O PT tem em um especialista em investigação de homicídios sua principal aposta para 2010 em Alagoas. Trata-se do delegado federal e ex-superintendente da Polícia Federal de Alagoas, José Pinto de Luna, nascido no Ceará, criado em São Paulo. Seu maior capital político é a atuação na Operação Taturana, que prendeu desde o gerente de uma agência local do Bradesco até o presidente da Assembleia Legislativa, o que o tornou figura popular em Maceió.
Luna se filia nesta sexta para disputar uma das duas vagas ao Senado nas eleições de 2010. Neófito na política, irá para o confronto direto com tradicionais políticos alagoanos como o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), a ex-senadora Heloisa Helena (PSOL) e o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT).
Conta, porém, com uma estrutura ínfima, em contraste com a imensa máquina partidária do PT nacional. Em 2006, na reeleição de Lula, o PT de Alagoas elegeu dois deputados estaduais, os menos votados entre os 27 eleitos. Desde 1994, alterna entre uma ou duas cadeiras na Casa. À Câmara federal, nunca chegou. Em 2008, elegeu apenas um dos 102 prefeitos do Estado e nenhum vereador petista conseguiu vaga na Câmara Municipal de Maceió.
"Aqui o PT é uma Ferrari com o pneu furado", diz Luna em seu apartamento na Ponta Verde, área nobre da capital alagoana. Aos 44 anos, ele diz que acabou fechando com o PT depois de negociações mal-sucedidas com o P-Sol -"o partido não suporta duas candidaturas" - e com o PCB -"é nanico, a estrutura é mínima e tem essa coisa de chamar de camarada, não é a minha cara isso". Pelo acordo, será candidato único ao Senado pela legenda. Caso haja coligação com outros partidos, o PT abre mão de lançar candidato ao governo do Estado ou a vice.
"Sei que corro por fora, mas quero ser o segundo voto das pessoas. Quer votar no Renan? Na Heloísa? Pode votar. Mas dê o segundo voto para mim", diz Luna, que aposta no discurso da moralidade para conquistar o eleitorado: "Tenho proposta: não tenho preço".
O delegado chegou em Maceió em dezembro de 2007, depois de prometer para si que nunca mais pisaria no Estado. Antes, estivera lá por três vezes, sempre em missões para desvendar sequestros e homicídios. Em uma dessas ocasiões, quase foi morto, o que motivou sua intenção de não mais regressar. Preferia ficar no comando da delegacia de São Sebastião, litoral norte paulista, onde começou a se interessar por veleiros. Teve que se mudar quando o delegado-geral da PF, Luis Fernando Corrêa, chamou-o em Brasília oferecendo-lhe uma missão. "Chefe, desde que não seja ir pra Alagoas...", disse. "É para ser superintendente em Alagoas", rebateu Corrêa.
Dias depois da mudança, deflagrou a Operação Taturana, que prendeu deputados e empresários locais. Teve presença maçica na mídia e recebeu apoio constante em Maceió. Por isso calcula que 80% dos seus eleitores estarão na região metropolitana da capital alagoana, enquanto 20% virão do Agreste e do Sertão.
A baixa expectativa de desempenho pelo interior se deve, segundo diz, à forte permanência de currais eleitorais mantidos com compra de votos. Esse, aliás, é um dos motivos por que decidiu se lançar na política em cargo majoritário. Avalia ser mais difícil o eleitor vender votos neste tipo de disputa.
Luna atribui à luta política entranhada e aguerrida nesses feudos a formação das lideranças que Alagoas projetou nacionalmente, como Renan e os ex-presidentes Fernando Collor, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, além de personagens históricos como Zumbi dos Palmares e Domingos Calabar. "É como se fosse Israel. O cara tá na adversidade e tem que se engendrar. Quando sobrevive aqui fica preparado pra qualquer coisa". Além disso, vê a política do favor como motor da economia local. "A política corrupta em Alagoas faz girar uma economia informal. Quero melhorar isso".
Diz que a corrupção no Estado tem continuidade depois das eleições. "Mais de 80% dos prefeitos daqui roubam. O cara ganha uma eleição, ganhou na Mega Sena. Passa a viver de FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Não tinha nada antes e, de repente, compra um carrão. Forma um feudo, vive disso e passa a fazer de tudo para eternizá-lo", diz. Ele cita como exemplo o caso do deputado estadual João Beltrão (PMN), que, em 2008, alterou a certidão de nascimento do filho para apressar seus 21 anos, a idade mínima para concorrer a prefeito.
O responsável por ajudá-lo a captar o estimado caixa de R$ 600 mil será um amigo empresário que conheceu na Federação Alagoana de Vela e Motor.
Embora, segundo ele mesmo, seja difícil ao eleitorado dissociar sua imagem da PF, Luna diz que não vai explorar essa vinculação. Assegura não ter intenção de ser o salvador da pátria ou o xerife, apesar de avaliar que o posto de moralizador virá naturalmente. Sua preocupação é que adversários vinculem sua atividade policial pregressa a anseios políticos futuros, tal qual ocorreu com seu colega Protógenes Queiroz, recém-filiado ao PCdoB-SP. Ambos ingressaram na instituição no concurso de 1993 e trabalharam no mesmo prédio da PF em São Paulo. Luna acompanhou a Satiagraha de longe, mas considera que houve desvios de conduta do colega na relação com a imprensa e com os superiores.
Depois da cerimônia de filiação ao PT nesta sexta, o trabalho será para aprovar seu nome na convenção. O receio é de que uma eventual composição com o PMDB de Renan derrube seu projeto político. "O pessoal me fala que estou entrando em uma ratoeira, que se na convenção o Renan sentir que sou uma ameaça ele não deixa eu sair", diz
Sua atuação na PF não poupou o partido. Um dos indiciados na Operação Taturana foi o deputado estadual Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, um dos principais nomes do petismo alagoano. Ele é acusado pela PF de ter contraído R$ 224 mil em empréstimos no Banco Rural, usando a verba de gabinete como garantia e o aval da Assembleia. "Isso gera um dissabor, que está em campo. Eu gostaria de ir para um partido de santos e virgens, mas não tem".
Prestes a se aposentar com seu salário de R$ 20 mil -R$ 3,5 mil a mais que os proventos de um senador- Luna parece animado em entrar na disputa, apesar de não colocá-la como questão crucial de sua vida. Tentará a política em 2010 e, se perder, planeja vender uma propriedade rural em Sorocaba, interior paulista, fazer a partilha com seus seis filhos de três casamentos, voltar a morar em São Sebastião, comprar um barco de R$ 350 mil e visitar Maceió pelo mar.Valor Econômico
Luna se filia nesta sexta para disputar uma das duas vagas ao Senado nas eleições de 2010. Neófito na política, irá para o confronto direto com tradicionais políticos alagoanos como o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), a ex-senadora Heloisa Helena (PSOL) e o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT).
Conta, porém, com uma estrutura ínfima, em contraste com a imensa máquina partidária do PT nacional. Em 2006, na reeleição de Lula, o PT de Alagoas elegeu dois deputados estaduais, os menos votados entre os 27 eleitos. Desde 1994, alterna entre uma ou duas cadeiras na Casa. À Câmara federal, nunca chegou. Em 2008, elegeu apenas um dos 102 prefeitos do Estado e nenhum vereador petista conseguiu vaga na Câmara Municipal de Maceió.
"Aqui o PT é uma Ferrari com o pneu furado", diz Luna em seu apartamento na Ponta Verde, área nobre da capital alagoana. Aos 44 anos, ele diz que acabou fechando com o PT depois de negociações mal-sucedidas com o P-Sol -"o partido não suporta duas candidaturas" - e com o PCB -"é nanico, a estrutura é mínima e tem essa coisa de chamar de camarada, não é a minha cara isso". Pelo acordo, será candidato único ao Senado pela legenda. Caso haja coligação com outros partidos, o PT abre mão de lançar candidato ao governo do Estado ou a vice.
"Sei que corro por fora, mas quero ser o segundo voto das pessoas. Quer votar no Renan? Na Heloísa? Pode votar. Mas dê o segundo voto para mim", diz Luna, que aposta no discurso da moralidade para conquistar o eleitorado: "Tenho proposta: não tenho preço".
O delegado chegou em Maceió em dezembro de 2007, depois de prometer para si que nunca mais pisaria no Estado. Antes, estivera lá por três vezes, sempre em missões para desvendar sequestros e homicídios. Em uma dessas ocasiões, quase foi morto, o que motivou sua intenção de não mais regressar. Preferia ficar no comando da delegacia de São Sebastião, litoral norte paulista, onde começou a se interessar por veleiros. Teve que se mudar quando o delegado-geral da PF, Luis Fernando Corrêa, chamou-o em Brasília oferecendo-lhe uma missão. "Chefe, desde que não seja ir pra Alagoas...", disse. "É para ser superintendente em Alagoas", rebateu Corrêa.
Dias depois da mudança, deflagrou a Operação Taturana, que prendeu deputados e empresários locais. Teve presença maçica na mídia e recebeu apoio constante em Maceió. Por isso calcula que 80% dos seus eleitores estarão na região metropolitana da capital alagoana, enquanto 20% virão do Agreste e do Sertão.
A baixa expectativa de desempenho pelo interior se deve, segundo diz, à forte permanência de currais eleitorais mantidos com compra de votos. Esse, aliás, é um dos motivos por que decidiu se lançar na política em cargo majoritário. Avalia ser mais difícil o eleitor vender votos neste tipo de disputa.
Luna atribui à luta política entranhada e aguerrida nesses feudos a formação das lideranças que Alagoas projetou nacionalmente, como Renan e os ex-presidentes Fernando Collor, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, além de personagens históricos como Zumbi dos Palmares e Domingos Calabar. "É como se fosse Israel. O cara tá na adversidade e tem que se engendrar. Quando sobrevive aqui fica preparado pra qualquer coisa". Além disso, vê a política do favor como motor da economia local. "A política corrupta em Alagoas faz girar uma economia informal. Quero melhorar isso".
Diz que a corrupção no Estado tem continuidade depois das eleições. "Mais de 80% dos prefeitos daqui roubam. O cara ganha uma eleição, ganhou na Mega Sena. Passa a viver de FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Não tinha nada antes e, de repente, compra um carrão. Forma um feudo, vive disso e passa a fazer de tudo para eternizá-lo", diz. Ele cita como exemplo o caso do deputado estadual João Beltrão (PMN), que, em 2008, alterou a certidão de nascimento do filho para apressar seus 21 anos, a idade mínima para concorrer a prefeito.
O responsável por ajudá-lo a captar o estimado caixa de R$ 600 mil será um amigo empresário que conheceu na Federação Alagoana de Vela e Motor.
Embora, segundo ele mesmo, seja difícil ao eleitorado dissociar sua imagem da PF, Luna diz que não vai explorar essa vinculação. Assegura não ter intenção de ser o salvador da pátria ou o xerife, apesar de avaliar que o posto de moralizador virá naturalmente. Sua preocupação é que adversários vinculem sua atividade policial pregressa a anseios políticos futuros, tal qual ocorreu com seu colega Protógenes Queiroz, recém-filiado ao PCdoB-SP. Ambos ingressaram na instituição no concurso de 1993 e trabalharam no mesmo prédio da PF em São Paulo. Luna acompanhou a Satiagraha de longe, mas considera que houve desvios de conduta do colega na relação com a imprensa e com os superiores.
Depois da cerimônia de filiação ao PT nesta sexta, o trabalho será para aprovar seu nome na convenção. O receio é de que uma eventual composição com o PMDB de Renan derrube seu projeto político. "O pessoal me fala que estou entrando em uma ratoeira, que se na convenção o Renan sentir que sou uma ameaça ele não deixa eu sair", diz
Sua atuação na PF não poupou o partido. Um dos indiciados na Operação Taturana foi o deputado estadual Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, um dos principais nomes do petismo alagoano. Ele é acusado pela PF de ter contraído R$ 224 mil em empréstimos no Banco Rural, usando a verba de gabinete como garantia e o aval da Assembleia. "Isso gera um dissabor, que está em campo. Eu gostaria de ir para um partido de santos e virgens, mas não tem".
Prestes a se aposentar com seu salário de R$ 20 mil -R$ 3,5 mil a mais que os proventos de um senador- Luna parece animado em entrar na disputa, apesar de não colocá-la como questão crucial de sua vida. Tentará a política em 2010 e, se perder, planeja vender uma propriedade rural em Sorocaba, interior paulista, fazer a partilha com seus seis filhos de três casamentos, voltar a morar em São Sebastião, comprar um barco de R$ 350 mil e visitar Maceió pelo mar.Valor Econômico
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