Monica Serra optou por não se pronunciar |
A denúncia de ex-alunas de Mônica Serra desnuda o esbulho, a pequenez e o sórdido vale-tudo das campanhas eleitorais no Brasil. Como mulher, me sinto envergonhada por ver um tema tão caro, seriamente discutido nos movimentos femininos, ser utilizado levianamente por uma mulher, que tudo indica viveu a dor e a tristeza, pelas quais passam as mulheres, quando solitariamente, ou com o apoio do companheiro (como parece ter sido o caso de Monica Serra), tomam a decisão extrema da prática do aborto. Nessa hora, essas mulheres necessitam de todo o apoio e acolhimento, inclusive do Estado, e não a ameaça de cadeia.
Assim como a questão ética, que nos agride como mulher, nos fere também a questão religiosa, pois provocar ódio religioso, incitando pela fé o julgamento e pregando cizânia, é um mau começo para o casal que postula ocupar o Palácio do Planalto, de onde se espera tolerância, diálogo e respeito à diversidade. Diversidade que compõe a essência deste Brasil, repleto de “Brasis”, de diferentes pensar, sentir e agir. Diversidade que tem sido a nossa grande riqueza, pois o povo, formado pelos “diferentes”, tem convivido com a pluralidade desde o Brasil Colônia, e não é possível resgatar o atraso das elites dos anos 50 e propor levá-lo para o exercício da Presidência da República, neste novo milênio.
Melhor faria este “casal de fé”, se resgatasse os ensinamentos do seu Cristo, quando pede para que “atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”; que não tomasse para si a responsabilidade do livre-arbítrio que nos é dado juntamente com a vida; e, num último esforço, que meditasse sobre a profecia do santinho de campanha que distribuem, com a assinatura do candidato José Serra: “Jesus é a verdade e a justiça”.
Entendo a ausência de resposta do candidato e da assessoria de Mônica Serra ao jornal Correio do Brasil, que buscava em nome do bom jornalismo ouvir os dois lados. Realmente, só ficando calada, ignorando o assunto e viajando para bem longe, para evitar ouvir o julgamento moral que a sociedade, sem obscurantismo, está obrigada a fazer.
Eliane Belfort é empresária, Diretora Titular do Comitê de Responsabilidade Social (Cores) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e coordenadora do Movimento Pró-formação Política das Mulheres.
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