Brasileiro sonha com casa nova e diz que vida melhorou

Cerca de dois terços das famílias brasileiras já têm casa própria, e quitada, mas sofre com goteiras, caso das classes C e D, ou com barulho, se a renda for maior. Têm um sonho em comum: reformar a moradia ou comprar uma nova, mais espaçosa. Para realizá-lo não falta vontade de subir na vida - três entre quatro pessoas mostra ambição profissional, tentando fazer carreira no atual emprego ou abrindo seu próprio negócio.

O retrato acima é feito a partir de uma pesquisa realizada no último trimestre do ano passado pela agência de publicidade Nova S/B, em parceria com a TNS Research. Foram ouvidas 2.772 pessoas, de 18 a 65 anos, de todas as classes sociais, em 22 cidades. Numa primeira fase, cada participante foi entrevistado durante cerca de duas horas, e na segunda fase foram formados oito grupos de discussão, do qual participaram 20 pessoas. O volume de dados recolhido permitiu montar um banco de dados que a agência batizou de Inova, Indicadores de Valores e Atitudes.

O brasileiro médio que surgiu desse trabalho é uma pessoa otimista. Considera que sua vida melhorou, mas encontra certa dificuldade em fazer o dinheiro durar até o fim do mês. Quando não consegue, atrasa o pagamento das contas de água, luz, gás, telefone e a prestação de bens e serviços comprados.

A televisão continua sendo o "esporte" preferido, mas ouvir música, reunir-se com a família, cozinhar e estar com os amigos também são atividades importantes para a maioria. "Não é à toa que marcas de cerveja como Skol e Brahma vêm colocando a amizade, o grupo de amigos, como foco de suas campanhas de publicidade", diz o sócio da Nova S/B, João Roberto Vieira da Costa.

Chama a atenção o fato de a opção "ler livros" estar na metade superior do ranking das atividades realizadas nos últimos três meses - o que pode dar esperanças àqueles que almejam, um dia, bater no peito e dizer: "Brasileiro gosta de ler". E discutir sobre política, conversar na internet ou ir ao salão de beleza para tratar do rosto e do corpo comungam do mesmo grau de importância - mais do que ir ao cinema, fazer dieta ou fazer compras em uma loja virtual.

A pesquisa também mapeou os valores dos brasileiros. A crença em Deus é o maior deles, seguido pelo carinho e respeito aos idosos. A educação aparece em um honroso terceiro lugar no ranking dos maiores valores. Mas não se trata da educação escolar, mas de boas maneiras. "Quando as pessoas respondiam educação, se referiam àquela recebida em casa, o quão importante é ser bem-educado", afirma Vieira da Costa.

No campo dos valores, o cruzamento dos dados fez aparecer, inicialmente, dois grupos: os conservadores e as liberais. Estas são mulheres, entre 25 e 34 anos de idade, moram no Sudeste, algumas têm até o ensino médio e outras, nível superior. Ao lado delas, também são considerados liberais os homens solteiros e divorciados, os profissionais liberais e os funcionários públicos. Têm em comum o fato de sua renda ser um pouco mais alta e alguns deles estão desempregados.

Os conservadores, por sua vez, são personificados na figura do homem entre 45 e 64 anos, das classes C e D. Ele pode ser encontrado nas regiões Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste do país. Cursou o ensino fundamental e é casado. Trabalha para uma empresa privada e tem a impressão de que pode crescer profissionalmente.

Ao refinar o cruzamento das informações coletadas, Alessandro Bottini e Debora Weinberg, da Nova S/B, desdobraram esses dois grupos e surgiram quase 50 perfis - desde a "Dona Nenê", aquela mãe e dona de casa muito dedicada à família, inspirada na personagem interpretada pela atriz Marieta Severo no seriado da Rede Globo "A Grande Família"; até os "avessos digitais", para quem a internet só trouxe problemas ao mundo.Valor Econômico