terça-feira, 30 de junho de 2009

Participação do morador é um trunfo no PAC


Em janeiro de 2008, fui convidada a assumir a coordenação da área social do PAC das comunidades de Manguinhos, Complexo do Alemão e Rocinha. Os primeiros debates eram acalorados, muitas vezes não conseguíamos sequer expor o que estávamos pensando. Percebi logo o descrédito que os moradores tinham em relação ao poder público.

Fomos, aos poucos, construindo uma relação baseada na verdade, na transparência das informações e na participação da comunidade.

Visito diariamente as comunidades. Fico junto com minha pequena equipe no território, vencendo dia a dia as demandas. São histórias na sua maioria das vezes de muita tristeza, sofrimento e por que não dizer inimagináveis.

Não consigo até hoje entrar em Manguinhos, visitar locais como a Avenida Atlântica ou a área chamada vulgarmente de Chiqueirinho e ficar imune ao que vejo. São casebres de madeira, plástico e restos de obras, apoiados no lodo junto ao Canal do Cunha onde os moradores convivem com toda a sorte de animais e todos os perigos e ameaças de desabamentos.

Desde janeiro, quando estivemos neste local, mais de 20 casas simplesmente desabaram por causa das chuvas!

Já saí muitas vezes chorando com as situações vividas por eles e tenho tentado fazer o máximo para que o trabalho social não passe como assistencialista e que não acabe com o final das obras do PAC.

E hoje, um ano e meio depois, já posso sentir mudanças verdadeiras: vejo famílias inteiras se mudando para novas casas recém-construídas.

Vejo pessoas que antes se mostravam arredias, desconfiadas, me ligando para agradecer e contar o que têm conseguido.

Acabei de voltar de Medellín, onde fui conhecer a experiência bem sucedida do PUI-Programa de Urbanização Integrada realizado há seis anos pela prefeitura local.

O que ouvi e vi foi a transformação, em cinco anos, de uma cidade considerada a mais violenta do mundo, num lugar com índices de violência menores do que Nova York ou Paris.

São feitas centenas de reuniões comunitárias e oficinas chamadas de oficina do imaginário, onde a equipe técnica, formada sempre por no mínimo três profissionais: um engenheiro, um arquiteto urbanista e um técnico social apresentam à população a área onde haverá intervenções e são os próprios moradores dos locais, representados por jovens, crianças, trabalhadores, lideranças e idosos que debatem e desenham aquilo que sonham para sua comunidade.

Trouxemos esta idéia e já conseguimos fazer uma primeira Oficina na Rocinha. Os moradores foram convidados a desenhar e expressar o que gostariam para a área do parque ecológico que será construído na parte alta da comunidade, junto ao muro que já foi objeto de tanta polêmica e debate.

O resultado foi surpreendente!
Por:Ruth Jurberg

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