Embora nunca tenham revelado a composição acionária desde que se tornaram sócios para produzir veículos Mitsubishi no Brasil, em março de 2010, empresário Eduardo Souza Ramos e o grupo BTG Pactual mostraram ontem o tamanho da força da aliança ao anunciar o plano de investir RS$ 1 bilhão na operação. O volume de recursos é praticamente igual à soma do que a fábrica de Catalão (GO) já recebeu desde a inauguração, em 1998.
O programa arrojado busca não apenas ampliar a capacidade industrial e a variedade de veículos (incluindo o primeiro automóvel da marca feito no país) como prevê, ainda, a construção de uma fábrica de motores.
A Mitsubishi se torna, assim, a primeira marca japonesa a anunciar um plano de produção local de motores. A vantagem da investida é reduzir a necessidade de importar do Japão os componentes mais importantes num veículo. É por conta dessa dependência que Toyota e Honda já anunciaram que terão de paralisar suas fábricas no Brasil em consequência dos efeitos do terremoto seguido de tsunami, que afetou o abastecimento no Japão. A Mitsubishi só não parou ainda porque usou aviões para diminuir o tempo de viagem das peças que começam a faltar.
Ontem o presidente da Mitsubishi Motors do Brasil, Robert Rittscher, anunciou ao governador de Goiás, Marconi Perillo, o plano de investimento de R$ 1 bilhão. Além da ampliação da capacidade de produção de 50 mil para 100 mil veículos por ano em Catalão, os recursos servirão para a produção local de novos modelos, como o sedã Lancer, além da fábrica de motores (no mesmo terreno), que deverá ficar pronta entre 2013 e 2104, segundo Rittscher.
Com 3,3 mil funcionários hoje, a empresa deverá abrir pelo menos mais 1,7 mil vagas em cinco anos. Segundo Rittscher, os recursos serão gerados pela própria empresa. A parte que toca à matriz da Mitsubishi, no Japão, portanto, continuará sendo simplesmente a venda de tecnologia, sem qualquer envolvimento financeiro.
Com o investimento, o índice de nacionalização dos veículos Mitsubishi fabricados no Brasil subirá de 70% para 90%. Para isso, a instalação em Catalão ganhará também uma nova área de pintura "Hoje dependemos da importação do Japão para a fabricação da transmissão e dos motores, que representam o coração do veículo. Com os gargalos de hoje estamos engessados, sem a possibilidade de ampliar a linha de produtos", diz Rittscher.
Se bem-sucedido, o plano dos investidores da Mitsubishi no Brasil consagrará um modelo de negócios totalmente distinto do que o restante da indústria automobilística desenvolveu no país em mais de cinco décadas. A participação de uma instituição financeira, por meio do BTG Pactual, deu fôlego ao negócio que começou a ser desenvolvido há quase duas décadas por um ex-concessionário e importador de carros, Eduardo Souza Ramos.
Rittscher, um diretor que assumiu o cargo de presidente depois que um antigo sócio de Souza Ramos deixou a companhia, a MMC, tem passado por dias agitados. O anúncio do investimento ao governo goiano ocorre num momento em que a empresa tem de administrar os problemas que surgem em consequência da tragédia no Japão. Além disso, a equipe brasileira está no meio da preparação do lançamento de um novo veículo ainda este mês, a versão da Pajero Dakar.
Desde que a fábrica foi inaugurada, a linha de modelos produzidos no Brasil estava limitada às picapes e ao utilitário esportivo Pajero. No segundo semestre, Catalão passará a produzir um veículo esportivo, o ASX, até aqui importado do Japão. Em seguida, será a vez de um sedã, o Lancer, o primeiro automóvel Mitsubishi produzido no país.
Nos últimos dias, a Mitsubishi começou a enfrentar problemas com falta de peças importadas do Japão. Mas conseguiu até agora manter a linha de produção local em funcionamento porque recorreu ao transporte por avião para trazer peças que estavam faltando para completar alguns conjuntos dos veículos. A direção da empresa não sabe, porém, se poderá manter o trabalho na fábrica a partir de junho, quando o nível de estoque tende a baixar mais. Nos dois últimos dias, Toyota e Honda anunciaram paralisações em suas fábricas brasileiras em razão da falta de peças importadas do Japão.Valor Econômico
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