A crise econômica garantiu uma inflação oficial abaixo da meta em 2009. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4,31%, a menor taxa desde 2006 e a segunda menor desde a adoção do regime de metas, há dez anos. A meta estipulada para o ano pelo governo era de 4,50%. A coordenadora de índices de preços do instituto, Eulina Nunes dos Santos, avalia que a crise foi "muito importante" para conter a taxa. Em dezembro, o índice foi de 0,37%, ante 0,41% em novembro.
Segundo Eulina, foram vários os efeitos da crise sobre o IPCA no ano que passou. Nos alimentos, a redução da demanda global elevou a oferta, no mercado interno, de produtos importantes nas despesas das famílias, como as carnes, derrubando os preços. Além disso, diz ela, as medidas governamentais para aplacar os efeitos das turbulências, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre alguns bens de consumo duráveis também ajudaram a domar a inflação. Entre as principais quedas de preços, figuram itens como automóvel novo (3,62%), com reflexos também nas deflações dos carros usados (11,9%) e dos eletrodomésticos (4,85%).
A combinação entre aumento da oferta doméstica, recuo de preços de commodities internacionais e dólar baixo garantiu, em 2009, a inflação mais branda de alimentos (3,18%) desde 2006, bem inferior a 2008, quando os produtos alimentícios subiram 11,11%. Além das carnes (-5,33% no ano), os preços de alguns produtos com cotação vinculada ao dólar recuaram: bacalhau (13,86%), farinha de trigo (13,78%) e pão francês (1,11%). Ainda entre os alimentos, mas impulsionados pela safra generosa, Eulina destacou a contribuição do arroz e do feijão, principais produtos na mesa dos brasileiros.
O chefe do departamento de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC) , Carlos Thadeu de Freitas, concorda que, em relação à inflação, os efeitos da crise foram benéficos em 2009. "A importação ficou mais barata, as exportações mais difíceis e houve mais oferta de produtos industriais e alimentos no mercado interno."
Para Tatiana Pinheiro, economista do grupo Santander Brasil, o bom comportamento da inflação em 2009 foi assegurado por uma conjunção entre os efeitos da crise - sobretudo o corte do IPI - e a boa safra de alimentos, com peso no IPCA.
Vilões
Em um ano marcado por reajustes comportados de preços, alguns itens se destacaram. No topo da lista, apesar da deflação em vários itens alimentícios, está a refeição fora de casa, com aumento de 9,05%, dando a maior contribuição individual para a inflação anual. Outras pressões de destaque ficaram com os colégios (5,94%), os empregados domésticos (8,73%) e os cigarros (27%). As passagens aéreas também tiveram reajuste significativo (31,88%), sobretudo em dezembro.Agência Estado
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