sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Após reformas feitas por Kassab, locais continuam alagando; outros, que não inundavam, passaram a transbordar

Córregos reformados pela Prefeitura de São Paulo na gestão Gilberto Kassab (DEM) com o objetivo de reduzir as inundações não ajudaram a resolver o problema das enchentes. A Folha visitou 13 obras recentes do projeto Córrego Limpo, feito em parceria com a Sabesp, e constatou que, em alguns locais, a situação até piorou: casas que antes não alagavam agora passaram a inundar.

Para a urbanista que estuda políticas públicas para rios, Luciana Travassos, projetos têm pouco verde e muito concreto. Canalização da água também favorece as enchentes, diz.

O córrego Rio das Pedras, na Capela do Socorro (zona sul), ficou mais estreito no ano passado para dar lugar a um parque com pouco verde e muito concreto. O parque deveria funcionar como área de lazer e "barrar" a água do córrego que eventualmente transbordasse.

Mas agora, quando chove mais forte, ele não suporta toda a água, que invade as casas. "Nunca vi isso aqui. Desde que eles diminuíram o córrego, alaga sempre", diz Geraldo Egídio, 54, que tem um bar na rua Virgínia Maria da Conceição -um dos 68 novos pontos de alagamentos divulgados pela Folha no início deste mês.

Só em janeiro, quando houve recorde de chuvas fortes, os imóveis da rua inundaram seis vezes -a última no sábado.

Na zona leste, campeã de chuvas no ano passado, as obras do córrego Cruzeiro do Sul-Mirim (em São Miguel Paulista) também estão prejudicando a população. Uma parte dele foi canalizada, mas a tubulação não dá conta durante as chuvas mais intensas e a água vaza, com muita força, por tampas que ficam nas calçadas.

A área no entorno do córrego ganhou calçadas novas, quadras e uma pista de skate. O cheiro de esgoto também diminuiu por causa das ligações feitas pela Sabesp. Mas na chuva da última terça, a casa da fotógrafa Nadir Lima, 46, foi invadida pelas águas, que atingiram um metro de altura. Anteontem, ela decidiu aterrar a entrada da casa para deixá-la mais alta e dificultar a inundação. "Nunca houve isso aqui. Por fora está tudo lindo, mas por dentro está tudo errado", diz. "Melhor era deixar tudo aberto, que a água ia embora."

A canalização de parte do córrego do Sapé, no Butantã (zona oeste), também trouxe dores de cabeça para os moradores. O cano que passa debaixo de uma praça não aguenta a água, que agora extravasa pelas bocas de lobo. Anteontem, em uma nova enchente, o auxiliar de manutenção Fernando Pacheco, 39, fazia as contas do prejuízo causado pela chuva da última terça. "Perdemos estante, guarda-roupas, meu carro não funciona mais", listava.

Muito concreto
"A ideia de fazer parques nas margens dos córregos é muito boa. Eles têm a função de reter a água. Mas quando o parque mal tem vegetação não resolve. É como construir uma avenida", diz Luciana Travassos, ex-pesquisadora do Lume (Laboratório de Urbanismo da Metrópole), da USP, especialista em parques lineares.

A canalização, diz ela, é outro problema. "O córrego vira um tubo grande embaixo da rua. Chove muito, ele enche, a água faz pressão e volta pelo bueiro."
Os bueiros também se tornaram um problema depois da reforma do córrego Ponte Rasa, em Ermelino Matarazzo (zona leste). Lá não foi feito parque, mas duas bocas de lobo que levavam a água da rua para o córrego foram tapadas. A água da calçada não consegue mais escoar e invade ruas e imóveis.

A prefeitura também tapou a saída de outro bueiro, que passava embaixo de uma casa. Resultado: o solo ruiu e levou a parte dos fundos da residência.
Dos 13 córregos visitados pela Folha, dez tinham problemas, incluindo esgoto irregular, falta de manutenção e muros de contenção baixos -tudo isso contribui para enchentes.Folha

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