quarta-feira, 9 de junho de 2010

Verba do GDF para a ópera do escândalo

O Governo do Distrito Federal vai patrocinar oficialmente a Caixa de Pandora. Em ópera. O escândalo que destituiu uma geração de políticos no DF e entrou para a história como uma das crises mais severas da capital é narrada na obra do maestro Jorge Antunes e encenada por 60 artistas, entre cantores solistas, músicos e coralistas. Na tarde da última segunda-feira, o grupo que faz uma sátira aos principais personagens das denúncias de pagamento de propina revelado em novembro do ano passado venceu um concurso promovido pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura, para receber recursos oficiais. Com isso, sairá dos cofres públicos — os mesmos que, segundo o Ministério Público, foram usurpados para bancar o esquema de corrupção — o dinheiro que levará o enredo da crise recente para oito cidades do DF.

O Fundo de Apoio à Cultura pagará R$ 120 mil para financiar o projeto Ópera de Rua. Com os recursos, o espetáculo Auto do pesadelo de Dom Bosco — cujo libreto foi feito em formato de cordel — será encenado em Planaltina, Sobradinho, na Candangolândia, no Guará, em Ceilândia, no Núcleo Bandeirante, no Cruzeiro e no Gama. Desde fevereiro, o grupo fez quatro apresentações no Plano Piloto. “Só não fomos além por falta de recursos. O nosso sonho era levar o espetáculo para as outras cidades”, conta o autor do projeto, Jorge Antunes, professor da Universidade de Brasília desde 1973.

O Auto do pesadelo de Dom Bosco promove, em um ato, o julgamento popular de 12 personagens centrais da Caixa de Pandora. Na ópera-bufa (termo que identifica a versão italiana da ópera cômica), os acusados são apresentados ao povo pelo juiz Voxprópolis: “A revolta é algo novo/ a Justiça é chama acesa/ Defendemos este povo/ esta massa indefesa”. Em seguida, sobe ao palco o primeiro acusado: Burgomestre Leo Bardo Pro-Dente. E aí é a vez do coro do povo: “Burgomestre é prudente/gosta de por nossa grana na meia/ isso é coisa indecente/ ele merece é ir pra cadeia”. Pro-dente se defende: “O monarca me chamou/ fui no canto da sereia/ Um esperto me filmou/ e a coisa ficou feia. Minha conta lá no banco/ tem milhões, está bem cheia/ Só trabalho. Sou bem franco/ Pouca grana pus na meia”.

O pivô da Caixa de Pandora, segundo o auto, é Vassalo Borval da Bóza. “Eu servi ao Rei antigo/ trabalhei com a cambada/ Novo Rei ficou comigo/ se meteu em enrascada. Eu cansei do populista/ apoiando a cachorrada/ Resolvi virar artista/ cineasta da moçada”. E compara: “Exibi podres do Rei/ e dos sérios de fachada/ Os canalhas dedurei/ delação bem premiada. Que levou o Monarca Xaró Parruda à derrocada”.

Entre os réus está a Bruxa Ouvides Grito: “Eu fui uma professora/ forte fui na Academia/ eu cheguei a ser Doutora/ eu vivi muita alegria. Na política eu entrei, abracei a burguesia/ A carreira acabei/ pra fazer demagoia. Não sou ave de rapina/ Pra que tanta rebeldia/ Na bolsa, pouca propina/ Muito pouco eu recebia”. A troça ainda pega o Reverendo Benedictus Dormindo, o Príncipe Augustus Baralho, o Suserano Paul Batávio, o Vassalo Rogê Rolices e Truão Pônei Nêmer, além do Reverendo Júnior Embromelli. Até Iorrín Kouriz, Rei do Gado — Senhor da Bezerra d’Ouro entra na roda.

Mérito
A ópera que satiriza a Caixa de Pandora foi vitoriosa em três etapas de avaliação observadas por um júri formado de artistas. O auto ficou em primeiro lugar e ganhará infraestrutura, geradores, transporte, iluminação e som. Apesar de expor personagens que, até pouco tempo, estavam no centro do poder, o projeto recebeu a bênção da Secretaria de Cultura, que homologou no Diário Oficial de segunda-feira o resultado do concurso. “Não se pode brigar com o mérito cultural, quando isso ocorre, começa-se a entrar em uma linha política e queremos distância disso”, diz o secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho.

O maestro Jorge Antunes comemora a vitória no edital. Agora, no entanto, ficará na expectativa de receber o dinheiro: “Uma coisa é vencer e a outra, receber os recursos, até porque a verba do Fundo está contingenciada. Mas até em função do tema, acredito que ninguém no governo vai ter coragem de boicotar a ópera”.

Aluguel é legal, diz Mesa Diretora
A Mesa Diretora da Câmara Legislativa decidiu não abrir representação para apurar denúncia de contratação ilegal de imóvel contra o distrital Rôney Nemer (PMDB). Desde novembro de 2007, o distrital aluga salas de um prédio no Recanto das Emas para a Companhia Energética de Brasília (CEB). De acordo com o artigo 62 da Lei Orgânica, os deputados não podem firmar contrato com entidades do serviço público. Mas, para a Mesa, o negócio é lícito. O segundo secretário Raimundo Ribeiro (PSDB) disse que o próprio artigo absolve casos excepcionais, quando, por exemplo, o contrato tem cláusulas uniformes. Segundo Ribeiro, ficou comprovado que o aluguel cobrado estava abaixo do preço de mercado e que a transação era declarada no Imposto de Renda de Nemer. Nemer disse ontem que pediu a rescisão do contrato com a CEB. A assessoria de imprensa do GDF informou que a diretoria da CEB também já havia decidido encerrar a locação.Correiio

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