domingo, 5 de abril de 2009

Folha de volta aos velhos tempos da operação OBAN, chama rebeldes de "terroristas"


O jornal Folha de São Paulo (Folha de José Serra), abriu as portas para seus piores instintos, e, para agradar o chefe José Serra e desconstruir a imagem de Dilma, faz uma reportagem que mais parece redigida por escrivães do DOPS ou DOI-Codi.

A Folha chama grupos rebeldes de "organização terrorista", ao relatar um plano de que envolveria a captura do então ministro da fazenda Delfim Netto para troca por prisioneiros políticos também presos ou sequestrados pelo regime ditatorial.

Ora, é consenso entre historiadores e pessoas de bom-senso que guerra de guerrilha não é associada ao terrorismo, uma vez que guerrilheiros tem como alvo forças igualmente armadas, procurando sempre minimizar os danos a civis para conseguir o apoio destes. É, portanto, uma tática militar e não uma forma de terrorismo.

Se a Folha existisse na época da inconfidência mineira, chamaria Tiradentes de "terrorista", cortejando docilmente o poder e o ouro da rainha de Portugal, D. Maria, a louca.

Aliás a palavra "inconfidência" como foi chamado o movimento pela coroa portuguesa tem o significado, no dicionário, de traição.

ENTENDENDO O CONTEXTO DA ÉPOCA

Nos anos 60 o mundo vivia a época da Guerra Fria, sendo dividido entre países que se alinhavam aos Estados Unidos e outros à União Soviética.

As esquerdas latino-americanas se dividiam em projetos que iam desde a ditadura do proletariado, até a social-democracia européia. O projeto de esquerda de massas que ganhou corpo no Brasil foi o trabalhismo fundado por Getúlio Vargas e continuado por João Goulart. Era de cunho reformista e democrático.

Havia radicais e extremistas de todos os lados, mas o centro predominava, tanto é que na base de sustentação de Getúlio e João Goulart, estava o PSD, um partido de oligarquias políticas, semelhante ao PMDB de hoje.

As liberdades democráticas garantiam o exercício político-partidário de socialistas e direitistas, menos dos partidos comunistas que continuavam proibidos.

As reformas de João Goulart, que não eram revolucionárias, apenas promoviam maior justiça social, sem expropriar ninguém, foram suficientes para a elite, que já conspirava, desencadear o golpe de 64, para manter seus privilégios.

Assim, sob a desculpa da Guerra Fria, alegando não deixar o Brasil cair na esfera comunista de Moscou (possibilidade que não havia na época), os extremistas de direita conseguiram conquistar o poder, excluindo o centro político e setores de esquerda do governo.

Em uma escalada ditatorial, a participação política do centro e da esquerda foi excluída não só do governo, mas como da própria oposição, através de cassações que proibiam o exercício político democrático.

No fim de 68 numa reunião dos secretários de Segurança Pública estaduais em Brasília, o ministro da Justiça, Gama e Silva, e o general Carlos de Meira Matos (que estava na chefia da Inspetoria Geral das Polícias Militares), decidiram pela montagem de um organismo que reunisse elementos das Forças Armadas, da Polícia Estadual - civil e militar - e da Polícia Federal para o trabalho específico de combate à "subversão". A reunião, chamada "Seminário de Segurança Interna", discutiu toda uma estratégia de combate aos opositores do regime.

O acesso ao poder via política-partidária e eleições passava a ser assunto de polícia.

Em dezembro de 1968 era decretado o AI-5. O ato tornou qualquer atividade política de oposição de fato, proibida. Suspendeu a possibilidade de qualquer reunião de cunho político. Nem a arte e a cultura como válvula de escape para manifestações políticas eram permitidas, pois foi instaurada a censura prévia.

Trabalhadores foram proibidos de defender seus interesses através dos sindicatos. Estudantes foram proibidos de exercerem sua cidadania através de entidades estudantis.

Sem ter como atuar em canais sociais legítimos existentes em qualquer democracia ocidental civilizada do século XX, trabalhadores, estudantes, políticos de oposição só encontraram abrigo em organizações clandestinas.

As organizações clandestinas de esquerda se dividiam entre aquelas que pregavam a luta armada revolucionária desde a década de 50, e outras que sempre escolheram a organização social civil e via político-partidária para alcançar o poder.

Com o fechamento da via político-partidária, no princípio ainda houve a atuação clandestina nos dois grupos. Os que não viam alternativa senão aderirem aos grupos de luta armada, e aqueles que tentavam atuar através da desobediência civil teimando em se organizarem, sem recorrer à luta armada.

Em junho/julho de 1969, consolida a operação Bandeirantes (OBAN), organismo de repressão reunindo polícias estadual e federal, militares dos serviços de repressão, com licença extra-oficial para prender, sequestrar, torturar e matar.

Sem vínculos formais ou legais, a OBAN era em essência uma formação paramilitar de ação direta e violenta à margem da lei, o que lhe dava agilidade e brutal eficácia.

Nas páginas do livro A Ditadura Escancarada, de Elio Gaspari, mostra-se que a Oban foi socorrida por uma caixinha liderada, no segundo semestre de 1969, pelo então ministro da Fazenda, Delfim Netto. Em um almoço realizado no casarão de Dona Veridiana Prado, no bairro paulistano de Higienópolis, ao qual comparecem quinze empresários, passou-se o chapéu. Ali, Delfim explicou a falta de verbas e equipamento das Forças Armadas para combater a subversão. Gastão Bueno Vidigal, fervoroso inimigo dos comunistas, dono do banco Mercantil de São Paulo e organizador do encontro, estipulou a ajuda a US$ 100 mil por cada grupo econômico. Anos depois, Paulo Egydio Martins, nomeado governador de São Paulo em 1974, diria: “Àquela época, levando-se em conta o clima, pode-se afirmar que todos os grandes grupos comerciais e industriais do estado contribuíram para o início da Oban”. Ninguém nunca admitiu tê-lo feito, à exceção de Vidigal. (ISTOÉ)

Existem vários relatos de que a Folha de São Paulo colaborou com a OBAN, desde o empenho no noticiário, até o uso de caminhonetes do jornal para suporte à operações policiais.

A desobediência civil foi sendo abandonada por absoluta repressão violenta e intolerância.

Os grupos clandestinos careciam de apoio popular. A época era do milagre econômico, e o governo tinha êxito ao controlar a censura, e proibir qualquer organização popular de cunho político de oposição.

Os grupos clandestinos iam ficando cada vez mais isolados e menores. Seus membros eram presos, sequestrados, desaparecidos, executados, na calada da noite.

A escalada da insensatez que um regime ditatorial provoca, levava familiares ou amigos de presos políticos até então alheios à luta armada, a se engajarem com objetivos de libertar seus parentes ou até ir à revanche.

A idéia de luta pela tomada do poder, seja por adesão popular em uma revolta armada, seja por reabertura de atuação político-partidária, foi sendo abandonada a curto prazo, à medida que os grupos clandestinos eram asfixiados.

A ação política destes grupos passou a ser fazer prisioneiros da guerrilha membros do governo ditatorial ou diplomatas de potências imperialistas estrangeiras que davam suporte ao regime, para troca por prisioneiros políticos, levados para o exílio.

Neste contexto houve o sequestro do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, do qual participou o hoje queridinho da mídia Fernando Gabeira, a quem a Folha não chama mais de "sequestrador", nem de "terrorista".

Gabeira foi preso e asilado no exterior, em troca de prisioneiros decorrente de outro sequestro.

Neste mesmo contexto, a Folha conseguiu com seus amigos carcereiros da Operação Bandeirantes, e publica agora, esboços de um plano de captura de Delfim Netto, no natal de 1969.

Antonio Roberto Espinosa, 63 anos, um dos guerrilheiros, assumiu que coordenou o plano, segundo a Folha. No contexto de guerra de guerrilha da época, era ação legítima de combate, assim como Delfim participou do jantar para arrecadar patrocínio à Operação Bandeirantes, operando como oficial civil do regime a que servia.

Espinosa era do mesmo grupo de Dilma, daí a Folha força a barra ao querer imputar à ministra tal plano. Mas mesmo que a ministra estivesse envolvida, não passaria de um plano de batalha em uma guerra, como tantas que sempre existiram na história do mundo.

O mundo deu voltas, todos os grupos políticos clandestinos e guerrilheiros sobreviventes da época, tão logo o Brasil foi redemocratizado abandonaram a idéia de luta armada, e engajaram-se em projetos políticos-partidários. Até Delfim Netto converteu-se à democracia, e hoje mantém relações civilizadas com membros do governo Lula, e tornou-se articulista da revista Carta Capital, de centro-esquerda.

DILMA, A HEROÍNA DE HOJE

A figura mitológica do herói é romântica, a ponto do herói ideal ser o mártir, o que morre.

A juventude que chegou às vias de fato na guerrilha dos anos 60/70, tinham ideais, eram corajosos, e até protagonizaram ações heróicas, ao lutarem em número reduzido contra uma força desproporcional, muito maior e melhor armada.

Mas ninguém buscava medalhas por heoísmo, buscava um mundo melhor, submetendo-se à sacrifícios pessoais, e deixando suas vidas pessoais para segundo plano. Cada qual com suas convicções, seus sonhos e sua realidade. Atos de bravura, muitas vezes, foram mais por falta de opção do que por escolha. A maioria, se pudessem escolher outro caminho que não o confronto armado, teriam evitado.
A maioria tinha talento intelectual e não físico, para enfrentar combates onde a habilidade e resistência física sobrepõe.

Por isso, muitos de nós não conhecíamos a Dilma do passado. Ela viveu um período na clandestinidade, depois perseguida e era escondida de nós. Ela fez aquilo que julgou que devia ser feito na época, deu o melhor de si. Perdeu aquela batalha em construir um mundo melhor por aquele caminho, pagou um preço alto em sacrifício de sua vida pessoal.

Mas hoje ela vence a batalha em construir um mundo melhor para os brasileiros, a partir de outras armas, como sua inteligência, sua capacidade de trabalho, suas planilhas que acompanham o PAC, com sua capacidade de enfrentar interesses poderosos para reduzir tarifas de eletricidade nos leilões de energia, de fazer a Petrobrás o que é, contrariando "instruções" do passado vindas de Washington, de fazer do BNDES maior do que bancos de fomento de países ricos, de trabalhar ao lado do presidente Lula para transformar o Brasil neste gigante que estamos vendo despertar.

Essa Dilma do presente e do passado é que é nossa heroína.

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