sexta-feira, 5 de setembro de 2014

'El País': Silva não é profeta em sua própria terra



Reportagem do jornal espanhol El País de quinta-feira (4) fala da relação da candidata à Presidência pelo PSB, Marina Silva, com a região onde nasceu, no Acre. De acordo com o texto, apesar de Marina estar surpreendendo nas eleições, não tem o mesmo destaque em sua própria terra.


El País relata que a cidade brasileira de Breu Velho, no meio do imenso Seringal Bagaço, uma zona rural produtora de borracha a 50 quilômetros de Rio Branco, capital do Estado do Acre, não é um lugar conhecido. "Na verdade, é complicado situá-lo no mapa, e poucas pessoas conseguem dar informação clara sobre sua localização, no meio da Amazônia, na região norte do Brasil. Ali, praticamente isolada da zona urbana, entre um rio e quilômetros e quilômetros de estrada de terra, nasceu em 8 de fevereiro de 1958 e cresceu Marina Silva, a candidata surpresa nas eleições brasileiras, que não é exatamente profeta em sua terra", diz o texto.

De acordo com a reportagem, Marina Silva começou a trabalhar na borracha com 10 anos. Aos 15 anos, decidiu abandonar sua terra para viver na zona urbana e poder aprender a ler e escrever. "Nem todos em Breu Velho o conseguiram. Em suas humildes casas no meio da vegetação, o tempo não passa. "Marina é boa, conhece toda a região. Mas vou votar em Dilma [Rousseff, a candidata do Partido dos Trabalhadores, PT]", afirma Adaíldo Carneiro Lima, 73, morador de Quixadá, outra zona rural próxima a Rio Branco", diz o texto.

A reportagem prossegue com mais relatos: ""Ela nos deu esta casa", acrescenta, referindo-se à presidente. "Não podemos ser mal agradecidos", explica Lima junto a sua casa, construída há oito meses graças ao programa do governo federal "Minha Casa Minha Vida". Graças também ao Estado, um vizinho de Lima, José Gomes, 90, pôde colocar uma dentadura, que exibe enquanto ri e lembra Maria Osmarina Silva Vaz de Lima, a cidadã mais ilustre da região. "Era muito pequena, magra e sempre ia correndo para todo lado", lembra o ancião."

El País  destaca que, quando foi candidata à presidência pelo PV (Partido Verde) em 2010, Marina conseguiu o terceiro lugar no Acre, com 23,58% dos votos dos 509 mil eleitores do Estado. "O então candidato do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), José Serra, liderou com 52,18% dos eleitores e Dilma conseguiu 23,74%. Nas pesquisas publicadas até agora sobre as intenções de voto nas próximas eleições presidenciais não há estimativas concretas sobre o Acre", diz o texto.

A reportagem questiona que embora poucos conheçam Rio Branco, todos sabem quem é Marina. Por que a candidata do PSB (Partido Socialista Brasileiro) não é a preferida em seu próprio Estado? Para Tião Viana, governador do Acre pelo PT, partido que governa o Estado há 15 anos, Marina afastou-se de seu legado. "Agradecemos muito a Lula o projeto nacional do PT. Marina [que foi ministra de Lula] se decantou por uma agenda mais global, afastou-se de tudo isso", afirma Viana ao El País.

O texto ressalta ainda que nem sequer quando era membro do PT, Marina se envolveu no governo do Acre. "Nunca se manifestou sobre a administração, nem sequer quando houve escândalos de corrupção", lembra o sociólogo Elder Andrade, da Universidade Federal do Acre. "Além disso, outro fator que apontam em sua falta de popularidade é que Marina não pertence à oligarquia da família Viana, muito estimada pelos moradores", diz o texto do jornal espanhol.

A reportagem aponta que outro fator a que se refere Andrade é que o agronegócio no Estado não simpatiza com o discurso ecologista da candidata. Além disso, o eleitor do Acre é pouco escolarizado. "Marina tem a preferência da classe média urbana e dos jovens, que contam com uma consciência ambiental. Mas aqui ela não se beneficia desse tipo de eleitor", explica.

El País afirma ainda que os moradores dos povoados também não têm motivos para votar em Marina, segundo Andrade. "As populações rurais e indígenas a veem como uma política opressora, porque quando foi ministra criou o Instituto Chico Mendes [dedicado a conservar a biodiversidade], que sancionava essas populações [por descumprir a norma].... Além disso, durante sua gestão foi criada a lei 11.884, que permite que o governo administre áreas florestais para sua exploração."

O jornal traz mais depoimentos: "Gosto de Marina, mas não vou votar nela", afirma a professora aposentada Maria da Costa Silva, 65, que lecionava no colégio público Rio Branco, onde a ecologista dava aulas de história. "Ela mudou muito. Quando era senadora, era muito boa. Mas agora seu discurso é muito difícil de entender", explica Costa, que "provavelmente" votará em Dilma Rousseff.

A reportagem conclui afirmando que a secretária-geral do Colégio Rio Branco, Maria Nires Nunes da Silva, 48, foi uma das alunas de Marina. Hoje é sua eleitora. "Era uma boa professora, se expressava muito bem. Sabia conquistar seus alunos." "Agora, na corrida presidencial, para que Marina Silva ganhe no Acre parece necessário algo mais que conquistar as pessoas como fazia na escola", finaliza o texto.

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