Já, já chegamos a 4 de abril, dia da largada das eleições presidenciais de outubro. E chegaremos apenas com dois candidatos eleitoralmente viáveis — Dilma Rousseff (pelo PT) e José Serra (pelo PSDB). Alguns dos principais analistas da cena eleitoral brasileira dizem que o eleitorado do país pode ser dividido em três segmentos: de petistas, de antipetistas e de indefinidos. E o eleito será quem obtiver mais votos no terceiro segmento. O argumento é interessante, especialmente porque as pesquisas mais recentes indicam justamente empate técnico entre Dilma e Serra no patamar de 30% das intenções de votos. Ou seja, começou a briga pela terceira fatia do eleitorado.
Em artigo anterior (“Por que Dilma será eleita presidente”, O Estado de S. Paulo, 13/11/2009), argumentei que a candidata do presidente Lula ganharia as eleições porque em outubro teremos forte crescimento econômico, baixo desemprego, inflação sob controle, elevado número de beneficiários de políticas de transferência de renda (entre ricos e pobres) e despedida do presidente mais popular da história brasileira. Disse, ainda, que a oposição havia falhado na preparação de sua candidatura, não apenas porque o candidato mais viável, José Serra, ainda relutava em assumir a candidatura, mas porque o processo de sua escolha pelo PSDB inibiu o debate e a participação dos militantes. Tudo isso separou o partido do eleitorado e agora não se sabe ao certo que discurso e propostas adotar para ganhar as eleições. Acho que o tempo tem comprovado que eu estava certo e este artigo vem justamente reforçar o argumento.
Uma eleição, como uma campanha publicitária, não se define apenas pelas informações concretas que o candidato apresenta sobre sua história pessoal, suas ideias, seus projetos e as alianças que fez e fará para governar. Tudo isso é importante e mais importante para alguns eleitores do que para outros. Mas, como numa propaganda de sabão em pó, o candidato precisa ser forte no terreno subjetivo, recorrendo a imagens, valores, desejos e sentimentos capazes de atingir o eleitor desinteressado ou indeciso, incitando-o a votar e a falar sobre a sua opção com os familiares, amigos, colegas de trabalho e mesmo com desconhecidos.
Pois bem, sabemos cada vez mais qual será o conteúdo do programa da candidatura de Dilma. Ela, o Presidente e os responsáveis pela sua campanha têm falado muito, há muito tempo. O que eles nos dizem? Que será um governo de continuidade em relação ao de Lula; que aprofundará o modelo econômico, político e social que orientou o segundo mandato; que é uma candidatura em favor dos pobres sem prejudicar os ricos; que as conquistas dos últimos anos serão perdidas se a oposição ganhar.
Em termos concretos, o que Dilma e o PT têm enfatizado nos permite esperar o seguinte:
1) enfraquecimento da qualidade do equilíbrio macroeconômico: deterioração do quadro fiscal, diminuição da autonomia do Banco Central e reforço do papel do Estado na economia (rígida regulação do ambiente de negócios; oferta de subsídio e proteção comercial à indústria; direcionamento político dos fundos de pensão dos trabalhadores das estatais), mesmo que isso atravanque os investimentos privados nos setores mais produtivos da economia;
2) política externa terceiro-mundista: integração do Brasil a países que seguem modelos econômicos fracassados e fixação em objetivos irrealistas do ponto de vista das relações internacionais (como a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e contrabalançar o poder dos Estados Unidos na região e no mundo), mesmo que ao custo de fechamento de novas oportunidades econômicas ao país;
3) modelo de “proteção social” que não altera o status quo: mantém políticas de transferência de renda para os mais ricos (legislação trabalhista e sindical que beneficia os trabalhadores formais; sistema de pensão que beneficia os funcionários públicos; sistema universitário gratuito (ao qual o pobre raramente tem acesso) e, para os mais pobres, Bolsa Família, Prouni, cotas raciais etc.
Diante desse quadro e tendo em vista o adiantado da hora, cabe perguntar quais serão os elementos objetivos e os subjetivos a que irá recorrer a candidatura Serra para derrotar Dilma, Lula e o PT? Até o momento, o que vem do QG tucano são comparações dos currículos dos candidatos, denúncias de que a adversária faz campanha antes do tempo, sinalizações confusas sobre o que se pretende manter e alterar das políticas atuais e lentidão na costura de alianças necessárias para garantir bom tempo na TV para o candidato. Tudo isso é muito pouco!
Por: Carlos Pio - Professor de política econômica internacional da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador associado da Universidade de Oxford
Helena, esse artigo é capcioso:
ResponderExcluirAo mesmo tempo em que faz uma afirmação de vitória de Dilma (ainda é cedo para ter certeza), ele faz uma série de conjecturas prejudiciais à Dilma; o indeciso que ler esse artigo ficará inseguro em votar em Dilma.
Helena,
ResponderExcluireste artigo tem a cara de blog que defende a ditadura militar e dorme em ninhos tucanos. Quem o escreveu tem lá o seu grau de entendimento, mas suas premissas, seus paradigmas, são desprovidos de legitimidade democrática.
Esse professor está babando de raiva porque 'eles' estão se ferrando cada vez mais. Pelo menos tem a coragem de reconhecer a supremacia e a capacidade de gestão dos companheiros e agregados.
Claro que tudo o que ele diz que é ruim é o lado bom da coisa, basta retirarmos os adjetivos e algumas coisitas mais que o texto fica realmente esclarecedor - é uma brincadeira, minhas intervenções estão entre ""aspas:
"Em termos concretos, o que Dilma e o PT têm enfatizado nos permite esperar o seguinte:
1) 'enriquecimento' da qualidade do equilíbrio macroeconômico: 'boa' gestão do quadro fiscal, 'reafirmação" da autonomia do Banco Central e reforço do papel do Estado na economia ('sem' regulação do ambiente de negócios; 'com' oferta de subsídio e proteção comercial à indústria; 'não' direcionamento político dos fundos de pensão dos trabalhadores das estatais), 'evitando' que isso atravanque os investimentos privados nos setores mais produtivos da economia;
2) política externa terceiro-mundista: integração do Brasil a países que seguem modelos econômicos 'não' fracassados e fixação em objetivos 'realistas' do ponto de vista das relações internacionais (como a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e contrabalançar o poder dos Estados Unidos na região e no mundo), 'com a abertura' de novas oportunidades econômicas ao país;
3) modelo de “proteção social” que 'altera' o status quo: mantém políticas de transferência de renda para os mais 'pobres' ('melhoria nas' legislação trabalhista e sindical que beneficiem os trabalhadores formais 'e informais'; sistema de pensão que beneficia os funcionários públicos; sistema universitário gratuito (ao qual o pobre 'geralmente' tem acesso) e, para os mais pobres, Bolsa Família, Prouni, cotas raciais etc.
Concordo totalmente com o Gabriel.
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