Depois de 15 anos à frente do governo paulista, os tucanos se isentam de qualquer culpa pelo fiasco de sua política educacional. Em depoimento à revista Veja, o secretário estadual de Educação de São Paulo, Paulo Renato de Souza, afirmou que não o PSDB, mas, sim, “os sindicatos são um entrave para o bom ensino”. Claro que a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) não passou recibo.
De acordo com a presidente da entidade, Maria Izabel Azevedo Noronha, a entrevista é mais uma prova de que o governo Serra “está mais preocupado em fomentar a ‘competitividade’ entre os professores e aplicar receitas empresariais ao sistema público de ensino”. Em carta enviada à Veja, Maria Izabel também cobra que “seja aberto espaço” na revista para que uma categoria de 178 mil professores possa expor suas posições.
Confira abaixo a íntegra da carta de Maria Izabel à Veja
Educação não é valorizada
A entrevista do secretário Paulo Renato apenas confirma que o governo do PSDB no estado de São Paulo está mais preocupado em fomentar a “competitividade” entre os professores e aplicar receitas empresariais ao sistema público de ensino do que em melhorar a qualidade de ensino para todos os estudantes das escolas estaduais.
O secretário culpa os sindicatos de professores pela queda na qualidade de ensino, como forma de fugir de suas próprias responsabilidades. Ele já foi secretário de Educação no governo Franco Montoro e ministro da Educação por longos oito anos, no governo FHC. Seu viés é sempre o da exclusão. Quando criou o Fundef, deixou descobertas as duas pontas da educação básica: a educação infantil e o ensino médio, concentrando recursos apenas no ensino fundamental, praticando assim uma política de foco. Esta é a forma como vê a educação.
Um projeto que exclui, de imediato, 80% dos professores de reajustes salariais e, ainda assim, não assegura que os demais 20% terão mesmo direito à melhoria salarial (pois depende de disponibilidade orçamentária) não vai contribuir para a qualidade de ensino e sim para gerar mais revolta e desestímulo na categoria. Os professores tem como ofício educar e sua ferramenta é a educação; e a educação não está sendo valorizada.
As posições externadas pelo secretário estão na contramão de todos os avanços que se tem verificado na educação nacional nos últimos anos. Por certo são ainda insuficientes, mas apontam na direção da escola pública de qualidade.
Por outro lado, é difícil entender como, num Estado democrático de direito, todo o espaço é reservado apenas para um dos lados, que se permite fazer juízos de valor sobre o sindicato, sem que nos seja oferecido espaço equivalente. O que queremos, em nome dos 178 mil associados da Apeoesp, é que nos seja aberto espaço nesta revista para que nós próprios possamos expor nossas posições.
Não somos corporativistas. O que nos move é a qualidade da educação e a valorização dos profissionais que nela trabalham, pois a educação abrange bem mais que a relação professor-aluno em sala de aula. Entretanto, ainda que fôssemos corporativistas, o papel de um sindicato não é justamente defender os direitos e reivindicações da categoria que representa?
Aguardamos a publicação desta carta e a abertura de espaço para que possamos expor e defender nossos pontos de vista.
Maria Izabel Azevedo Noronha
Presidenta da Apeoesp
Membro do Conselho Nacional de Educação
Portal Vermelho
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