quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Bairro alagado com Merda da Sabesp, paga taxa de R$ 209,26 de melhoria para Kassab



Com data de vencimento do dia 30 de novembro, a taxa de melhoria enviada pela Prefeitura de São Paulo no valor de R$ 209,26 é exibida pelo motorista Maikon Freitas Gonçalves, de 33 anos. Gonçalves mora no número 70 da Rua Orlando Zanfelice, uma via sem saída no Jardim Romano, na zona leste, alagado há nove dias. O tributo não foi pago. “E nem vou pagar”, admite o motorista, que gastou R$ 70 em um bote para se locomover na região.

A Prefeitura confirmou a cobrança do tributo no bairro, mas não explicou quais benefícios teriam sido promovidos. Procurada pelo JT no sábado, a administração afirmou ontem que irá extinguir a cobrança da taxa de melhoria em toda a cidade (leia ao lado).

Mas o eletricista Manoel Torquato, de 39 anos, já quitou a taxa, cobrada com juros por atraso, no valor de R$ 316,90, parcelada em dez vezes. Segundo ele, a contribuição de melhoria para 2010 já foi entregue com valor de, mais ou menos, R$ 100. No entanto, depois da enchente, ele resolveu não pagar. “Que melhoria existe aqui?”, questiona ele, que atravessa o rio de água suja para trabalhar todos os dias, às 4h30.

Na volta, Torquato pula o telhado de duas casas, usando escadas improvisadas, para entrar na sua residência. “É um absurdo ter de passar por isso.”

A mulher dele, a autônoma Maria Concebida Becalli Costa, de 32 anos, não vai para o trabalho desde o início da enchente. A rua tem residências dos dois lados. Sem saída pelos fundos, tem como única alternativa a vizinha Rua Capachós, que segue inundada. Maria Concebida se recusa a cruzar o rio e adquirir alguma infecção, como a que apareceu na perna do marido. Também tem medo de pular o muro dos vizinhos pela escada. “Tinha de buscar o meu pagamento na sexta-feira, mas não posso sair de casa”, disse. O filho pequeno também está “detido”. Torquato é quem faz as compras da casa.

Morador do número 69, o carteiro Walter de Souza Cruz recebeu o tributo, no valor de R$ 103,70, no início deste ano. Indignado, disse que nunca obteve explicações do que se tratava a cobrança. “Nós pagamos o asfalto dessa rua em um carnê separado. Além disso, não sei que outra melhoria pode ter sido feita”, afirma ele.

A Prefeitura informou que, além da pavimentação, pode cobrar, por exemplo, pela colocação de guias, sarjetas e calçadas.

‘Água podre’

Além do drama para sair de casa, Maikon Gonçalves lembra a dificuldade que é para permanecer no imóvel, sobretudo durante a noite. “A água está podre, cheira à carniça”, compara o motorista.

A estratégia adotada para conseguir dormir foi usar um descongestionante nasal à base de cânfora e mentol. “É só assim que a gente consegue dormir”, conta.

A Prefeitura e técnicos do Departamento de Águas, Esgoto e Energia (Daee), órgão do governo estadual, tentam descobrir o motivo da demora do recuo da água. Enquanto o rio não baixa, a água parada acumula esgoto e, entre outros animais, ratos mortos.

Prefeitura afirma que vai extinguir tributo na cidade

A administração municipal informou ontem que o prefeito Gilberto Kassab (DEM) irá enviar um projeto de lei à Câmara para acabar com a cobrança da taxa de melhoria na capital. A decisão foi divulgada após os questionamentos do JT sobre o tributo cobrado no Jardim Romano. A Prefeitura não informou quantos contribuintes pagam o tributo hoje e nem se irá devolver o dinheiro dos que já pagaram.

Não há data prevista para o envio do projeto de lei. Segundo a assessoria de Kassab, a extinção do tributo também livrará do encargo os devedores, caso em que alguns dos moradores do Jardim Romano estão incluídos, de acordo com a Prefeitura.

Também em função do estado de calamidade em que se encontra o Jardim Helena, distrito que engloba o Jardim Romano, a Prefeitura afirma que vai antecipar a vistoria dos imóveis afetados pela enchente com o objetivo de isentar as famílias do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que sofrerá reajuste no próximo ano.Aqui no FT

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