domingo, 11 de abril de 2010

PSDB dá o pontapé inicial à campanha do estelionato

Por Luis Favre:

Lembram do senador tucano ameaçando dar uma surra no presidente Lula? Lembram os que cogitavam ilegalizar o PT em 2005? Lembram o famoso “vamos acabar com essa raça”, utilizado por Bronhausem contra o PT? Pois bem, sob os aplausos entusiastas do mesmo Bornhausem, Arthur Virgílio e demos vários, Serra proclama: “Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo.”.

O mesmo que recusa qualquer negociação com os servidores. O mesmo que sistematicamente procura destruir a reputação de seus adversários, de Roseana a Marta Suplicy, passando por alguns de seus “companheiros” como Alckmin, Tasso Jereissatti e o próprio Aécio (aquele que teria batido na mulher… só para lembrar). O caro do trololó, falando em “família e união” (sic).

Após essa proclamação, Serra procede a atacar o governo Lula na questão da educação e afirma: “Estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel.”

É isso. São Paulo pode mais, mesmo! O “propósito bem declarado pelo governo” estadual e municipal dos demo-tucanos, “praticamente não saiu do papel”.

Serra podia ter citado o que escreveu o jornal O Estado de S. Paulo em 5/2/2010:


“Mais de 75% dos alunos de todas as séries da rede municipal da capital (SP) tiveram desempenho abaixo do satisfatório em matemática, segundo dados da Prova São Paulo 2009, avaliação anual da prefeitura. Em língua portuguesa, os resultados foram melhores, mas em nenhuma série o número de estudantes com conhecimento satisfatório da disciplina chegou a 50%.

Na comparação com os resultados de 2008, a média dos alunos apresentou ligeira melhora em português, mas o desempenho em matemática chegou a piorar nas 4ª, 6ª, 7ª e 8ª séries.

Os estudantes dos anos mais avançados tiveram as piores notas. Na 8ª série, por exemplo, apenas 8,7% alcançaram níveis satisfatórios em matemática e 17% em português.” (
OESP, 5/2/2010).

Ou ele poderia contestar o que seu jornal favorito constatou: “Maioria dos alunos que concluem ensino médio em SP têm avaliação ruim em matemática.” (Folha de S.Paulo, 26/2/2010).

Vamos repetir, esses resultados são do governo estadual de São Paulo, após 16 anos de governos tucanos, durante os quais governaram também o Brasil durante oito anos!

O mesmo procedimento e o mesmo método, quando Serra aborda a questão da criminalidade, as drogas e a violência. Passando em silêncio a cruzada de FHC em favor da liberalização da maconha, o candidato tucano afirma:


“Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve assumir mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal nessa área. Tenho visto gente criticar o Estado mínimo, o Estado omisso. Concordo. Por isso mesmo, se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se omitir, é a segurança pública.”

Os homicídios aumentam no estado de São Paulo, o latrocínio também e o roubo, o furto e outras modalidades da criminalidade. O estado de São Paulo é mínimo no seus resultados, sendo a segurança de sua inteira responsabilidade e tendo criticado em permanência o trabalho do governo federal para uma política nacional de segurança. Serra poderia ter informado ao menos seus próprios resultados a plateia selecionada para aclamá-lo:


Estatísticas do governo José Serra:

Roubo
2006- 213.476
2007- 217.201
2008- 217.967
2009- 257.004


Latrocínio (roubo-morte)
2006- 26
2007- 218
2008- 267
2009- 304
Além da proposta de mudar o nome da PM e de ter trocado várias vezes de secretário estadual de Segurança, qual foi a contribuição de Serra, fora fazer que volte a subir uma taxa de homicídios que vinha declinando antes dele?

Teve também, no discurso de Serra, proclamações sobre meio ambiente, sobre verde e poluição (todos itens no qual o estado de São Paulo apresenta péssimos resultados).

Teve espaço no discurso, para posar de economista e criticar os juros ou a queda das exportações. Mas foi pouco, porque contrariamente ao que Serra vaticinou em 2008, a crise não provocou tsunami nenhum e o Brasil mostrou que tinha um comando com visão, o presidente Lula. O emprego tampouco ocupou muito espaço, porque daria muito trabalho ao tucano tentar atacar o PT nesse quesito, ou simplesmente porque não tem grande coisa a dizer. Ele mencionou os problemas de infraestrutura, mas en passant como diria Lula, porque de sua biografia tão falada, a sua passagem como ministro de Planejamento de FHC nunca aparece.

Logicamente falou de saúde e quase que insinua que criou o SUS e, de maneira alambicada para os ouvintes não perceberem o engodo, passa a ideia de ter criado os genéricos e se atribui a criação do seguro-desemprego, o que tampouco é verdadeiro.

Conclusão. Mesmo os articulistas afins — é são muitos — dificilmente poderão enxergar no discurso uma “visão estratégica” sobre o país e do caminho que devemos continuar a trilhar para consolidar o enorme trabalho realizado.

O discurso seguiu o roteiro “cantado” de apregoar o continuísmo, sem continuidade. Continuar o que dá certo e corrigir o que está errado e outras banalidades ditadas pelos marketeiros para fugir da falta de discurso da oposição. Falar do nada!

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