sábado, 12 de setembro de 2009

E a economia, candidato?

O favoritismo de hoje pode ser o fracasso de amanhã. Basta o salto alto assumir o lugar do trabalho. Carlos Alberto Parreira e seu “quarteto mágico” que o digam. Resta saber se os tucanos repetirão a história

Política tem muito de futebol. Provocações antes dos confrontos, uso de táticas ofensivas quando é necessário reverter um placar desfavorável e torcida, muita torcida, mesmo se não há um motivo racional para o entusiasmo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com suas metáforas, confirma a tese. Favoritos na próxima disputa presidencial, petistas e tucanos engrossam o coro, festejando, a cada rodada, o que consideram indícios de um título incontestável a ser conquistado em 2010. Nesta semana, por exemplo, o PSDB comemorou os resultados de pesquisa realizada pelo Instituto Sensus sobre as intenções de voto para presidente.

Encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), o levantamento confirmou a liderança do governador de São Paulo, José Serra, no páreo. Ele aparece estável na casa dos 40%, enquanto a ministra Dilma Rousseff caiu de 23,5% para 19% na preferência do eleitorado. Com os dados em mãos, tucanos saíram a campo a fim de ressaltar o “favoritismo” de Serra e ironizar a candidatura da “mãe do PAC”, que estaria empacada — ou, pior, dando passos para trás — apesar de embalada por níveis recordes de aprovação popular a Lula. A senha para a euforia foi dada pelo presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), antes mesmo de a sondagem da CNT ser divulgada.

“Contra Dilma, o PSDB não tem o direito de perder”, disse Guerra. Nada mais natural. A um comandante cabe injetar ânimo na tropa. Impregná-la de otimismo, seja o horizonte róseo ou não. Antes do senador, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, já havia afirmado algo parecido, ao dar como certa a vitória de Serra. Será? O eleitor está mesmo diante uma fatura liquidada? De um fato consumado? De uma barbada? Longe disso. O jogo está em aberto, e o franco favoritismo de hoje pode ser o fracasso retumbante de amanhã. Basta o salto alto assumir o lugar do trabalho. Carlos Alberto Parreira e seu “quarteto mágico” da Copa do Mundo de 2006 que o digam. Resta saber se os tucanos repetirão a história.

Fator econômico

O quadro sucessório está indefinido por uma série de motivos. Um deles: falta um pouco mais de um ano para a eleição, tempo suficiente para um terremoto na política nacional. Outro: o PSDB não sabe se Serra será o candidato, derrotando o governador mineiro Aécio Neves no embate interno da legenda, nem o impacto dessa eventual decisão no eleitorado e na formação de alianças. Além disso, há o potencial de crescimento de Dilma Rousseff. Atualmente, ela só empolga o presidente Lula e uma meia dúzia de ministros e petistas. Nada que não possa ser revertido em 12 meses. Principalmente com a ajuda do crescimento econômico.

Ontem, o IBGE revelou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% no segundo trimestre deste ano. O Brasil saiu tecnicamente da recessão. Até outubro de 2010, os dados serão ainda melhores. O governo prevê uma expansão econômica de 5% no próximo ano. Se o prognóstico for confirmado, mesmo que num percentual um pouco abaixo, haverá mais consumo familiar e mais geração de emprego. Dois trunfos que, caso bem explorados por Dilma diariamente na propaganda eleitoral, com Lula a tiracolo, podem lhe dar a musculatura necessária para vencer a disputa. Ainda mais se o governo convencer os eleitores de que a responsável pela recuperação brasileira é a própria ministra.

Marqueteiro da campanha presidencial de Bill Clinton contra George Bush, o pai, James Carville ensinou que nada é capaz de sensibilizar mais o eleitorado do que a sensação de bem-estar coletivo proporcionada pelo crescimento econômico. Vale para os Estados Unidos e vale para o Brasil, onde, todo mundo sabe, torcida, pesquisas de véspera e declarações de efeito não ganham jogo.

Por Daniel Pereira
danielpereira.df@diariosassociados.com.br

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