O noticiário sobre o diagnóstico, o tratamento e os prognósticos a respeito da saúde da ministra extravasou os limites do jornalismo político nos meios de comunicação de massa Foram divulgadas, de semana passada para cá, três pesquisas de intenção de voto nas eleições presidenciais do ano que vem. Com as diferenças que se espera entre levantamentos feitos agora, elas pintam um mesmo quadro.
O resultado mais relevante é o crescimento de Dilma. Nas três, ela mostra ter crescido de maneira expressiva e consistente nos dois últimos meses, entre o final de março e o de maio. Como os cenários testados não são sempre iguais, é difícil compará-los com exatidão, mas ela cresce em todos.
Segundo o Datafolha, ela teria subido de 5% a 7% no período, dependendo de quem é seu adversário no PSDB. Comparando pesquisas da Vox Populi de abril e maio, entre 4% e 7%, também variando de acordo com os outros nomes. Na Sensus, publicada na segunda-feira, algo parecido, quando são cotejadas pesquisas feitas em março e maio, mostrando um crescimento de até 8%.
São números muito significativos, quer sejam vistos em termos absolutos ou relativos. Não só subir tanto é incomum, à distancia em que estamos da eleição, como crescer nessa velocidade chega a ser surpreendente. Para ilustrar: se ela continuasse nesse ritmo nos próximos meses, logo chegaria ao primeiro lugar nas pesquisas.
Uma pista para compreender esse fenômeno é dada por um resultado da Vox Populi, idêntico nas suas últimas pesquisas: são 23% as pessoas que afirmam que “votariam com certeza no(a) candidato(a) indicado(a) por Lula”, independente de quem seja.
Se acreditarmos no que os entrevistados dizem (coisa sempre recomendável), o que estamos vendo fica menos espantoso. O que precisa ser explicado não é que Dilma tenha chegado ao patamar de intenções de voto em que está. Seus 19 ou 25% na Vox, 16 ou 19% no Datafolha e mesmo os 28% que alcança no cenário mais favorável da Sensus, estão sempre no nível previsto.
Na verdade, aquém dele. Com apenas metade dos eleitores sabendo que ela é a candidata de Lula, falta atingir uma fatia relevante dos que dizem que certamente votarão no nome que ele apontar. Seus 20%, não vêm, portanto, somente dessas pessoas.
Se o tamanho atual de suas intenções de voto pode ser assim entendido, resta a pergunta sobre o que poderia ter provocado um crescimento tão rápido, em taxa de 3 a 4 pontos percentuais ao mês, no período considerado. Sobre isso, só podemos especular.
Uma explicação tem a ver com a doença. Nem tanto com uma hipótese que andou em voga quando a notícia foi dada, a de que ela “humanizaria” a ministra, mudando sua imagem de “dama de ferro palaciana”. Mas com algo mais prosaico.
O noticiário sobre o diagnóstico, o tratamento e os prognósticos a respeito da saúde de Dilma extravasou os limites do jornalismo político nos meios de comunicação de massa. O assunto virou tema de outras mídias, que normalmente pouco se ocupam de personagens do mundo político, como os candidatos a presidente. Programas matutinos de entretenimento na TV e no rádio, revistas de variedades, sites e blogs apolíticos, em qualquer lugar estavam essas informações.
Foi através dessa cobertura que parte da população sem interesse por temas políticos se informou sobre Dilma. Seu efeito foi ainda maior por ter ocorrido enquanto era veiculada a propaganda partidária do PT. Pela primeira vez, ela foi a estrela do programa e, muito mais importante, dos comerciais do PT exibidos em rede nacional. Uma reforçou a outra e a consequencia pode ser vista nas pesquisas de agora: o salto de Dilma.
Passamos por um bimestre de desproporcional presença de Dilma nas mídias não-políticas. Todos seus adversários sofreram com isso e perderam na comparação com ela. Serra, Aécio, Ciro e Heloísa Helena, uns mais, outros menos, retrocederam, enquanto só ela cresceu.
Isso vai ocorrer nos próximos meses? O que vai acontecer quando Dilma alcançar todos os eleitores que votariam nela de qualquer maneira, por ser ela a candidata de Lula? Continuará a crescer? Correio Braziliense
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