Depois de duas semanas de intenso bombardeio da imprensa e do Senado, que suspendeu suas operações de crédito consignado na Casa, o presidente do Banco Cruzeiro do Sul, Luis Octavio Indio da Costa, decidiu vir a público para afirmar que sua empresa não atuou de forma irregular. O banqueiro, primo do deputado federal Antônio Indio da Costa (DEM-RJ), nega que tenha pago propina para ter facilidades junto a Senado Federal e que desconhecia que a empresa de intermediação comercial Contact pertencia à ex-babá do ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi. "Atuamos com várias empresas como a Contact, não tínhamos como apurar que uma das sócias tinha ligação com o Zoghbi", afirma.
Fundado em 1993, o Banco Cruzeiro do Sul era o líder, até a semana passada, dos contratos de crédito consignado aos funcionários do Senado. Desde 2006, o banco emprestou, de acordo com Indio da Costa, mais de R$ 680 milhões, algo como mais de três vezes o valor que o Banco do Brasil, o segundo colocado, concedeu em empréstimos consignados aos empregados da Casa. De acordo com o levantamento feito pela Mesa do Senado, e divulgado pelo colunista da "Folha Online", Josias de Souza, o BB concedeu R$ 191 milhões em empréstimos nessa modalidade. No mesmo estudo, o Banco Cruzeiro do Sul teria emprestado 50% do valor informado pelo presidente da instituição financeira.
O levantamento da Mesa Diretora ainda mostra que a Finasa, pertencente ao Bradesco, o Santander e o Bancred compõem a lista dos cinco maiores concedentes de crédito consignado aos servidores do Senado. Com exceção do Banco do Brasil, todos eles firmaram contratos semelhantes aos do Cruzeiro do Sul com a Contact ou outras empresas pertencentes à ex-babá de Zoghbi. No entanto, até o momento, apenas o Cruzeiro do Sul teve suas operações suspensas.
De acordo com a assessoria de imprensa do presidente da Casa, o senador José Sarney (PMDB-PA), o banco de Indio da Costa teve as operações congeladas até que a investigação sobre o caso seja concluída. As outras instituições financeiras que também têm contrato com empresas ligadas a Zoghbi não foram suspensas porque "ainda não houve nenhuma acusação contra elas." Segundo a assessoria, o Cruzeiro do Sul, citado pela revista "Época" em uma reportagem que desencadeou o escândalo, foi o único a ser denunciado no caso.
Luis Octavio Indio da Costa afirma não compreender porque seu banco está sendo punido. De acordo com ele, não houve nenhum tipo de pagamento extra à Contact por intermediar contratos de financiamento consignado aos funcionários do Senado.
"A comissão que pagamos à Contact é a mesma que pagamos para outras promotoras de venda de crédito consignado e remunera apenas o trabalho de intermediação entre o cliente e o banco", alega Indio da Costa. "Cada comissão paga tem de estar ligada com um contrato de consignado", completou.
Segundo o executivo, esse tipo de pagamento é usual no mercado de empréstimo consignado. Nessa modalidade de crédito, em que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento, as instituições financeiras se valem de correspondentes bancários, conhecidos como promotores de vendas ou "pastinhas", que fazem a ponte entre o servidor e os bancos. A prática é usada para fazer a captação de clientes, já que a maior parte dos bancos pequenos e médios não possui uma ampla rede de agências, como seus concorrentes de maior porte. Esses correspondentes, em geral, são empresas constituídas por ex-bancários, que contratam promotores de venda para fazer o trabalho, com a remuneração feita por comissão proporcional à produção.
Essas comissões para os "pastinhas" variam de acordo com o convênio e já chegaram a atingir 18% em mercados menos competitivos. No Senado, devido ao interesse dos bancos para emprestar aos funcionários da Casa, as margens são menores e, como consequência, as comissões também seriam mais baixas.
Segundo Indio da Costa, essa comissão é da ordem de 3% no Senado. "Dizem que paguei R$ 2,6 milhões. Esse valor deve corresponder aos 3% do montante feito pela Contact no período", afirmou. O total intermediado pela Contact para o Cruzeiro do Sul entre dezembro de 2006 e abril de 2009 nos contratos com servidores do Senado foi de R$ 91,8 milhões, segundo o próprio banco.
A Contact passou a ser uma das correspondentes do Cruzeiro do Sul em 2006, de acordo com Indio da Costa. "Conhecemos a Contact, por meio da Bianca Machado Dias, que é a única administradora da empresa e que é ex-bancária, do banco hoje Santander, na época Real." Segundo ele, Bianca cadastrou a empresa no Cruzeiro do Sul como em diversos outros bancos. "Não tínhamos como apurar que uma das sócias [a empregada doméstica Maria Izabel Gomes] tinha alguma ligação com o [ex-diretor de Recursos Humanos do Senado, João Carlos] Zoghbi, tendo em vista que não é uma ligação familiar."
Indio da Costa alega ainda que a Contact não é a promotora de vendas mais representativa do banco. O total feito por meio da Contact corresponde a 13,4% do total emprestado para os servidores do Senado pelo banco, entre dezembro de 2006 e abril deste ano, por meio de outras empresas promotoras de vendas. Em todo o Distrito Federal, a produção de consignado do Cruzeiro do Sul, nesses mesmos três anos foi da ordem de R$ 1,8 bilhão, por meio de 45 promotoras de vendas, incluindo a Contact.
Os contratos com órgãos públicos não são exclusivos, já que qualquer banco, em tese, pode oferecer crédito aos funcionários públicos. Esse contrato é feito para que o banco possa receber a quitação diretamente da folha de pagamento do servidor. No caso do Senado Federal, 38 instituições financeiras atuam na Casa concedendo crédito consignado a seus funcionários.
A Mesa Diretora do Senado, até o momento, ainda não deu indicações sobre se pretende mudar o sistema vigente na Casa hoje. As investigações em torno de João Carlos Zoghbi estão sendo realizadas pela Polícia Legislativa da Casa.
Segundo Indio da Costa, o banco não foi chamado por nenhuma autoridade para esclarecer as supostas denúncias, mas representantes do bancos compareceram na quarta-feira ao Senado para levar documentos para mostrar que não há irregularidades na operação. O Banco Central também não teria pedido nenhum esclarecimento ao Cruzeiro do Sul com relação ao caso. Valor Econômico
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