terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A hora e a vez de Dilma Rousseff


O PT quer começar a campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) a partir de abril, já com uma agenda "eleitoral eficiente" e uma proposta clara para a armação dos palanques regionais, pois considera que esta é a melhor maneira de enfrentar um candidato consolidado do ponto de vista da opinião pública, conforme apontam as pesquisas, como é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

"Em março temos que tomar um rumo. Cada dia que passa é um dia a menos. O Lula tem dia e hora para sair", diz o ex-governador do Acre Jorge Viana, um dos integrantes do mutirão do PT que articula a viabilização da candidatura Dilma, do qual fazem parte, entre outros, o presidente Ricardo Berzoini (SP), ministros e outros ex-governantes petistas

"Isso vai assim até março, meio caótico. Depois engrena", diz.

O ex-governador conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro. Logo depois Lula se encontrou com os ex-prefeitos Marta Suplicy (SP), João Paulo (BH) e Fernando Pimentel (BH). Com todos Dilma foi assunto central.

A própria Dilma teve pelo menos 20 encontros oficiais com Lula, só nestes 40 dias de 2009. Mais que qualquer outro ministro. Mas segundo Viana, nem Lula já a convidou nem ainda se constituiu uma coordenação formal da candidatura.

Mesmo sem a oficialização, Jorge Viana diz que é preciso definir imediatamente uma "agenda para cumprirmos e para podermos fazer andar o projeto". Ele não é um fã do que chama de "agenda PowerPoint" - programa utilizado para edição e exibição de apresentações gráficas - e das visitas relâmpagos, "e sim de uma agenda mais de gente do que de números".

Segundo Viana, mesmo sendo importante, esse tipo de agenda não atinge as pessoas. "Mais eficiente é ela dormir lá no Acre, ir ao mercado, conversar com as pessoas. Vai sair em todos os jornais durante três dias. Mas chegar lá tipo meio-dia, fazer um ato bacana e sair as seis horas da tarde, as pessoas não vão nem tomar conhecimento". O ex-governador acha a atual agenda "muito eficiente para o governo continuar crescendo em respeitabilidade, aceitação e tal. Mas não tão eficiente pra gente poder consolidar um nome à candidatura".

Em contato com institutos de pesquisa, Viana tem percebido muito ceticismo à hipótese de Dilma chegar a 20% das intenções de voto até o final do ano. Ele é de outra opinião: acredita que com uma agenda bem trabalhada, a ministra Dilma chega aos 25% nesse período. Já está nos dois dígitos.

Uma candidatura oficial, evidentemente, não se resume à agenda. As alianças estaduais são decisivas. "Nós temos que tomar uma decisão: se a gente faz a política de alianças de cima para baixo ou de baixo para cima. Se você olhar de cima para baixo, não dá jogo com o PMDB, que é o nosso parceiro preferencial, não tem aliança tão cedo", diz Viana. "Isso porque há pelo menos uns três ou quatro grupos e nenhum interlocutor de fato do PMDB".

"Mas como é uma eleição geral também do ponto de vista dos Estados, com disputas para governador e deputado, se for feito de baixo para cima eu acho que tem como fechar aliança na maioria dos Estados do PT com o PMDB". Isso "desde que a gente flexibilize um pouco".

Viana fala do PT. Como exemplo, cita Minas Gerais. "Dá para fazer (acordo com o PMDB), mas a gente precisa resolver antes o problema entre o Fernando Pimentel (ex-prefeito), Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social) e companhia. Se não tiver esse acerto, como é que nós vamos conversar com os outros? Nós todos temos que tomar juízo", adverte Jorge Viana. "Se nós não resolvermos Minas Gerais, nós teremos problemas", prevê Jorge Viana.

O raciocínio do ex-governador é cartesiano. O PT já enfrenta dificuldades em São Paulo, o que é natural, por conta da força eleitoral do PSDB no Estado, conforme demonstrado nas últimas eleições presidenciais (aliás, cabe acrescentar que os tucanos avaliam que José Serra pode ter um desempenho maior que o de Geraldo Alckmin contra o próprio Lula, nas eleições de 2006 - o PSDB acha que Serra, mantidas as atuais condições de temperatura, pode levar mais de 80% dos votos).

No Rio de Janeiro, Viana acha que é possível compor com o PMDB. Mas neste caso, a aliança decidida de baixo para cima pode não resolver nada, se o governador Sérgio Cabral "ficar na dúvida se apoia ou não o candidato do presidente Lula".

Em Minas Gerais, a situação depende mais do PT que do PMDB. "Por isso que Minas Gerais é tão importante para nós. Assim que a gente tiver Minas e os tucanos tiverem São Paulo, pode bater (estariam então em igualdade de condições para a disputa)". Acertando o Rio de Janeiro, o PT acha que pode então sair do confronto no Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio e Minas, os três maiores colégios eleitorais do país) numa situação melhor que a do PSDB.

Viana vê dificuldades para o entendimento PT-PMDB no Rio Grande do Sul, talvez no Acre, onde faz política, e Pernambuco, onde de qualquer forma o PT terá condições de fazer uma boa aliança com o PSB, se for evidentemente flexível - Eduardo Campos é candidato à reeleição ao governo estadual, cargo também cobiçado pelo ex-prefeito João Paulo.

Apesar dos entreveros no Pará, o PT vê possibilidades de entendimento no Pará, entre Jader Barbalho e Ana Júlia Carepa. Um acordo é possível também no Amazonas e até na Bahia, onde os dois partidos, embora aliados no governo estadual, passam por dificuldades no relacionamento.

"Na maioria dos Estados a gente pode sair junto por aquilo que é importante, que é a eleição local, o calendário, a agenda regional tomando a frente da agenda nacional, afinadinhoscom ela", diz Viana. "Isso é uma coisa pra mim fundamental". Resta saber se o PT tem hoje mais capacidade de ceder espaços, em nome de boas alianças, do que teve até agora.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília.

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