao que parece, tem funcionado o bambolê enviado em janeiro pelo líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), como um presente para a chefe da Casa Civil. Ela ganhou "jogo de cintura". "Ela está mais política e sociável", observa o próprio deputado.
Alves foi agradavelmente surpreendido há poucas semanas quando, em audiência com a ministra, acompanhado pela governadora de seu estado, Wilma de Faria, e pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), se deparou com a nova postura da ministra. O objetivo da audiência era garantir investimentos federais na construção de uma refinaria de petróleo e uma usina térmica no estado, pela Petrobras. Os três saíram encantados da Casa Civil. "Ela estava com uma postura mais interessada em agilizar as coisas para o estado. Nos ouviu e disse ‘Vamos resolver isso’. Ela está muito mais sensível ao outro lado do balcão, sem dúvidas", derrete-se Alves.
Um dos principais objetivos da mudança é a formação de uma base própria no Congresso, missão que os assessores da ministra acreditam ser mais fácil com políticos de fora do eixo Rio-São Paulo, visto como zona de influência da candidata à prefeitura da capital paulista, Marta Suplicy. Isso porque uma eventual vitória na disputa pelo Palácio do Anhangabaú, sede do governo paulistana, colocaria Marta em posição de competir com Dilma pela candidatura petista à sucessão de Lula. Longe do território de Marta, Dilma teria mais vantagens em conseguir formar suas alianças, avalia um parlamentar do PT com trânsito no Planalto. "Depois das eleições, ela ainda vai ter que fazer vários ajustes para se adequar ao papel de candidata em 2010. Ela está mais atenciosa, mas ainda não convive o suficiente com o Parlamento. A ministra sempre foi muito distante dos congressistas", ressalva o líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR).
Repaginada
O marqueteiro João Santana, responsável pela campanha de reeleição do Presidente Lula está por trás da repaginação da ministra Dilma Rousseff. Doze quilos mais magra, mais sorridente e com um guarda-roupa reformulado, com terninhos mais claros e estampas florais aqui e acolá, Dilma tem investido em uma imagem mais leve, mais palatável para o eleitorado - e para aliados em potencial. Pode ser vista ensaiando passinhos de dança ou tocando reco-reco, como no jantar de campanha pela eleição do prefeito de Vitória, João Coser (PT).
Também remodelou o discurso, deixando de lado a formalidade excessiva. Em Ipojuca (PE), há duas semanas, quebrou o protocolo e cumprimentou em primeiro lugar os "trabalhadores e trabalhadoras", no lançamento do Programa de Modernização e Expansão da Frota, da Transpetro. Além de incorporar o epíteto de "mãe do PAC", foi chamada de "madrinha" da indústria brasileira. "Mas o temperamento continua o mesmo, volta e meia ela tem que se policiar", conta um ministro próximo ao gabinete de Dilma.
Há duas semanas, em uma reunião no Palácio do Planalto, a ministra se encrespou com o colega da Agricultura, Reinhold Stephanes. Chegou a bater na mesa, durante a altercação. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, teve de intervir. ‘Calma, companheira Vanda’, disse Minc, lembrando o codinome usado por Dilma nos tempos de clandestinidade. Ainda tensa, a ministra riu. E voltou ao modelito "Paz e Amor" que elegeu Lula, em 2002.
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