A ministra Dilma e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), fizeram ontem um ensaio do que poderá ser um embate entre as candidaturas governista e da oposição na eleição de 2010, quando o Brasil vai eleger o sucessor do Presidente Lula.Diante de uma platéia de cerca de 1,3 mil sindicalistas, empresários e servidores públicos de sete municípios que compõem o ABC paulista, os dois potenciais presidenciáveis na próxima corrida eleitoral centraram seus discursos nas condições da economia brasileira frente à crise e trocaram farpas, embora em tom amigável.
Dilma não só ressaltou o conjunto de medidas que o governo vem adotando desde o final do ano passado para "mitigar" os efeitos negativos das turbulências nos países desenvolvidos sobre a atividade econômica interna, mas também anunciou "o que ainda o governo terá oportunidade de fazer", como a liberação de R$ 4 bilhões para obras de drenagem nos estados e municípios, e de outros R$ 3 bilhões para ampliar projetos de saneamento já em andamento. "Antes o governo era parte dos problemas, agora é parte da solução."
O governador paulista e presidenciável tucano - que disputa a indicação pela candidatura ao Palácio do Planalto com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) -, contumaz crítico da política monetária do governo, aproveitou a presença da ministra para repetir a "morosidade" do atual governo no enfrentamento da crise, especialmente a demora de cerca de seis meses para começar a reduzir as taxas de juros.
Na opinião do tucano, o recuo do Produto Interno Bruto (PIB), de 3,6% no último trimestre de 2008 ante os três meses anteriores, também se deve à falta de agilidade numa redução mais forte das taxas de juros. Para ele, a política monetária, após seis meses da crise, está equivocada "porque manteve os juros na estratosfera, dificultando a retomada da economia".
No momento do debate, nenhum dos dois sabia que o Banco Central havia reduzido a taxa de juros em 1,5 ponto porcentual.
Ao chegar no local do seminário "ABC do Diálogo e do Desenvolvimento", em São Bernardo do Campo (SP), Dilma foi recebida pelo prefeito da cidade, o ex-ministro e também petista Luiz Marinho, que avisou a ministra da presença da equipe do programa Custo o que Custar (CQC), da rede Bandeirantes de televisão. Ela aceitou o desafio e respondeu à pergunta do repórter, que quis saber se ela não tinha medo de ter de arcar, em 2010, com as consequências da queda no PIB do País nos últimos três meses do ano passado e novas eventuais reduções de janeiro deste ano em diante. Após ressaltar que estava falando em tese e deixando 2010 de lado, a ministra enfatizou o fato de a taxa de crescimento da economia brasileira no acumulado de 2008, de 5,1% frente a 2007, ter representado um dos melhores resultados em comparação com outros países emergentes. Foi também o terceiro melhor performance do governo Lula. "Esse dado mostra que nós crescemos e, portanto, fomos muito melhores que a China, Índia e Rússia", destacou.
A ministra só parou de enumerar para os jornalistas as medidas que o governo já tomou para defender o País da crise quando o governador de São Paulo compareceu no saguão do evento. Após encerrar a entrevista, os dois seguiram juntos para o auditório, onde sentaram um lado a lado numa mesa também composta dos secretários estaduais de São Paulo Geraldo Alckmin (Planejamento) e Aloísio Nunes Ferreira (Casa Civil), além de prefeitos e outras autoridades da região.
Sem fazer referência direta à proposta da oposição, que sugeriu a criação de um grupo exclusivo para cuidar da crise financeira, Dilma reagiu à ideia durante seu discurso. "Essa política de gabinete de crise é de quem não segurou a barra e teve apagão", declarou, insinuando a falta de energia no governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Na época, o PT costumava chamar os problemas enfrentados nessa área de "apagão do planejamento". Segundo Dilma, "não temos um país com crise e outro sem crise. Por isso, o governo inteiro está empenhado em reduzir as dificuldades decorrentes das turbulências externas. Isso significa que todas as empresas públicas, todos os bancos públicos e todos os ministérios estão obrigados a adotar uma atitude ativa neste sentido", acrescentou.
Dilma disse ainda que o governo brasileiro tem margem de manobra razoável para continuar agindo nos campos da política monetária, fiscal e de crédito para continuar praticando uma política econômica que visa ao mesmo tempo o desenvolvimento e a inclusão social, com distribuição de renda. "O princípio nosso é o da realidade", afirmou Dilma, ao exemplificar como o Tesouro Nacional vai subsidiar a prestação da casa própria para a população de baixa renda, no pacote habitacional a ser lançado em breve. "Para famílias que ganham um salário mínimo e meio ou dois salários mínimos, não tem escolha. Ou pagam uma prestação de uma casa de dois quartos, sala, cozinha e banheiro, ou comem", acrescentou.
Por compreender que esses brasileiros necessitam do apoio do Estado para ter uma moradia digna, informou Dilma, o subsídio será dado diretamente ao mutuário e o pagamento será iniciado somente depois da entrega do imóvel.
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