quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Classe C, de consumo

A estabilidade da moeda brasileira, trouxe reflexos econômicos e também sociológicos à nação. Em movimento iniciado nos anos 2000, a transformação da classe C revolucionou a indústria, o mercado varejista e as relações de consumo. Com renda familiar média de R$ 1.062, esses novos consumidores já somam 86,2 milhões de pessoas. Impossível ignorar a classe que responde agora por 1/4 de todo o poder de consumo do país.

Fatores macroeconômicos — entre os quais, a redução das taxas de desemprego, o aumento do crédito, a baixa da inflação e o crescimento da economia — impulsionaram o mercado brasileiro e influenciaram diretamente os hábitos de compra da população. Desde 2000, a expansão do volume de crédito mais que duplicou, passando de R$ 20,6 bilhões para R$ 50,7 bilhões. Conhecida como a “década da redução da desigualdade de renda”, os anos 2000 representaram também uma revolução para todas as classes socioeconômicas.

Pesquisadores apontam que, para os 10% mais pobres, o ganho real ultrapassou 57,5% entre 2001 e 2006. Para os 10% mais ricos, o crescimento foi de apenas 6,8%. Todos alcançaram conquistas, mas definitivamente, para a classe C, o poder de compra apresentou reflexos mais expressivos. No ano de 2007, aproximadamente 46% da população era classificada como classe C, sendo que, em 2005, essa faixa representava apenas 35% do total. Podemos dizer que mais de 20 milhões de pessoas deixaram a condição de miserável.

Com padrões cada vez mais exigentes, passaram a participar da sociedade de consumo e já demandam por atendimento especializado em todos os setores. Há quem diga que, diante da vulnerabilidade provocada pelas crises financeiras, que emergem em bolhas internacionais, é a renda da classe C que vai assegurar o consumo interno. São consumidores com renda atrelada ao salário mínimo, ou seja, estão registrando ganhos reais desde 2003. Em 2007, a capacidade de consumo dessa faixa da população atingiu aproximadamente R$ 365 milhões.

Se há 15 anos as empresas depenavam produtos destinados às classes mais favorecidas para vender ao consumidor de baixa renda, atualmente é necessário atender aos novos padrões, bem mais exigentes. São compradores com prioridades peculiares. O gasto com lazer ainda é deixado em último plano, mas não totalmente ignorado. Essa população atende primeiro à família, ao trabalho e, claro, busca a casa própria.

Não apenas o Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, tem direcionado as atenções da construção civil à classe C. Somente no Distrito Federal, o sonho de comprar o próprio lar motiva investimentos das mais diversas empreiteiras, que movimentam canteiros de obras em praticamente todas as cidades em torno do Plano Piloto. Projeções da empresa de consultoria MB Associados atestam que até 2016 a classe C vai demandar por 10,4 milhões de imóveis em todo o país.

E o desejo de compra ultrapassa a casa própria. Hoje, esses consumidores também consomem 40% dos computadores vendidos no Brasil. A cada 10 linhas de celular, quatro estão em poder da classe C. São motoristas, balconistas e empregadas domésticas que já conseguem até pagar à vista um carro zero quilômetro. As grandes redes do varejo já perceberam a mudança comportamental e revelam: o acesso facilitado ao crédito impactou também numa classe mais informada e instruída. Não quer mais o produto com custo menor. Quer facilidades para comprar as marcas de qualidade.

Diante desse cenário, é fundamental que as empresas conheçam a fundo o perfil da classe C. Ela pode ser consumista ou organizada. A sensibilidade e criatividade do mercado durante o atendimento serão fatores determinantes para o sucesso das vendas. Até mesmo o perfil das promoções oferecidas por empresas começa a ser alterado em virtude da sofisticação dessa classe consumidora.

Vale analisar ainda que esse fenômeno de consumo provoca um ciclo virtuoso para toda a economia. O aumento do poder da classe C atinge outras classes sociais brasileiras, resultando em pobres também mais consumistas. Uma família da classe E, por exemplo, ainda não compra um computador, mas compra comida em um mercado que tem como dona uma família da classe C.

Cabe agora ao varejo ter sabedoria para investir, conhecimento para qualificar e crédito para oferecer. Boas vendas à classe C. Correio

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