Marcello Hallake, advogado e sócio do escritório Thompson & Knight, de Nova York, é um privilegiado analista da economia brasileira.
Atuante em vários países, Hallake afirma que o Brasil saiu-se muito melhor que os Estados Unidos e a Europa no enfrentamento da crise financeira mundial. Palestrante confirmado da conferência do JB Brazil and the Future (O Brasil e o Futuro), na Universidade Columbia, no próximo dia 29 de outubro, Hallake comemora o grande momento que vive o Brasil e afirma que todos estão interessados em temas relacionados ao país.
Quais assuntos o senhor deseja debater na Conferência em Columbia no próximo dia 29 de outubro? – Eu vou discutir como o Brasil pode se tornar mais atraente para os investidores do ponto de vista das regulamentações, abordando provavelmente os assuntos do marco do Pré-Sal, a regulamentação ambiental, o sistema judiciário. Apresentarei também os progressos em matéria de reconhecimento da arbitragem internacional, de regulamentação da energia elétrica, de financiamentos para o mercado imobiliário, assim como os avanços da nova lei das falências. O Brasil é hoje visto com grande interesse e otimismo pelo mundo. É realmente um momento de grandes oportunidades para o Brasil.
Como o senhor enxerga esse momento por que passa o Brasil? – Moro em Nova York, mas trabalho muito com o Brasil, e estou com muita frequência no país, onde temos escritórios ativos no Rio e em São Paulo. Realmente, posso ver como o Brasil está resistindo melhor que os Estado Unidos e a Europa à crise atual. As descobertas do Pré-Sal e as obras de infraestrutura necessárias às preparações para as Olimpíadas do Rio e a Copa do Mundo certamente devem continuar a dar um impulso ao desenvolvimento econômico do Brasil nos próximos anos. O grande desafio será utilizar adequadamente essas oportunidades e circunstâncias favoráveis para não só crescer economicamente mas também diminuir a proporção dos excluídos, que continua inaceitavelmente alta, e proporcionar mais oportunidades para todos.
Obtido o “grau de investimento”, como fazer e qual a importância para se obter agora o “grau de negócios”? – Este é um excelente ponto, provavelmente mais relevante que o “grau de investimento”. Em outras palavras, o que o Brasil deve fazer para tornar-se um país realmente atraente para fazer negócios e para receber mais investimentos? A primeira coisa é ter regras claras, que não mudem toda hora, e regulações que os investidores entendam. Enquanto não houver definição do marco regulatório do Pré-Sal, por exemplo, os investimentos ficam parados. Há que se ter também um sistema judiciário com decisões rápidas, e que seja independente.
Tem de haver menos burocracia, mais simplicidade no sistema tributário, e mais facilidades para financiamentos, com juros mais baixos, particularmente para as pequenas e médias empresas. O investidor estrangeiro sempre quer saber como vai poder sair depois de entrar. Em outras palavras, a necessidade de ter um mercadolíquido e boas regras de governança corporativa.
E talvez o mais importante para o desenvolvimento do Brasil é o fortalecimento da classe média, para ter um maior mercado de consumidores, e uma força de trabalho mais educada, com melhor distribuição e maior acesso à educação de qualidade.
Mas a carga burocrática não compromete um projeto desses? – O problema da carga burocrática é um problema antigo e sério. Parece que as práticas burocráticas portuguesas eram particularmente pesadas e singulares. Pode se levar muito tempo para se abrir uma empresa no Brasil (na minha experiência, por volta de um mês), em comparação com um ou dois dias em muitos países. Fechar uma empresa é ainda bem mais complicado.
A burocracia exagerada acaba desestimulando não só a criatividade, sendo perniciosa de um ponto de vista sistêmico, mas também prejudica o desenvolvimento do país.Jornal do Brasil
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