Leia a análise de José Roberto de Toledo depois, me diga o que você achou deste texto publicado hoje no jornal O Estado de S.Paulo. O eleitor pode se perguntar: por que José Serra (PSDB), líder absoluto em todas as pesquisas, reluta tanto em se lançar candidato a presidente? O governador tem bons motivos para ser cauteloso: tem mais a perder do que os demais presidenciáveis, tem dificuldade para encontrar um mote de campanha e conhece a história.
Serra sabe que intenção de voto a esta altura do campeonato não é garantia de voto na urna em 2010. Muito saíram e chegaram na frente. Mas a história eleitoral brasileira está plena de exemplos de candidatos que largaram em primeiro lugar e nem apareceram na foto da chegada.
O fantasma de 1994
Em 1994, Lula (PT) manteve larga margem sobre Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por meses. Em junho, batia o ex-ministro da Fazenda por 41% a 19% (Datafolha) -vantagem bem semelhante à atual, de Serra sobre Dilma. Aí veio o Plano Real, a inflação foi controlada, a popularidade do governo aumentou e FH foi subindo com ela, a cada semana: 21%, 29%, 36%, 45%. Terminou eleito no 1º turno. Lula acabou com metade dos votos do adversário.
Mesmo havendo diferenças, a começar da presença de Lula, o cenário da primeira eleição de FH é o mais próximo do pleito do próximo ano. Trata-se da única outra disputa eleitoral desde a redemocratização travada por um candidato situacionista que não era o próprio presidente mas que defendia um governo com popularidade.
Em 1989, diante da hiperinflação do governo Sarney, todos os candidatos fortes eram de oposição. Em 1998, o governo era bem aceito, mas o candidato da situação era o próprio presidente. Em 2002, a popularidade do governo estava em baixa, e deu oposição. Em 2006, o presidente foi reeleito graças à sua alta aprovação.
São Paulo na mão, Brasília voando
Se a disputa presidencial é incerta, uma candidatura à reeleição como governador de São Paulo parece muito mais factível para Serra. O PT nunca conquistou o governo paulista e ainda não tem nomes fortes. Paulo Maluf não é mais uma ameaça. O PMDB, se lançar candidato, estará rachado. E o tucano desfruta de 57% de aprovação de seu governo (Datafolha, agosto), a maior desde a posse.
Pelos mesmos motivos que Serra seria favorito se fosse candidato à reeleição, Geraldo Alckmin será favorito se conseguir a legenda do PSDB. Segundo o Ibope, o ex-governador tem entre 42% e 51% das intenções de voto estimuladas, um reflexo da presença de seu nome na memória do eleitorado. O problema de Serra é que se ele for candidato a presidente e perder, e, ao mesmo tempo, o rival Alckmin vencer em São Paulo, seu espaço político estará bloqueado, e suas chances de voltar a disputar a Presidência ou o governo paulista serão quase nulas.
Por outro lado, se passar essa e tentar disputar em 2014, Serra corre o risco de ter que voltar a enfrentar Lula nas urnas. E justamente no ano da Copa no Brasil, uma Copa que, para fins eleitorais, Lula tentará faturar como obra sua.
Sem fala
Para completar, Serra tem dificuldades de encaixar um discurso de campanha com potencial de balizar o debate eleitoral. Como é visto como principal liderança da oposição, não pode dizer apenas que vai continuar o que Lula está fazendo e melhorar. Se não é para mudar, melhor votar no candidato da situação, pensará o eleitor. É preciso encontrar algo que a maioria do eleitorado queira muito, e que ele tenha mais chances de realizar do que o PT.
Enquanto espera para ver se a popularidade do governo cai, Serra testa o discurso de campanha em programas de rádio e TV. O problema é que, com previsões de crescimento de 6% do PIB em 2010, nem apagão nem mensalão nem menino do MEP têm sido capazes de derrubar a popularidade de Lula e, por tabela, solapar as chances do candidato do governo. Por isso, o governador procrastina enquanto pode. Ganha tempo para acumular mais dados e melhor avaliar suas chances. É a decisão mais importante da carreira de Serra.Aqui no Estado
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