A publicação da pesquisa do físico brasileiro Dalton Girão Barroso sobre o funcionamento do mecanismo de uma bomba atômica representa um trunfo estratégico para o Brasil, segundo especialistas em assuntos militares. Girão Barroso desenvolveu, em sua tese de doutorado, um modelo matemático que poderia ser aplicado em um artefato nuclear.
O pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Expedito Bastos acredita que ter o conhecimento para produzir uma bomba atômica é uma peça importante de “barganha” no cenário político internacional.
Essa visão é compartilhada pelo coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eurico Figueiredo. Segundo ele, saber fazer um artefato nuclear é estratégico para o Brasil, principalmente no contexto da política de defesa nacional, na qual a “dissuasão” tem papel-chave.
“A dissuasão quer dizer o seguinte: você tem uma arma e eu tenho uma outra. Logo, você imagina que não pode apontar sua arma para mim, porque se você apontar minha retaliação será muito forte e, portanto, o custo-benefício do seu ataque não será propício a você”, afirmou Figueiredo.
Ambos concordam, no entanto, que há uma distância grande entre ter a capacidade de produzir e efetivamente construir uma bomba atômica. “Nós assinamos diversos tratados que não nos impedir de fazer isso [produzir a bomba] abertamente. Há um preço a pagar, talvez muito alto, para querer ter uma bomba”, disse Expedito Bastos.
Além de ser signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, o Brasil expressa, em sua própria Constituição Federal, que toda atividade nuclear realizada em território nacional deverá ter fins pacíficos.
Figueiredo acredita que o Brasil é um país que vem despontando como um dos principais atores globais e, por isso, deve começar a discutir se deseja ou não integrar o grupo de nações que possuem arsenais nucleares.
“No médio prazo, o Brasil terá que discutir a questão da energia nuclear aplicada a outros fins, que não sejam pacíficos. Por que essa necessidade vai surgir? O Brasil caminha para se tornar um dos dez países mais importantes do mundo. E, na medida em que as grandes potências dispõem também deste artefato, a sociedade brasileira terá que se esclarecer a respeito da conveniência, ou não, de contar com tais armamentos.”
O risco do Brasil decidir por investir em pesquisas sobre armas nucleares e produzir tais artefatos, segundo Expedito Bastos, é que o país poderá ser isolado internacionalmente, como ocorreu com o Iraque (durante o regime de Saddam Hussein), a Coreia do Norte e até o Irã (apesar de não ter um programa oficial de armas nucleares, o Irã é acusado pelos Estados Unidos e Europa de manter um projeto secreto).
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