Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, do IBGE, mostram crescimento contínuo do PSF desde a sua criação, há 16 anos. A Região Nordeste é a mais beneficiada do País, com 67,7% dos moradores cadastrados
A cobertura do Programa Saúde da Família (PSF) ultrapassou, em 2008, 50% da população brasileira, revela o Suplemento Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Saúde 2008), divulgado ontem, no Rio, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o levantamento, 96,5 milhões de pessoas viviam nos 27,4 milhões de domicílios cadastrados no PSF no período de coleta dos dados. O número está próximo da meta de 100 milhões de brasileiros proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de seu governo.
Criado há 16 anos, o PSF tem como objetivo reorganizar a assistência à saúde, substituindo o modelo centrado na rede hospitalar por um sistema que estimule a prevenção e os cuidados com a saúde. Cada uma das equipes do programa - compostas por médico, enfermeira, auxiliares de enfermagem, dentista e agentes comunitários - se responsabiliza pelo acompanhamento de 3 mil a 4,5 mil pessoas de uma determinada área. A ideia é que esses pacientes deixem de procurar os hospitais para solucionar problemas simples, pois têm a assistência de uma equipe perto de casa.
Embora os dados do IBGE confirmem o crescimento contínuo da cobertura do PSF, os números ainda são muito desiguais no País. A região mais atendida é o Nordeste, com 67,7 % dos habitantes cadastrados. A menor cobertura está no Sudeste - 35,9% (mais informações nesta pág.).
Ainda segundo a pesquisa, o PSF teve grande impacto entre os mais pobres: 54% do total de domicílios com rendimento mensal per capita de até dois salários mínimos eram atendidos, enquanto apenas 16,3% dos lares de cinco salários mínimos per capita ou mais integravam o PSF.
Desafios. "O ideal é que toda a população do SUS - pelo menos 75% dos brasileiros - esteja coberta. Nossos desafios são as regiões metropolitanas do Sudeste", disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Para Maria Fátima de Souza, do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da UnB, o problema é que, nas grandes capitais, ainda há muita resistência para a implantação de políticas em que o foco é a atenção básica. "Ainda predomina a cultura de que o investimento em saúde deve ser feito no nível da alta complexidade. São priorizados hospitais, medicamentos e equipamentos em vez da saúde preventiva."
O próprio ministério da Saúde, diz Maria de Fátima, investe mais na formação de médicos especialistas do que na de generalistas, que são os profissionais mais indicados para integrar o PSF e são escassos no País.
"Como essas equipes estabelecem ao longo dos anos um vínculo com a população, essa estratégia é a mais adequada para o cuidado das doenças crônicas, que têm aumentado porque a população está vivendo mais", diz Ligia Giovanella, da Escola Nacional de Saúde Pública. / COLABOROU KARINA TOLEDO
PARA ENTENDER
1
Diferenças regionais
Estados com maior cobertura: Tocantins (94,1% dos habitantes) e Piauí (85,5%). Piores índices: Rio (19,2%) e Amapá (19,4%).
2
Causas
Para especialistas, a municipalização da atenção básica é a principal causa da disparidade. O PSF é um programa federal, mas cabe às prefeituras colocá-lo em prática.
3
Gargalos
A falta de médicos generalistas e a dificuldade de fixar profissionais nas regiões de risco das grandes cidades e lugares mais afastados são obstáculos para ampliação.
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