sábado, 19 de novembro de 2011

Como é bom ver Dilma chorar!

Na sequência do acontecimento histórico na cidade do Rio de Janeiro, onde finalmente o Estado chegou à comunidade da Rocinha, ouro humano situado ao lado da alta burguesia carioca, eu vi a presidente Dilma chorando na televisão por conta do emocionante encontro que teve com crianças especiais. Ocasião em que se diz com todas as letras: como é bom ser presidente numa hora dessas, porque tem o poder de entender o olhar responsável do governo sobre crianças e adultos especiais e deficientes. Digo isso não porque queira ver a presidente sofrer. Nada disso. Que fique bem entendido. O que me encanta é ver um coração feminino, materno, pulsando ali; a reger sua inteligência, a pesar na balança das decisões oficiais, cuja burocracia acaba por tornar indigno o caminho onde o Estado deveria exercer com humanidade e competência o seu dever para com os seus filhos. Quando a vi também em rede nacional admitindo falhas na saúde pública brasileira e determinada a revolucionar o setor, chamando inclusive à responsabilidade os hospitais privados, senti a mesma linha de inteligência emocional em ação. Acho que, com todo pulso que a nossa presidente tem, no recheio de sua competência estão também as vocações altruístas do gênero feminino.
Presidente emocionada fala sobre as filhas de Romário e Lindbergh Farias



É de tarde. Olho o Rio de Janeiro, vejo as notícias da "nova Rocinha" na tevê. A civilidade chegando ali agora. As 100 mil toneladas de lixo só agora sendo removidas. Os novelos de fios de "gato" tendo a sua avant-première com a Light e, o mais raro de tudo, a polícia fazendo o seu serviço sem ferir aquelas inocentes vidas. Meu Deus, como podem todos esses políticos terem dormido até agora? Quero saber o nome do seu poderoso calmante. A sociedade vem pagando o preço dessa omissão, perdendo os seus jovens para o crime, perdendo seus quase cidadãos que morreram sem conhecer teatro, cinema, livro, educação. Um país que perde o seu povo perde o irreparável. Queria que todos os governos de todos os estados levassem a saúde cidadã aos nossos morros, às nossas periferias, onde quem ainda manda é o crime. Vitória, Salvador, Brasília, Recife etc. Isso só falando em capitais.

Quando vejo a ação das UPPS aqui na minha cidade me dá vontade de acionar o Estado pelos danos retroativos, pelos anos de abandono para com os cidadãos que, obrigados a receber as migalhas dos serviços públicos, não dispõem de uma via de mão dupla em que possam livremente transitar na exigência de seus direitos. Não é possível que a mesma política que exclui de seu futuro os pobres, os pretos, os sem-saneamento, os sem-terra, os sem-escola, seja tolerante com ladrões de fino trato. Não pode ser que, por causa de uma inadimplência no valor de R$ 10 um cidadão tenha seu crédito suspenso; que, pelo furto de uma galinha, um indivíduo seja preso junto a outros sórdidos assassinos, enquanto dentro da mesma República ratos fazem a festa na cama da impunidade e na aparente imunidade de seus mandatos. Uma injustiça dessa não se sustenta eternamente, e é impossível olhar para ela tendo um bom coração, sem chorar.

Deitada na tarde de meu quarto fiquei acompanhando as notícias da Rocinha. Vendo com carinho e irmandade a beleza dos morros, a vista maravilhosa que se tem de um boteco no alto da colina de onde se vê Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Leblon, Dois Irmãos, Pedra da Gávea e mar. Quer mais? Pois, por uma vista mais limitada do que essa, pagam-se milhões nesta cidade! Lembrei que fui convidada por Guti, o grande artista mentor do vitorioso projeto de teatro Nós do Morro, lá do Vidigal, a dar uma oficina lá. No celeiro de onde saiu Roberta Rodrigues, Jonathan Haagensen e outras estrelas do filme Cidade de Deus. Dei aula de poesia falada para aqueles jovens atores em formação.

Na Rocinha nunca subi, em 25 anos de Rio de Janeiro. Chocante! Na tela, enquanto o meu pensamento viaja na inclusão, no desfazer da cidade partida que essa pacificação tem trazido, aparece um pai trabalhador dizendo assim: "Pra mim, é um alívio, um milagre o que está acontecendo. Eu já não aguentava mais. Sou trabalhador, luto muito para sustentar a minha família, para não faltar nada. Me sinto um bom brasileiro, mas um dia meu filho de 5 anos me perguntou, vendo tantos traficantes na rua, circulando com o seu armamento: "Pai, por que todo mundo tem arma e só a gente não tem? Respondi que era porque a nossa família é de trabalhador, mas nessa hora ficou parecendo que o certo era errado e o errado era certo". O pai ficou emocionado. E eu, que não sou presidente nem nada, comecei a chorar.-Elisa Lucinda

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