Serra usa dado não oficial em propaganda

Saresp ainda nem saiu, mas Serra já alardeia

Virtual candidato do PSDB à Presidência da República na eleição deste ano, o governador José Serra já faz propaganda na TV de suposta “melhora” do desempenho dos alunos da rede estadual no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), apesar de os dados e notas da prova não terem sido divulgados oficialmente ou informados aos profissionais de educação e estudantes das cerca de 5 mil escolas estaduais paulistas.

Em peça institucional veiculada pelo menos desde o último domingo, em inserções no horário nobre da TV - no intervalo do “Fantástico”, da Rede Globo, por exemplo - a gestão Serra termina a propaganda anunciando, em uma pequena lousa que aparece na tela , que “melhorou a nota dos alunos em 2009”. Antes, a propaganda discorre sobre os programas educacionais implantados desde 2007. Ao final, o narrador cita o “exame” aplicado aos alunos e, ao mesmo tempo em que a frase sobre a nota vai à tela, afirma que “com tudo isso, já tem bom resultado (aparecendo)”.

Apesar da menção na propaganda, não houve detalhamento do “bom resultado” nem de como “melhorou a nota”, o que a Secretaria Estadual da Educação está prometendo para “os próximos dias”. A ampla divulgação é essencial para a leitura adequada dos dados estatísticos, já que os alunos estão em anos diferentes e são avaliados em mais de uma disciplina - em 2009, língua portuguesa, matemática, história e geografia. O exame do ano passado avaliou 2,4 milhões de alunos dos 2º, 4º, 6º e 8º anos do ensino fundamental e do 3º ano do médio.

Repercussão

Educadores enxergam na prioridade dada à propaganda um desvio do princípio da avaliação educacional, que é usar os dados como diagnóstico da escola para dar base ao trabalho pedagógico para a melhoria da qualidade do ensino. “Vi a propaganda no fim de semana e reagi com estranheza e com certo desconforto. Esse tipo de divulgação dá munição para críticas com as quais não concordo: de que exames são usados para maquiar a realidade”, afirma o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em avaliação educacional. “Dizer na TV que melhorou não ajuda no processo de divulgação que a gente chama de uso dos resultados.”

Segundo Ocimar Alavarse, muitos professores e gestores de escolas ainda não entendem por que existem exames como o Saresp, criado nos anos 90. Neste ano, a Secretaria Estadual de Educação pediu a todas as escolas que reservem um dia do primeiro semestre à discussão dos dados. O resultado do exame determina bônus a servidores da educação, em caso de melhora no desempenho da escola. “Os principais usuários do exame estão nas escolas. Se essas pessoas não se apropriarem dos resultados, não adianta pôr nem no New York Times”, diz.

Histórico

Em 2009, o governo do Estado elevou em 75% o gasto com propaganda. Foram gastos R$ 313 milhões, contra R$ 178 milhões do ano anterior. Neste ano, estão orçados R$ 204 milhões, sem incluir campanhas de estatais paulistas.

“Isso tudo faz parte de um grande marketing do governo do Estado”, diz a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha.

EXAME POLÊMICO

Criado em 1996, o Saresp foi o primeiro exame de avaliação da rede pública de São Paulo. Foi concebido para ser um referencial para o trabalho das escolas

No início do ano 2000, a prova passou por mudanças que invalidaram comparações históricas. Em 2004, a secretaria foi acusada de maquiar dados do Saresp

Os últimos índices disponíveis, de 2008, mostraram que, na média da rede, houve ligeira melhora em matemática, e queda de desempenho em língua portuguesa. Jornal da Tarde