terça-feira, 10 de março de 2009

População defende aumento de presença feminina no Parlamento


O Brasil ocupa uma posição desonrosa no ranking mundial da presença de mulheres no Parlamento. Está na 141ª colocação em um total de 188 países. Entre os países da América Latina, o Brasil só fica à frente da Colômbia. E, quando se trata de países da América Latina que já adotaram sistema de cotas para as mulheres na política, o país apresenta o pior resultado: são apenas 8,9% de mulheres no Congresso Nacional, segundo a União Interparlamentar. A participação é pequena, apesar de 75% da população brasileira ser favorável à política de cotas para as mulheres candidatas como mostrou pesquisa Ibope divulgada ontem e realizada em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM).

A legislação atual prevê 30% de candidaturas femininas, mas essa cota raramente é preenchida pelos partidos. Segundo o estudo, 86% da população acredita que as legendas devem ser punidas por não cumprirem a norma. Oito em cada dez brasileiros concordam com listas de candidaturas e com representação proporcional entre homens e mulheres em todos os níveis do legislativo. Uma efetiva política de cotas para as mulheres já mudou o cenário político de alguns países vizinhos, como Argentina - onde as cotas possibilitaram que a participação feminina na política pulasse de 6% na década de 90 para 38,3%, hoje.

"O que os partidos estão fazendo para que as cotas sejam cumpridas?", questiona a professora de História Contemporânea da Univesidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida de Aquino. "Pode estar havendo corpo mole. É preciso mais cobrança por parte do Estado, que deve sentar com partidos e tentar buscar uma maneira melhor de reverter esses dados."

Para a ministra da SPM, Nilcéa Freire, a constatação mais positiva da pesquisa diz respeito aos 75% dos brasileiros que acreditam que só há democracia, de fato, se as mulheres tiverem espaço de poder. "Essa é uma constatação geral, que está acima de classe social", comemora a ministra.

E a crença da população de que a participação feminina contribui positivamente na política é considerável: 74% acreditam que elas trariam mais honestidade na política, teriam mais compromisso com os eleitores e mais capacidade administrativa. Esses dados não surpreendem a professora da USP por já ser dar cultura feminina a realização habitual de múltiplas tarefas que faz "elas ocupam esses espaços com mais plenitude".

Apesar de oito em cada dez brasileiros serem a favor das cotas femininas nas política, 76% desconhecem a norma existente. Apenas 20% das entrevistadas conhecem, contra os 28% dos entrevistados do sexo masculino. "E, como era de se esperar, as mulheres (83%) são mais favoráveis que os homens (76%), os jovens (83%), mais do que as pessoas mais velhas (77%) e a classe média (81%), mais que os mais pobres (76%)", diz o estudo.

De maneira geral, os brasileiros estão mais suscetíveis a votar em mulheres, mas apenas 59% dos entrevistados votariam nelas sem restrições de cargo. Dentre os que selecionam cargos, o de prefeita é o mais indicado (26%), seguido de vereadora (16%), presidente (14%) e governadora (14%).

O recorte racial na hora da escolha também chama atenção. Mais de 70% da população votaria em um candidato negro, seja ele homem ou mulher, sem restrição de cargos.

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