quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Lula trabalha para dar um vice do PMDB a Dilma


O Presidente Lula está empenhado na indicação de um nome do PMDB como candidato a vice na chapa de sua candidata preferida às eleições presidenciais, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Lula já falou do assunto com integrantes da cúpula pemedebista, ministros e governadores, que entendem da mesma maneira as razões do presidente: trata-se de uma aliança lógica tanto do ponto de vista da governabilidade quanto eleitoral.

No PMDB, o assunto é tratado com cautela. Primeiro, pelo tempo que ainda separa as atuais eleições municipais das de 2010. Além da atual disputa eleitoral, até lá haverá sucessão nas presidências da Câmara e do Senado, e a renovação da própria cúpula partidária. Apesar de o presidente da sigla, Michel Temer, considerar que o PMDB se acha num "momento inédito de unidade", o fato é que a maioria dos caciques desconfia do PT como parceiro e dizem que não se sentem obrigados a nada em 2010.

Em dois anos haverá eleição também para os governos estaduais e para duas vagas de senador. Pelo número de postos em jogo, seria até mais fácil compor as duas siglas. Mas a dificuldade do PT para fazer aliança mantém um clima de tensão no PMDB, sobretudo porque Lula já estará de saída em 2010 e ninguém tem a mais pálida idéia de como será o PT sem o presidente na chapa. Mesmo com a popularidade em alta, o presidente não conseguiu dobrar o PT em eleições como a de Belo Horizonte e a de Salvador, que opõem PT e PMDB. "O precedente é péssimo", diz um pemedebista.

O caso mais ruidoso é o de Salvador (BA), mas os exemplos se espalham por todo o país. Em Goiânia, onde hoje tudo parece certo e no lugar, o PT custou a se render à recandidatura de Iris Rezende (o congresso petista local aprovou a aliança por apenas um voto). No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral lançou um nome petista: Alessandro Molon. Em troca, esperava o apoio do PT em outras cidades do Rio, o que não ocorreu. Resultado: Cabral relançou Eduardo Paes, o seu candidato preferido e hoje à frente nas pesquisas.

"O natural é o PMDB marchar junto (com o PT), mas isso vai depender muito de como o PT compreenderá esse processo", diz o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Sabe-se pelo menos o que pensa o ex-ministro José Dirceu. De passagem por Brasília, o ex-ministro falou ao site do PT do Distrito Federal: "O PT já criou as condições para essa aliança com a integração do PMDB ao governo", disse. "As pesquisas mostram que a maioria do eleitorado acha que o candidato tem que ser do PT ou indicado pelo PT. Elas revelam também que o partido mais próximo para o eleitorado é o PMDB, depois os partidos trabalhistas e PSB e PCdoB".

Para Dirceu, "independente da questão do bloco (PSB, PCdoB e PDT) e da candidatura do Ciro Gomes, acho que podemos ter a pretensão de construir uma candidatura do PT e um vice do PMDB". Apesar de Dirceu sistematicamente tentar demonstrar certo distanciamento do que acontece em Brasília, o fato é que a equação montada pelo ex-ministro é a mesma que está na cabeça do presidente da República, segundo contaram ao Valor um ministro, um governador e dirigentes pemedebistas que conversaram com Lula.

A pouco mais de dois anos das eleições de 2010, o PMDB nunca se sentiu tão prestigiado por um governo como ocorre com Lula no Planalto. E não é por conta só dos cinco ministérios pelos quais é responsável - além das Pastas da Agricultura, Minas e Energia, Saúde, Integração Nacional e Defesa, os pemedebistas estão disseminados nos vários escalões do governo. No entanto, quando se trata de sucessão presidencial, o questionamento é tônica.

Exemplos de perguntas feitas: Dilma será mesmo candidata? Se depender de Lula, com certeza, mas a ministra conseguirá se viabilizar inclusive dentro de seu próprio partido, o PT? Segundo os pemedebistas, que já a presentearam com um bambolê, a fim de lhe dar "mais jogo de cintura", a ministra vem se esforçando para se consolidar politicamente, fazendo coisas que antes não fazia, como conversar de política com com deputados e senadores, e tem "plena consciência de que precisa ampliar e se viabilizar politicamente".

Sozinha, avalia o PMDB, Dilma Rousseff não capitaliza politicamente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para isso ela precisa de Lula. Dize-se entre os pemedebistas que "o oxigênio da Dilma é Lula". Mas para lidar com o PT e acertar as alianças locais para 2010 "que garantias a Dilma poderá me oferecer", pergunta um pemedebista que tanto pode concorrer ao governo do estado como disputar uma cadeira ao Senado, em 2010.

Vencidas todas essas questões, resta a questão do nome. O próprio Lula mencionou, em conversas, o ministro Geddel como uma opção possível. Faz sentido, porque a chapa precisa de um nome saído do Nordeste, já nem tanto pela questão dos votos, pois se acredita que Lula será o diferencial nessa região, mas pelo discurso político. Outro nome sempre lembrado é o do ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas a composição da chapa não lhe é favorável: mineira de nascimento, Dilma fez política no Rio Grande do Sul, terra de Jobim.

Da lista fazem parte ainda os governadores Sérgio Cabral, um nome cogitado para a eventualidade de uma candidatura própria, "se pegar um vento a favor", e Paulo Hartung, do Espírito Santo. Aparentemente simples, o quebra-cabeças não fecha quando os caciques pemedebistas colocam a seguinte questão: e São Paulo, que é o maior colégio eleitoral do país, como fica? "É muito cedo. Tudo vai depender das circunstâncias", diz o presidente do PMDB, Michel Temer. Na realidade, nem mesmo uma aliança com o PSDB é descartada entre os mais influentes pemedebistas.

O desafio a curto prazo de PT e PMDB é chegar ao segundo turno, em lugares como Salvador, em condições de conversar sobre uma aliança. Depois, as eleições no Congresso, numa divisão que não foi negociada mas é previsível e articulada por Lula: PMDB na Câmara e PT no Senado. Se tudo der certo, um entusiasta da candidatura Dilma pode assumir a presidência do partido: José Sarney. (Valor Econômico )

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