quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Brasileiros já trabalham no projeto do caça Gripen

Enquanto o governo brasileiro decide dar mais uma oportunidade para que as empresas que participam do processo de seleção dos novos aviões de caça que o país irá comprar melhorem as suas propostas, a transferência de tecnologia desse tipo de aeronave já começou a acontecer com pelo menos uma das disputantes. Lideradas pela Akaer, as empresas Friuli, Winnstal, Minoica e Imbra Aerospace enviaram para a Suécia uma equipe de 20 engenheiros e técnicos brasileiros para começar a trabalhar no projeto do novo caça sueco Gripen NG, produzido pela Saab Aerosystems. Além do grupo sueco, disputam a licitação para venda de 36 caças para a Força Aérea Brasileira a americana Boeing e a francesa Dassault.

"A cooperação efetiva com a Saab foi iniciada no dia 31 de agosto visando o engajamento total das empresas no projeto, o que inclui o domínio de tecnologias importantes da aeronave e acesso a todas as áreas sensíveis na fábrica da empresa, em Linköping, na Suécia", explica o diretor-executivo da Akaer, César Augusto da Silva. A T1, holding que reúne as cinco empresas brasileiras envolvidas no projeto do novo caça sueco, será a responsável pelo projeto e produção da fuselagem central, fuselagem traseira e asas do Gripen NG.

Segundo o diretor da Akaer, embora o sucesso da parceria com a Saab esteja, de certa forma, atrelado ao projeto F-X2, pela possibilidade de o Brasil vir a ser o cliente lançador do Gripen NG, caso ele seja o escolhido, este fator não será, necessariamente, decisivo para que as empresas brasileiras permaneçam no desenvolvimento do novo caça. " As nossas empresas foram selecionadas através de uma concorrência internacional dentro da estratégia da Saab de encontrar parceiros internacionais para o projeto", explica o executivo.

A transferência de tecnologia na área de estruturas feitas em material composto, de acordo com o diretor da Akaer, capacitará as empresas brasileiras a serem fornecedoras de classe mundial de qualquer cliente do caça Gripen NG. A ideia da holding é formar um novo polo aeronáutico no Brasil na área de desenvolvimento da inteligência e do ciclo de produção de aeronaves, deixando no passado a fase de simples fornecedor de peças.

"Não estaremos envolvidos simplesmente no processo de fabricação das peças, que não tem valor agregado e atividade de engenharia. A questão não é só fazer, mas saber fazer e isso já começamos a aprender trabalhando em conjunto", comenta o diretor técnico da Akaer, Ricardo Fontes. A troca de informações na área de projeto, engenharia e produção dos caças suecos, segundo Fontes, está sendo feita com autorização do governo daquele país.

A previsão da Akaer é que a partir do próximo ano uma equipe de pelo menos 150 engenheiros e técnicos das empresas que compõem a holding T1 comecem a trabalhar no Brasil em conjunto com 20 especialistas suecos. Os brasileiros que já estão na Suécia hoje, segundo Fontes, ficarão trabalhando lá por um período de seis meses.

Os diretores da Akaer estimam que em quatro anos o faturamento da holding atinja US$ 500 milhões e cerca de 2,9 mil postos de trabalho sejam criados nos próximos 10 anos. "Se o resultado do F-X2 for favorável ao Gripen, em seis meses dobraremos nosso atual quadro de colaboradores", disse Silva. "A parceria com a Saab pode representar um grande salto tecnológico com o mesmo significado que o AMX teve para a Embraer, que se capacitou para o desenvolvimento da sua bem sucedida família de jatos regionais."

País vai ajudar a dimensionar asa do supersônico

Gerente do Projeto de Segmentos Estruturais do novo caça sueco Gripen NG, o engenheiro de materiais, Fernando Ferraz, responsável pela área de engenharia e qualidade da Akaer, foi convocado para coordenar o treinamento dos 20 engenheiros brasileiros que estão na Suécia aprendendo a decifrar a tecnologia das aeronaves supersônicas. "É a primeira vez que uma empresa brasileira tem a oportunidade de dimensionar uma asa de uma aeronave supersônica."

Do ponto de vista de fabricação, segundo o engenheiro, o nível de requisitos das peças, que serão feitas em material composto, é mais crítico, pois as partes são mais espessas e os materiais mais resistentes que os utilizados pela aviação civil. " A Akaer tem bastante experiência nas áreas de projeto e cálculo, mas com o programa do Gripen NG também vai conquistar know how na área de fabricação."

Um dos pontos destacados pelo engenheiro é que durante a fase de absorção das novas tecnologias, a equipe brasileira estará envolvida no processo de desenvolvimento desde o seu início. "Vamos utilizar ferramentas computacionais que integram desde o conceito inicial até a liberação do produto final." No Brasil, segundo Ferraz, ainda não existe nenhuma empresa do setor aeroespacial, com exceção da Embraer, que consegue integrar todo o processo de produção de uma parte importante de um avião.

As fornecedoras da cadeia aeronáutica brasileira, segundo o engenheiro, atingiram capacidade técnica muito boa, mas possuem deficiências gerenciais e de integração. "Essa oportunidade nos dá a chance de mudar esse paradigma. Ganharemos a integração de maneira mais rápida". Hoje, a integração é feita por fornecedores estrangeiros, que recebem os conjuntos semi prontos e fazem o acabamento no Brasil.

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