quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pré-candidato, Genro vê obstáculos à aliança gaúcha entre PMDB e PT


Nome mais cotado até agora para disputar o governo gaúcho pelo PT, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reconheceu ontem a dificuldade para a reprodução, no Rio Grande do Sul, da aliança nacional que o partido está articulando com o PMDB em torno da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República no ano que vem. De acordo com ele, o palanque unificado no Estado "é difícil porque aqui PT e PMDB sempre polarizaram frentes políticas diferentes".

Genro voltou a defender que o candidato do partido seja escolhido por consenso e reiterou que não participará de prévias para não "rachar" nem "enfraquecer" a sigla como ocorreu em 2002, quando ele venceu o então governador Olívio Dutra na disputa interna mas perdeu a eleição para o pemedebista Germano Rigotto. Ele entende o PT deve definir o nome até agosto e, caso seja escolhido e aceite a tarefa, irá conversar com o Presidente Lula para acertar o momento "mais adequado" para deixar o ministério.

Conforme o ministro, o PT está buscando o espectro "mais amplo possível" de alianças no Rio Grande do Sul dentro da base de sustentação do presidente Lula para formar um governo estadual de "maioria política estável". A lista inclui, além dos tradicionais companheiros PSB e PCdoB, o PDT e o PTB. Já o PMDB tem "outras relações" no Estado. "O PT é oposição ao governo Yeda Crusius (PSDB) e o PMDB está no governo, dá sustentação e está comprometido com ele", afirmou.

A avaliação de Genro não é isolada. No início deste mês, Rigotto, um dos cotados para concorrer pelo PMDB, disse ao Valor que os pemedebistas gaúchos não iriam cometer o mesmo "erro" do comando nacional do partido de ficar "a reboque" seja do PT ou do PSDB em nome dos interesses de uma "cúpula" preocupada em obter "favores e espaços" no governo federal.

Mas também há problemas para a montagem das outras alianças defendidas pelo ministro. O PDT, por exemplo, ocupa a vice-prefeitura de Porto Alegre e assumiria o comando da administração municipal caso o prefeito José Fogaça aceite concorrer pelo PMDB. Na última pesquisa feita pelo instituto Datafolha, em março, o pemedebista obteve 27% das intenções de voto no Estado, apenas três pontos atrás do ministro da Justiça, que liderava o levantamento.

Já o PTB também é cobiçado pelo PMDB e ainda ocupa postos importantes no secretariado de Yeda Crusius, que na pesquisa do Datafolha apareceu em terceiro lugar, com 8% e 9% das intenções de voto, conforme o cenário. "O PTB está no nosso espectro de alianças nacionais e é um partido que agregaria, mas seria contraditório vir para a coalizão conosco e permanecer no governo Yeda", afirmou Genro.

O ministro chegou a afirmar que a escolha do candidato deve passar pelo crivo dos partidos que se aliarem ao PT e disse que o deputado federal Beto Albuquerque, presidente estadual do PSB, é um "nome respeitável" para concorrer a governador. O próprio PSB, porém, já sinalizou que pode procurar outros partidos, como o PDT e o PTB, para apresentar um bloco alternativo aos eleitores gaúchos no ano que vem.

Além de trabalhar pelo consenso interno e pela ampliação do leque de alianças do PT em 2010 no Rio Grande do Sul, Genro tem ainda pela frente o desafio de salvar aquela que poderia ser uma de suas principais bandeiras caso seja escolhido para concorrer ao governo gaúcho. Na segunda-feira ele terá uma reunião "definidora", como ele próprio definiu, com o colega do Planejamento, Paulo Bernardo, para tentar reverter o corte no orçamento do Ministério da Justiça que ameaça frustrar as metas do Pronasci, o programa de segurança pública em parceria com Estados e municípios.

O contingenciamento, anunciado no início deste mês, reduziu em R$ 1,2 bilhão (ou 43,7%) o orçamento do Ministério da Justiça, "exatamente o valor do Pronasci", afirmou Genro. Ele ressalvou que compreende a situação delicada do ministro do Planejamento para lidar com um cenário de redução da carga fiscal e de aumento dos gastos públicos para estimular o crescimento da economia, mas afirmou que o corte foi "desproporcional" à importância do Pronasci, "que é uma das prioridades do governo".

Depois de duas reuniões com Bernardo, porém, Genro tem certeza de que pelo menos parte do orçamento original será restabelecido. "Quero reverter totalmente os cortes, mas vamos ver o que é possível", afirmou. De acordo com ele, até agora nenhuma ação do Pronasci foi interrompida e até junho todos os contratos estão "sob controle" porque foram assinados em 2008 e transferidos para o orçamento de 2009. "O problema começaria em julho, mas acredito que isso não vai ocorrer".

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