domingo, 27 de setembro de 2009

Laudo aponta danos ambientais no Rodoanel do Serra


Deficiências no projeto de drenagem que provocam alagamentos ao redor da obra e afogamento de árvores. Falta de dispositivos de retenção da terra, deixando a água escura e levando ao assoreamento em parte da represa Billings -uma das principais fontes de abastecimento em São Paulo.

Problemas desse tipo por conta da construção do trecho sul do Rodoanel, vitrine da gestão José Serra (PSDB), já foram constatados em vistorias sob comando da Cetesb (companhia ambiental de São Paulo).

As falhas citadas constam do último relatório do grupo que monitora a obra, baseado em blitz feita no dia 3 de agosto passado no lote 1, de Mauá a São Bernardo do Campo (ABC paulista), a cargo do consórcio Andrade Gutierrez/Galvão.

Elas corroboram outros relatos obtidos pela Folha nos últimos dias a partir de entrevistas com moradores no entorno do Rodoanel e especialistas.

Um supervisor ambiental do empreendimento, que não quis se identificar, avalia que os impactos superam as previsões e relata diversos prejuízos causados pelas obras, alguns difíceis de serem comprovados no atual estágio das obras, como uma região com 15 córregos, fora da área de concessão do Rodoanel, que desapareceram por conta do assoreamento.

A relevância das falhas ambientais detectadas por vistorias oficiais é controversa.
A geóloga Ana Cristina Pasini da Costa, diretora de tecnologia, qualidade e avaliação ambiental da Cetesb, admite: "são problemas que não poderiam ocorrer". Mas ressalva: "não considero grave", por avaliar que não são generalizados.

A Dersa (empresa estadual de transporte) culpa a alta intensidade das chuvas -e afirma se tratar de deficiências "de pequena abrangência".
Carlos Bocuhy, presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), avalia que a situação preocupa.

Diz que os danos ambientais citados "são sobejamente previsíveis" e que eles evidenciam "falta de zelo".

A sujeira pode reduzir a vida útil do reservatório e encarecer os custos de tratamento da água distribuída à população.

"A somatória de vários danos caracterizados e registrados pontualmente pode ter efeitos importantes na bacia. Assoreamentos, soterramentos e alagamentos locais, com evidente prejuízo para a flora, fauna e ecossistemas locais, em conjunto, podem significar um problema muito maior para a manutenção desses bens ambientais", avalia Bocuhy.

Uma das deficiências citada à Folha pelo mesmo supervisor ambiental é a formação, ao longo do trecho sul do Rodoanel, de montes de terra expostos à chuva -cujo material deveria ser imediatamente encaminhado aos depósitos de material excedente, pontos escolhidos para recebê-lo.

Um desses montes -apelidados de "bota-espera"- foi flagrado pela própria vistoria oficial no lote 1 no mês passado.
"Não pode ficar assim. Essa terra pode ser arrastada para as águas", reconhece a geóloga da Cetesb. "Vamos voltar lá na terça-feira. Esperamos que já tenha sido retirado."

O ambientalista Bocuhy, que também é membro do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), questiona a ausência de um sistema de fiscalização das obras sem vínculo governamental.

"Não há uma auditoria independente. Existem pressões políticas e conflito de interesses. Quem contrata a obra é ligado a quem licencia e a quem fiscaliza", diz.
O trecho sul do Rodoanel, com custo de R$ 4,5 bilhões, vai ligar a Régis Bittencourt ao sistema Anchieta-Imigrantes. Em obras desde 2007, será concluído no começo do ano que vem.Folha

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