Se antes os correspondentes bancários eram vistos apenas como uma alternativa para se efetuar o pagamento de contas, cada vez mais esses espaços se consolidam como a porta de entrada para classes de renda mais baixa. Essa é uma das conclusões de um amplo estudo do setor feito pelo professor da USP, Celso Grisi.
De acordo com dados da pesquisa, os usuários dos correspondentes bancários se distribuem por uma ampla faixa de renda.
Do total, 42% dos entrevistados no estudo possuem renda inferior a R$ 800. O restante se divide nas categorias de até R$ 4 mil. Mas o uso mais intensivo é feito justamente pelos mais pobres, com renda de até R$ 800. Cerca de 60% da amostra diz que usa os serviços bancários entre duas e quatro vezes por mês.
O levantamento mostra que de fato esse canal de atendimento é o mais eficaz para atrair um público que antes não tinha acesso ao sistema financeiro. Por meio dos correspondentes, as instituições financeiras conseguem superar o grande entrave para a bancarização desse segmento de mais baixa renda, segundo Grisi, que é o custo unitário das operações, que muitas vezes não é coberto pelo lucro obtido individualmente.
"O valor de cada transação é muito baixo e a possibilidade de ganho é pequeno. Com o correspondente, as instituições conseguem remunerar o serviço e ainda viabilizar a bancarização", completa o professor Grisi, que também é diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal.
O estudo também avaliou o interesse dos estabelecimentos comerciais em prestar esse tipo de serviço. Porém, 80% das 625 empresas ouvidas que apresentaram condições para oferecer o serviço nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Brasília disseram não ter interesse em entrar nesse negócio.
A principal razão apontada pelas empresas foi a questão da segurança. Os empresários também citaram as possíveis dificuldades com pessoal e equipamentos, além da falta de espaço físico. "Ouvimos pessoas que desistiram de ser correspondente porque o público que buscava o serviço bancário era diferente do cliente da loja e essa competição era prejudicial para o estabelecimento", comenta Grisi.
Apesar dos problemas, o professor conta que os correspondentes ouvidos se mostram satisfeitos com os benefícios conseguidos com o duplo negócio. Entre as vantagens que atraíram os varejistas estão a possibilidade de ampliar o fluxo de novos clientes nas lojas, o que gera aumento nas vendas. A diluição de custos fixos, como aluguel, por exemplo, também foi citado.
"As empresas valorizam muitos os bancos que apresentam tecnologia fácil de ser absorvida e que tenha boa velocidade nas transações, para impedir a formação de filas no estabelecimento", disse Grisi, lembrando que o treinamento aos funcionários e a assistência prestada pelos bancos também são fundamentais.
Para ele, essa modalidade de atendimento tem um grande potencial, especialmente pelo crescimento da renda da população nos últimos anos. "O correspondente já faz parte da estratégia dos bancos que querem entrar na baixa renda".
O professor lembra ainda que as agências bancárias tradicionais estão passando por uma mudança de função, com mais relacionamento e consultoria. Para ele, é cada vez menor o papel na distribuição de produtos e serviços. "Com os correspondentes e também com o autoatendimento e a internet, os bancos não precisam mais de agências tão grandes e podem centrar as consultorias em núcleos de atendimento mais perto do cotidiano financeiro de cada localidade".
Porém, ele alerta que os correspondentes têm de desenvolver habilidades mais específicas para poder oferecer também outros produtos, como crédito, seguro ou previdência privada. "O uso ainda é pobre. O espaço poderia ser mais bem aproveitado". De acordo com a pesquisa, a maior parte das pessoas usa o serviço para fazer pagamentos, depósitos, saques e consultas.
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